Por Mário Lima
Quem já não ouviu dizer que é graveto que derruba panela? Apesar da
antiguidade desse adágio, tem gente que ainda não lhe dá crédito. E quem
mais desacredita é justamente a panela.
O PT vem decantando em versos e prosa os seus dez anos de governo, como
se o País voasse em céu de brigadeiro. Seus ouvidos são mais herméticos
que os dos mercadores as críticas a sua gestão econômica. E de sua
ética, disso nem se fala.
Pois bem, de uma forma surpreendente, a sociedade que parecia
adormecida, ganhou as ruas e está demorando a voltar pra casa. Rompeu-se
a armadura da cooptação das organizações sociais com a qual o Senhor
do “Nunca Antes” se vestiu e vestiu todo o seu secto. Se ainda é cedo
para dizer que o rei está nu, é fato que a sua indumentária subiu no
telhado.
Com o MPL nas ruas bradando por tantas causas, com força para alterar a
tendência do Congresso, como no caso da PEC 37, o Governo teve que ir a
janela. E aí viu que aquilo que inquieta a turba não está em uma moeda
de vinte centavos. Os baixos índices de crescimento, a volta da
inflação, o começo da diminuição do nível de empregabilidade, retira do
cenário aquela sensação de bem-estar econômico que até agora nutriu a
popularidade da Presidente, a despeito de tantas e variadas mazelas de
sua Administração.
Numa manobra divercionista, sua Exa. lança a proposta de uma
Constituinte específica para fazer a reforma política. D. Dilma queria e
conseguiu botar um bode na sala.
Do ponto de vista jurídico, essa proposta é inconstitucional, como já
apontaram homens como José Afonso da Silva. Quanto a sua originalidade,
trata-se de matéria requintada, uma vez que na campanha de 2010, o tema
foi agitado, inclusive prometida pela então candidata do PT. E assim,
sob o ângulo moral, revela-se todo o seu oportunismo, posto que, a
despeito de contar com uma base congressual “como nunca antes” na
história republicana, a Presidente não moveu uma palha em favor da
reforma política, muito embora seja senso comum o esgotamento do nosso
sistema partidário/eleitoral.
A presidente desejava uma cortina de fumaça para ofuscar a visibilidade
da situação econômica e social do País. Mas as glândulas do caprino
exalaram os odores de sua incapacidade de dialogar com a sociedade,
desarmada do carisma do padrinho que, por sinal, está calado. Revelou as
divergências e fragilidades da base governista e, o mais grave de tudo,
um forte desapreço por nossa Constituição. Deste modo, o cheiro do
bode, da sala, está indo todo para a cozinha e, como é um pai do
chiqueiro, e os habitantes do palacete estão acostumado as fragrâncias
francesas, está difícil quem possa ir desligar a panela de pressão.
Enquanto isto, o povo continua na rua protestando e reivindicando uma
infinidade de coisas. Como soe acontecer, se o barco começar a fazer
água, os ratos vão embora. Ao pobre do bode restou a missão de escorar a
panela, quando ele também queria ir a praça dizer que esse Governo
pouco ou nada fez pelo nosso semi-árido.
*Mário Lima é advogado e procurador do Estado
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