TJ-BA questiona sanidade de juiz que expulsou advogado de gabinete com SBP
por Cláudia CardozoFoto: Luiz Machado / ABr
O pleno do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) determinou,
nesta quarta-feira (29), a instauração de um processo de aposentadoria
por invalidez do juiz Luís Roberto Cappio, com afastamento das funções,
até o final do julgamento do processo administrativo disciplinar
instaurado contra ele. O magistrado responde ao processo por "falta de
urbanidade" com servidores, advogados e promotores na comarca de
Euclides da Cunha, no nordeste baiano. O pleno, por maioria, aprovou o
voto do presidente em exercício do TJ, desembargador Eserval Rocha,
diante de um incidente de sanidade mental instaurado para avaliar a
saúde psíquica de Cappio. De acordo com Eserval, o comportamento de
Cappio não é condizente com a magistratura. Relatos dão conta de que o
juiz promove agressões verbais, fala palavras de baixo calão e utilizou
um spray inseticida – da marca SBP – para expulsar um advogado de seu
gabinete. A defesa do juiz, em resposta ao incidente de sanidade,
afirmou que a decisão do tribunal em submetê-lo ao exame é “desprovida
de amparo moral, técnico e legal" e que a determinação atinge a “imagem,
honra e dignidade do magistrado decorrente do afastamento das funções”.
O advogado ainda diz que Cappio se submeteu “voluntariamente” ao
“constrangedor” exame conduzido por uma psiquiatra. O parecer da perícia
contratada por Cappio afirma que ele “não apresenta sinais ou sintomas
psicopatológicos em seu histórico, ou avaliados em seu exame psíquico”,
por isso “apresenta sanidade mental normal, de acordo com os principais
critérios de normalidade”.
O laudo da defesa diz que o juiz apresenta "traços de
personalidade", demonstra “elevados valores éticos” e que não há sinais
clínicos que possam indicar alguma instabilidade psicopatológica de
humor, além de não ter encontrado indicativos de que ele tenha qualquer
dificuldade no controle de impulsos. O parecer ainda aponta que o juiz,
como qualquer pessoa, pode “exaltar-se frente a uma determinada questão
que, por ventura, se veja mais emocionalmente envolvido”. Diante do
relatório médico, a defesa de Cappio pediu o arquivamento do pedido, e
que as representações não tem qualquer respaldo. Ainda disse que foi
juntado aos autos moção de apoio de advogados da região, assinada pelo
advogado que teria sido vítima do spray, e que não procede a informação
de que uma servidora teria urinado na presença do sindicado. Assevera
ainda que o desentendimento do juiz com promotores foi pontual e que
sempre trabalhou bem com os membros do Ministério Público, polícia e
advogados. Até então, Cappio só havia sido alvo de um processo
administrativo por ter determinado, em 2004, o afastamento de um
prefeito e vice-prefeito de Teofilândia. A defesa ainda diz que o juiz
não pode ser tachado de insano pelo que fala. Para o advogado, da mesma
forma, então, poderia se aduzir que o ministro Joaquim Barbosa e a
ex-ministra Eliana Calmon também poderiam sofrer algum tipo de
insanidade.
Durante a votação, a desembargadora Rosita Falcão, ao abrir a
divergência, disse que o entendimento de Eserval Rocha contraria todo
relatório do perito e que “tudo o que foi colhido até agora é pouco para
abrir um incidente de sanidade”. Ela diz que Cappio procurou muito dos
desembargadores para conversar e que ele é um “rapaz lúcido”. “Ele é um
rapaz inteligente, não precisa passar por essa humilhação. Não tem
sentido ele ser submetido a um processo desse”, defendeu Rosita. Ela
ainda frisou que fatos como esses, imputados ao magistrado, fazem parte
do “folclore forense” e que vários juízes fizeram coisas piores e não
foram submetidos a incidentes de sanidade. O desembargador Nilson
Castelo Branco acompanhou o posicionamento do presidente do TJ e disse
que “não há informação oficial da Corte de que Cappio é insano”. O
magistrado disse que apenas se investiga se Cappio tem rigidez foral ou
não para o cargo que exige serenidade e prudência. O desembargador
Clésio Rosa votou com a divergência e disse que no TJ baiano “existem
muito mais malucos do que Cappio”. Para ele, o juiz está sendo “vítima
da conjuntura”. Eserval Rocha reiterou que o juiz deve ser o maior
interessado no exame, para que o incidente chegue ao fim, já que é
temerário arquivar o processo agora e depois surgir alguma suspeita de
que o juiz possa tenha problema de ordem mental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário