domingo, 29 de dezembro de 2013


Belluzzo vê Dilma contra a parede: O governo se comunica mal

“Já foi dito que os Bourbons não esqueciam de nada, mas não aprendiam nada. Os economistas são descendentes dos Bourbons. Não se lembram de que essas crises foram determinadas independentemente da situação da macroeconomia”.

Luiz Gonzaga Belluzzo
Belluzzo foi professor da presidenta Dilma, na Unicamp
Belluzzo foi professor da presidenta Dilma, na Unicamp

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, de 71 anos, catedrático da Universidade de Campinas (Unicamp) e ex-professor da presidenta Dilma Rousseff, aposta que o empresariado brasileiro, mesmo com severas críticas ao governo petista, tende a apoiar a campanha à reeleição, enquanto segue com o objetivo de manter a atual administração política e econômica do país em “uma camisa de 11 varas (dificuldade extrema, da qual é difícil ou impossível sair, segundo o dicionário Aurélio)”. Belluzo, em uma longa entrevista ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, lembra que há um forte componente ideológico imposto por setores dominantes do mercado financeiro, o qual tem ganhado terreno frente às teses, supostamente desenvolvimentistas, defendidas pela equipe econômica do governo.

Segundo Belluzzo, apesar da política de concessões da presidenta Dilma às empresas privadas, “o mercado acha que ela está à esquerda de Lula. Dizem que o Lula era legal porque conversava. Dizem que ela é a rabugenta, intervencionista e o diabo. A presidenta, coitada, herdou esse negócio e é muito difícil se desvencilhar disso. Ela está seguindo mais ou menos os cânones que são dominantes na percepção da economia. Se você quer dizer que ela deu uma recuada, isso significa que ela deu uma recuada. Deu uma recuada diante da correlação de forças”.

– Ela está lá meio desconfortável, fazendo o que ela pragmaticamente está vendo que deve fazer, não o que ela gostaria. Nem acho que a questão se coloque como mais ou menos intervenção. Se se tem um preço como esse, o câmbio, muito fora do lugar, numa situação internacional como essa, vai ter dificuldades de reativar essa economia. São duas as oportunidades que ela tem: acelerar as concessões e melhorar o investimento em infraestrutura, com efeito sobre a indústria, e o Pré-Sal.

A menos que a China comece a crescer a não sei quanto. Coisa que não está no horizonte, porque eles estão mudando o modelo de crescimento deles – afirma Belluzzo, na entrevista. “O governo se comunica mal”. Se Dilma é uma decepção ou está dentro do esperado por investidores, Belluzzo responde: – Ela está fazendo o que pode, coitada. O negócio é difícil. Sou suspeito porque me considero amigo dela; fui professor dela. Conversei com ela no início do ano. Ela nem sempre gostou das minhas opiniões durante o almoço. Ela tem as dela, com toda razão. Mas eu gosto dela. Acho que está fazendo o que pode. Esse negócio do tabelamento da taxa de retorno deu a impressão de uma intervenção. Pegou mal no mercado e era desnecessário. Produziu um desgaste muito grande, infelizmente, para ela. A partir daí o pessoal já projetou mil coisas, intervencionismo… Quase disseram que ela era uma réplica da política dos bolivarianos. Tem cabimento fazer essa comparação? Nada a ver.

A pressão, no entanto, faz parte do jogo de força política, segundo Belluzzo:
– Sim, claro. É isso que eu estou dizendo o tempo inteiro. Estão botando ela contra a parede. Ela está tentando, à maneira dela, resistir. O governo se comunica mal.

A pressão sobre Dilma, no entanto, não significa que o empresariado migrará da campanha à reeleição para a de outros candidatos, como Eduardo Campos, Marina, Aécio: “Ninguém joga dinheiro fora”.

– É menos atrito e mais reclamação É mais queixa do que um atrito. Eles já se deram conta de que uma coisa é a relação de forças no âmbito da economia; outra coisa é a relação de forças da política. Eles se deram conta de que ela vai ganhar. Eles vão compor com ela, e ela vai compor com eles, discutir. Isso é natural. Muitos têm ido a reuniões com eles (os candidatos da oposição). O Eduardo Campos é um político muito qualificado, um jovem que tem muito futuro, muita chance. Não agora. Ele tem compromissos com essa coisa do desenvolvimento. Está no DNA dele. Ele recebeu a herança do avô (Miguel Arraes). Agora é difícil ganhar dela. Sobretudo da candidata do Lula. Ela, pelas suas próprias razões, e ela é a candidata do Lula – lembra Belluzzo.

Quanto aos indicadores sociais, devido à política de comunicação da presidenta Dilma, Belluzzo acredita que “as pessoas falam pouco de coisas importantes no governo dela, como o Minha Casa, Minha Vida, o avanço do Luz Para Todos, da continuidade do Bolsa Família e do avanço das políticas sociais. Isso pega a maioria da população”.

– Dizem que as pessoas vão votar porque receberam uma esmola do governo. Nunca vi uma coisa tão bárbara. O que acham? Que o povo deve ficar no miserê, e o governo não deve fazer nada? – questiona.

Embora a oposição diga que os indicadores sociais tenham parado, segundo Belluzo, trata-se de uma questão de ponto de vista pois a realidade é que, “na margem, estão crescendo menos”.

– Está melhorando menos, porque a melhora foi muito intensa naquele período (do ex-presidente Lula). É muito clara a sensação das pessoas de que elas melhoraram. No interior do Brasil, a sensação é maior. Tenho a Facamp, que é privada. Lá, os meninos que têm o Prouni escrevem: Agradeço ao presidente Lula e à presidente Dilma pela oportunidade que me deram. Isso pega nas famílias. Esse ódio que as pessoas tem… Uma fração da sociedade brasileira tem rejeição por essas pessoas, tem ódio das políticas sociais que foram levadas a cabo, acham que é assistencialismo. Diante da situação social brasileira, que é uma desgraça e que vem de muitos anos, é melhor que a pessoa tenha o que comer, possa entrar numa universidade, mesmo que seja privada e de baixa qualidade, que elas se qualifiquem um pouco. Ou é melhor que fiquem jogadas às baratas? Tá bom, ela (Dilma) está com dificuldade de levar adiante esse projeto, não está fácil. Mas eu não creio que ela tenha abandonado esse núcleo central. Muito ao contrário. Ela avançou um pouco nessa questão do Bolsa Família e de outros benefícios. A economia não cresce, não resolvemos o problema da indústria. E se não o resolvermos, as coisas voltam para trás. É preciso dizer que as coisas voltam para trás, retrocedem – alerta.

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