Por IPTU menor, com empurrãozinho da OAB, ricos derrubam qualquer prefeito em Salvador
em
Por telefone, para assunto acadêmico na Universidade de São Paulo,
entrevistei Jorge Hage nos idos dos anos 90. Ele já residindo em
Brasília, depois de aprovado em concurso público federal. Do outro lado
da linha, ouvi a voz magoada de um homem que se dizia vítima das
perseguições sofridas por parte dos grupos de pressão e de interesses à
época em que, prefeito biônico de Salvador (1975-1977), teria ousado
fazer justiça social pela via tributária utilizando-se, para isso, um
ajuste no IPTU.
Hoje esse baiano, nomeado para comandar a capital
pelo governador
Roberto Santos, por sua vez nomeado
pela ditadura militar, é
ministro-chefe da Contoladoria
Geral da União. Após ser enxotado de sua
terra natal.
À época do meu telefonema ele tinha experimentado um longo período de ostracismo, por conta da feroz campanha que sofreu de ricos detentores de propriedades imobiliárias e seus acólitos em Salvador, inclusive setores poderosos da mídia. Razão? Ousara mexer no bolso de quem deveria pagar mais Imposto Predial e Territorial Urbano.
Roberto Santos, que dentro da estrutura do regime militar já era
fustigado por Antônio Carlos Magalhães (a quem sucedeu e por quem seria
sucedido), entregou na bandeja a cabeça de Hage, demitindo-o do cargo de
prefeito como um doidivanas. Voltou-se atrás do aumento, aplacando a
ira dos que não aceitam perder o privilégio de somente pagar o IPTU que
acham ser do seu agrado.
A presente grita contra o reajuste do IPTU executado pelo neto daquele ACM – executado, sim, porque é a Câmara de Vereadores, representante do povo na feitura das leis, que o aprovou – é o retorno daqueles que não foram.
Mesmo a seção local da Ordem dos Advogados, essa instituição
corporativa que se deixou recentemente presidir por Saul Quadros, por
longo tempo um moleque de recados do ex-prefeito e empresário Mário
Kertèsz – a quem a OAB, se séria fosse, processaria pelo rombo milionário
que impunemente deixou aos cofres públicos quando prefeito que tinha na
chefia da Procuradoria Geral justamente esse Saul -, essa OAB, para não
perder a tradição, junta-se aos mesmos privilegiados.
É no mínimo interessante assistir essa espécie de antropofagia no
seio dessa gente que pode pagar a conta mas que se acostumou a isenções,
anistias e a tirar o couro dos miseráveis que se amontoam nas favelas,
morros e comunidades degradadas. Até quando vão continuar a sangrar um
dos seus?
Das hostes das elites de mando provém o prefeito atual. E, ao seu lado, está a pior espécie de animais políticos, donatários de capitanias hereditárias como Geddel Vieira Lima e José Carlos Aleluia, para ficar num exemplo. (O outro lado do espectro oposicionista mira-se no mesmo espelho).
Cada passo dado pelo prefeito faz parte de um cálculo político de
quem, na democracia atual, precisa apagar a imagem negativa do avô e
ampliar a sua base de apoio eleitoral para vôos
futuros. Peitará as escravagistas Associação Comercial e sindicatos dos
imobiliárias, os clubes e os rotaris da vida? Enfrentará os assacadores
por detrás dos microfones e os Martins Catharinos da província, quiçá
os “intelectuais” orgânicos das classes privilegiadas às quais pertence?
O fato de ter sido eleito por um partido denominado Democratas (DEM), criado das sobras do antigo regime ditatorial que destruiu a frágil democracia brasileira entre 64 e 1985, faz com que o prefeito de Salvador, ACM Neto, tenha mesmo de pagar caro pela derrota que impôs, pelo voto, ao condomínio político que hegemoniza o poder no Brasil e no Estado da Bahia, tendo à frente o partido cujos alguns dos principais líderes encontram-se na cadeia por corrupção e formação de quadrilha (PT).
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