terça-feira, 8 de abril de 2014



PONTO DE VISTA
*Joaci Góes

Liberdade Incondicional

Pior do que uma tortura ou uma execução política são duas torturas ou duas execuções políticas, e assim por diante.
Durante os vinte e um anos de duração do regime militar, iniciado em 1964, como resposta ao processo de implantação de uma ditadura sindical, liderada pelo próprio presidente João Goulart, não vacilei em me opor aos excessos liberticidas que traumatizaram a alma brasileira, sofrendo, como resposta, retaliações no plano da cidadania e de minhas atividades profissionais. Assinei manifestos, protestei contra prisões arbitrárias, cobrei a presença de desaparecidos, enfrentei a censura, acolhi proscritos. 

Faria tudo de novo.
Hoje, quando isso é passado, causa-me inconformismo, perplexidade e tristeza constatar que a maioria dos que, corajosamente, se levantaram contra a ditadura militar e ainda cobram mudanças na Lei da Anistia para punir torturadores, mantêm um silêncio sepulcral relativamente a crimes da mesma natureza quando praticados pelas chamadas ditaduras de esquerda, a mais notória das quais é a que sustenta o feudo e a farra na infeliz Cuba dos irmãos Castro.

Como os fatos são teimosos, como advertiu Agatha Christie , vamos aos números da violência institucional, Brasil e mundo afora.

Segundo historiadores da ultima ditadura brasileira, com Nilmário Miranda, Carlos Tibúrcio, Emiliano José, Jacob Gorender, dentre outros, o número de mortos e desaparecidos oscila entre um mínimo de 300 e um máximo de 1150. Para efeito de nosso raciocínio, vamos considerar que a verdadeira cifra é a maior.

Sem mencionar os holocaustos ocorridos nos vizinhos Chile e Argentina, em passado recente, as dezenas de milhões na União Soviética e na China, respectivamente, sob Stalin e Mao, os maiores assassinos da história, e os ainda em curso na Coréia do Norte, restrinjamos nosso quadro comparativo aos crimes praticados no Brasil, de 200 milhões de habitantes, e na Ilha caribenha de 11 milhões de almas. A conclusão é de estarrecer.

Para Armando M. Lago, Presidente da Câmara Ibero-Americana de Comércio e consultor do Stanford Research Institute, há dois anos dedicado a recensear as vítimas da ditadura castrista, os números são os seguintes : fuzilados : 5.620. Assassinados extrajudicialmente : 1.163. Presos políticos mortos no cárcere por maus-tratos falta de assistência médica ou causas naturais: 1.081. Guerrilheiros anti-castristas mortos em combate : 1.258. Soldados cubanos mortos em missões no exterior : 14.160. Mortos ou desaparecidos em tentativas de fuga do país : 77.824. Civis mortos em ataques químicos em Mavinga, Angola : 5.000. Guerrilheiros da Unita mortos em combate contra tropas cubanas: 9.380. Total : 115.127.

Recorde-se que Fidel Castro empolgou o povo cubano ao atribuir 3.000 mortes ao seu antecessor Fulgêncio Batista!

Qualquer desses algarismos, isoladamente considerados, demonstra que a violência contra a liberdade em Cuba foi muitas vezes maior do que no Brasil, sobretudo quando levamos em conta que a população cubana representa, apenas, 6% da brasileira. O mais grave é que tanto sofrimento se revelou inútil diante do rotundo fracasso da economia cubana, hoje , o segundo país mais pobre do continente americano, acima tão somente do miserável Haiti.

Como se tudo isso não bastasse, essas mesmas vozes grandiloquentes mantêm seu silêncio ominoso diante da postura ancilar do governo brasileiro à escravidão dos médicos cubanos que, compulsoriamente apartados de suas famílias, aceitaram vir para o Brasil com salários miseráveis.

Parodiando o filme de Jonathan Demmi, O Silêncio dos Inocentes, baseado no livro Homônimo de Thomas Harris, é chegado o momento de produzir texto com o título que define esta indefensável ambiguidade dos que querem legitimar os crimes das ditaduras de esquerda : Os Silêncio dos Coniventes.

Abaixo toda violência contra a liberdade, venha de onde vier!

*Joaci Góes é empresário e escritor, membro da Academia de Letras da Bahia. 
 Email: joacegoes@uol.com.br"

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