Coluna A Tarde: Dilma perdeu a bússula
Por Samuel Celestino
A verdade é que a
presidente Dilma Rousseff, na época em que presidiu o Conselho
Administrativo da Petrobras, não leu o que deveria ler, ou preferiu se contentar com
a súmula de um contrato importantíssimo, o da compra da refinaria
Pasadena, no Texas, sem exigir que lhe fosse entregue o contrato
completo. O resultado é que a gestora imaculada errou, e passou a ser
partícipe do mega prejuízo sofrido pela Petrobras, em torno de US$1
bilhão. Mais do que isso, ao se defrontar com a verdade, enrolou-se ao
alegar que existia um erro técnico jurídico no contrato do qual ela não
teve conhecimento. Quis, com a “explicação”, livrar-se do problema. Não
teve conhecimento porque não quis e, com isso, levou a crise inteirinha
para dentro do Palácio do Planalto, num equívoco em que demonstra que
continua a ser uma espécie de “noviça rebelde”.
Para Lula o equívoco passou dos limites. Dessa vez, sem passar a mão sobre a cabeça da sua pupila, disse, ao seu modo, que ela deu um “tiro no pé e levou a crise para o dentro do Palácio do Planalto, ao invés de deixá-lo na Petrobras”. Fez mais: não foi hábil ao tentar explicar da forma como o fez, tendo ela própria redigido a nota precipitadamente, na qual imaginava se safar do imenso problema. Errou. De qualquer maneira, a responsabilidade do brutal prejuízo da estatal iria passar por ela, como de fato acontece, e pelos conselheiros entre os quais os então ministros Antônio Palocci e Jaques Wagner. Os conselheiros acompanharam o voto de Dilma, na condição de presidente do colegiado.
O ex-presidente da Petrobras, o secretário do Planejamento José Sérgio Gabrielli, discordou dos argumentos de Dilma e fulminou ao afirmar que as cláusulas que não estavam na síntese do contrato são normais, comuns, e constantes em todos os contratos internacionais. Não foi por aí, então, que ocorreu o erro. Ocorreu, sim, quando o Conselho aprovou a compra, quando poderia vetar os 50% da refinaria ofertados por uma empresa belga que, no ano anterior, a adquiriu por meros (para o caso) US$46 milhões. Se fosse em outros tempos, diria que a Petrobras simplesmente caiu numa espécie de “golpe do paco”, que eram aplicados em Salvador quando não havia a violência que hoje se observa. Bons tempos aqueles do “golpe do paco”...
O fato é que a presidente Dilma está num corredor sem saída, que ela própria construiu justo em ano eleitoral, o que leva a crer que o prejuízo sofrido pela Petrobras será utilizado à larga na campanha presidencial. Os candidatos oposicionistas ganharam um discurso político, indefensável, complementado pelo “tiro no pé” lembrado por Lula ao opinar sobre a tentativa de Dilma ao explicar o que ocorreu, desmentida por Gabrielli, que era, então, presidente da estatal. Aliás, numa só tacada, a presidente lançou a culpa no diretor de assuntos internacionais da Petrobras, que, aliás, no dia subsequente à explicação pegou um avião e foi passear na Europa para não ouvir os gritos dos acionistas da empresa.
O caso, denunciado pelo jornal Estado de S.Paulo cresceu e tomou vulto rápido, quase imediato, impregnou o Congresso Nacional, onde houve muito discussão e um discurso (o primeiro de campanha) de Aécio Neves, da Tribuna, responsabilizando a presidente. Enquanto isso, fala-se em CPI, o que dificilmente acontecerá. Mesmo que não, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União apuram o caso. Não vai dar para sequer tentar engabelar, a não ser que as três instituições se entendam, o que não se pode, de forma alguma, supor.
O certo, por ora, é que a principal empresa brasileira, que já esteve num patamar invejável no exterior, se fragiliza, se endivida, mesmo com a riqueza do pré-sal. Enfim, o principal símbolo nacionalista do País desaba. Enquanto isso a presidente Dilma está acossada. Já cometeu vários erros. Se Lula lhe der conselhos, como costuma fazer, certamente a ela dirá que fique com a boca fechada porque se falar poderá acertar o outro pé que não foi atingido pelo primeiro tiro. E se isso acontecer imagina-se que ela perca a condição de se locomover. A não ser em cadeira de rodas.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no Jornal A Tarde deste domingo (23)
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