segunda-feira, 1 de julho de 2013

BODE NÃO ESCORA PANELA

Por Mário Lima

Quem já não ouviu dizer que é graveto que derruba panela? Apesar da antiguidade desse adágio, tem gente que ainda não lhe dá crédito. E quem mais desacredita é justamente a panela.
 
O PT vem decantando em versos e prosa os seus dez anos de governo, como se o País voasse em céu de brigadeiro. Seus ouvidos são mais herméticos que os dos mercadores as críticas a sua gestão econômica. E de sua ética, disso nem se fala.  
 
Pois bem, de uma forma surpreendente, a sociedade que parecia adormecida, ganhou as ruas e está demorando a voltar pra casa. Rompeu-se a armadura da cooptação das organizações sociais com a qual o  Senhor do “Nunca Antes” se vestiu e vestiu todo o seu secto. Se ainda é cedo para dizer que o rei está nu, é fato que a sua indumentária subiu no telhado. 
 
Com o MPL nas ruas bradando por tantas causas, com força para alterar a tendência do Congresso, como no caso da PEC 37, o Governo teve que ir a janela. E aí viu que aquilo que inquieta a turba não está em uma moeda de vinte centavos. Os baixos índices de crescimento, a volta da inflação, o começo da diminuição do nível de empregabilidade, retira do cenário aquela sensação de bem-estar econômico que até agora nutriu a popularidade da Presidente, a despeito de tantas e variadas mazelas de sua Administração. 
 
Numa manobra divercionista, sua Exa. lança a proposta de uma Constituinte específica para fazer a reforma política. D. Dilma queria e conseguiu botar um bode na sala.
 
Do ponto de vista jurídico, essa proposta é inconstitucional, como já apontaram homens como José Afonso da Silva. Quanto a sua originalidade, trata-se de matéria requintada, uma vez que na campanha de 2010, o tema foi agitado, inclusive prometida pela então candidata do PT. E assim, sob o ângulo moral, revela-se todo o seu oportunismo, posto que, a despeito de contar com uma base congressual “como nunca antes” na história republicana, a Presidente não moveu uma palha em favor da reforma política, muito embora seja senso comum o esgotamento do nosso sistema partidário/eleitoral.
 
A presidente desejava uma cortina de fumaça para ofuscar a visibilidade da situação econômica e social do País. Mas as glândulas do caprino exalaram os odores de sua incapacidade de dialogar com a sociedade, desarmada do carisma do padrinho que, por sinal, está calado. Revelou as divergências e fragilidades da base governista e, o mais grave de tudo, um forte desapreço por nossa Constituição. Deste modo, o cheiro do bode, da sala, está indo todo para a cozinha e, como é um pai do chiqueiro, e os habitantes do palacete estão acostumado as fragrâncias francesas, está difícil quem possa ir desligar a panela de pressão.
 
Enquanto isto, o povo continua na rua protestando e reivindicando uma infinidade de coisas. Como soe acontecer, se o barco começar a fazer água, os ratos vão embora. Ao pobre do bode restou a missão de escorar a panela, quando ele também queria ir a praça dizer que esse Governo pouco ou nada fez pelo nosso semi-árido.

*Mário Lima é advogado e procurador do Estado

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