LOMANTO JR: CINQUENTENÁRIO DE UM MARCANTE GOVERNO
Por Lafayette Pondé Filho
Ex-governador Lomanto Júnior |
Há 50 anos tomava posse no Governo da
Bahia Antonio Lomanto Júnior, fato digno de registro pelo quanto iria o
Estado experimentar ao escolher um administrador atuante e cheio de
ideias inovadoras. “Gente nova / Sangue novo”, como dizia o jingle da
campanha, aos 38 anos foi o Governador eleito mais jovem que a Bahia já
teve, e disso mesmo resultaria o ímpeto, o entusiasmo, e a vontade de
realizar.
Chegou ao governo coroando a trajetória crescente do político e
administrador que vai galgando posições pelo natural reconhecimento de
seu trabalho, evoluindo como vereador, prefeito de Jequié e deputado
estadual previamente à chefia do Executivo.
O grande acervo de realizações deveu-se à sua iniciativa e também à
capacidade de escolher auxiliares de altíssimo nível, a exemplo de nomes
como João Eurico Matta, Boris Tabacof, Jorge Calmon, Paulo Almeida,
Renato Simões, Lelivaldo Brito e Luiz Braga, dentre outros de igual
expressão. Foi o único governo até hoje a dispor de um “conselho de
notáveis”, tal qual os Conselhos de Administração das grandes
corporações, que na prática era uma assessoria informal a assistir o
Governador em diretrizes e projetos de grande envergadura.
Lomanto correspondeu plenamente à expectativa: por consciência, e pela
vivencia e liderança no movimento municipalista - foi de sua
inspiração, aliás, a criação da União de prefeitos, o primeiro passo
seria implantar um governo voltado prioritariamente para o interior,
visando obras de infraestrutura e integração de regiões, no que
resultaria belo acervo de escolas, hospitais, linhas de transmissão de
energia e obras rodoviárias de grande expressão. Para não ser extenso, a
ponte Ilhéus/Pontal e a rodovia Feira / Juazeiro já sintetizam a
grandiosidade nessa área.
Ocupando o cargo num momento em que a economia baiana se transformava,
em tempo recorde implantou o CIA- Centro industrial de Aratu,
aproveitando o exato momento da oferta de recursos da SUDENE para
novas indústrias. Para maior suporte financeiro capacitou o BANEB ao
novo panorama, lançando-o inclusive no mercado internacional como
grande repassador de recursos em moeda estrangeira, e criou o Banco de
Desenvolvimento do Estado, posteriormente
denominado de Desenbanco,
hoje funcionando como Desenbahia, na condição de Agência de Fomento.
A reforma administrativa – pioneira no país – permitiu melhor
sistematizar e racionalizar a máquina pública. Atuando em parceria com a
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, a missão,
confiada ao seu chefe da Casa Civil, Prof.João Eurico Matta, em tempo
recorde permitiria se obter inovações e funcionalidade,
reestruturação essa realizada sob tamanha perfeição que persiste até
hoje em suas linhas básicas, com os naturais ajustes que a modernização
iria demandar. Dentre as inovações merece destaque a criação da
Procuradoria Geral do Estado, o que permitiu à administração dispor
de base jurídica segura à execução de seus projetos e à defesa do
próprio Estado.
Fato marcante da administração de Lomanto, talvez desconhecido do
grande público atual, é que somente a partir de seu governo é que o
Estado passaria a pagar pontualmente o seu funcionalismo, antes sujeito a
eventuais pequenos atrasos. Para melhor atender aos servidores foi
criado o IAPSEB - Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Servidores
do Estado da Bahia, fruto da integração dos serviços prestados pelo
PAMESE e pelo Montepio do Estado.
Sensível às camadas mais desassistidas é de se lembrar que a Defensoria
Pública teve as primeiras sementes plantadas na gestão Lomanto
Júnior, bem como a Urbis – inicialmente denominada de Cooperativa
Habitacional, que viria a proporcionar cerca de 90 mil unidades
habitacionais ao longo de sua existência.
A reconstrução do Teatro Castro Alves, consumido por um incêndio em
1958, retrata a sua preocupação com a cultura, que de igual modo foi
incentivada pela Imprensa Oficial da Bahia (hoje EGBA) ao lado de
outras ações em favor da criação intelectual.
Consciente que o turismo deveria ser profissionalizado, o setor obteria
o primeiro órgão no organograma oficial com o Departamento de Turismo,
que posteriormente se transformaria na Bahiatursa.
Ao registrar o evento, supera minha natural suspeição de amizade e da
condição de seu ex-auxiliar direto o magnífico acervo deixado por
Lomanto Jr., valendo igualmente para simbolizar o reconhecimento de seu
operoso governo a escolha ao final do mandato como Administrador do
Ano pelos alunos da Escola de Administração da Ufba - sem nenhuma
retribuição, frise-se, e a espontânea consagração popular que lhe
foi tributada às portas do Palácio Rio Branco, no último dia de sua
gestão, homenagem pública nunca vista a um governante, secundada por
seguidas eleições para a Camara Federal e ao Senado. Confirmando,
aliás, que o reconhecimento perdura pelos tempos afora quando se
deixa marcas de boa gestão e probidade, 40 anos depois, na sede da
União de Prefeitos, Lomanto voltaria a ser aclamado por cerca de
mil pessoas, com uma singular particularidade: da totalidade dos
presentes apenas dois ou três participaram de seu governo, a maioria
sequer era nascida àquela época, e o homenageado não estava exercendo
nenhum cargo público.
Decorridos 50 anos, nesse triste quadro atual de ineficiência e
desmandos por que passa o país – hoje um verdadeiro deserto de homens e
de ideias, como preconizava Oswaldo Aranha há quase um século, o nome
de Lomanto Jr. será sempre lembrado como referencia altamente positiva
de bons resultados na administração pública.
Que o exemplo possa frutificar!
* Lafayette Pondé Filho é ex-oficial de gabinete e sub-chefe da Casa Civil do governo
Lomanto Jr.
Excelente lembrança do Dr. Lafayette Pondé Filho. Sou também desse período. A sua expressão de gratidão ao governador Lomanto Júnior permanece presente em todos os que conviveram com ele e o seu governo. Ele foi o mais brilhante e melhor governador que a Bahia já teve, comparado apenas aos grandes chefes do Executivo baiano, como Otávio Mangabeira, por exemplo. Os que o sucederam distanciaram-se integralmente do perfil democrático e de confiança implantado no Estado e na memória do povo pelo governador Lomanto Júnior, inclusive o atual. Associo-me ao ex-oficial de gabinete e sub-chefe da Casa Civil do governo Lomanto Júnior, o Dr. Lafayette Pondé Filho.
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