GRÃO MESTRE DA GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO
ESTADO DA BAHIA CONCEDE ENTREVISTA AO BAHIA NOTÍCIAS
Grão-mestre
da Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia (Gleb), Jair Tércio começou o
mandato em 2012 e ficará à frente do comando estadual da Maçonaria até,
pelo menos, 2015. A associação fraternal, que enfrenta divergências das
igrejas católica e protestante por conta dos mistérios, tem parte de
seus preceitos abertos em entrevista ao Bahia Notícias, como as
determinações de busca "pela verdade” e do “deus interior”, assim como a
atuação histórica ao longo dos séculos. “Nada, absolutamente nada,
nesse planeta foi feito sem a égide maçônica. Todo e qualquer movimento
teve um maçom encabeçando o trabalho”, apontou. Tércio pretende, em
breve, iniciar ao menos um em cada mil habitantes do estado na
instituição. “É um trabalho hercúleo. Mas o maçom gosta disso, porque o
maçom é sensível, e o que é difícil é feito para os sensíveis”,
manifestou-se. O grão-mestre opinou também sobre polêmicas da
atualidade, como o projeto da “cura gay” do deputado federal Marco
Feliciano (PSC-SP), que classificou como advindo de pessoas de “pouca
inteligência”. “Não existe, na Maçonaria, preconceito”, considerou.
Segundo ele, a fraternidade já havia produzido estudos sobre a Aids
antes de a enfermidade assolar o planeta. “Teve que aparecer a Aids para
tomar conta do sexo desbravado. Hoje estamos com o crack tomando conta
da humanidade. Sugerimos que também deva aparecer outra doença para
tomar conta disso, porque nós não temos mais tempo para resolver”,
previu.
Fotos: Tiago Melo / Bahia Notícias
Fotos: Tiago Melo / Bahia Notícias
Bahia Notícias – O que é a Maçonaria? Uma religião, uma sociedade secreta? Como o senhor a define?
Jair Tércio – A
Maçonaria é uma associação fraternal construída por homens livres de
bons costumes que primam pelo virtuosismo e que vivem em fraternal
relação com base nos princípios da igualdade, liberdade e fraternidade.
BN – Mas há algum tipo de culto religioso ou vínculo com um criador?
JT – Não.
Somos uma sociedade fraternal, mas a Maçonaria pode ser considerada
como a sociedade mais bem preparada para que possa realizar um desígnio
da criação, que é a de tornar o homem cada vez mais religioso. Não a uma
religião, mas a um processo de religiosidade.
BN
– A chamada “Maçonaria Especulativa” surgiu em 1666, na Inglaterra, em
meio à reforma protestante. O protestantismo não aceita os maçons, o
catolicismo também – o Vaticano dá pena de excomungação do Vaticano ao
maçom. Como o homem poderia ser religioso, já que as principais crenças
se opõem à Maçonaria?
JT – Existe
uma ideia divina que reside no homem. O homem tem uma dimensão sagrada e
as religiões predispõem-se a ligar o homem a Deus. Mas nós aprendemos
com a ciência, por exemplo, que no universo não existe isolamento. Por
conseguinte, o processo da humanidade não está afeito a religar-se a
Deus, está em iluminar-se para entender que já está ligado. A Maçonaria
faz isso e, por ela fazer isso, as religiões que têm por finalidade
ligar o homem a Deus se sentem assoladas em relação a este assunto. Mas a
Maçonaria é muito clara: o fato de ela juntar homens livres de bons
costumes dá às religiões um desconforto. Porque as religiões, até que se
prove o contrário, não querem que as criaturas sejam assim. Elas dizem
que querem religar o homem a Deus, mas têm desligado os homens dos seus
irmãos. Veja que os protestantes não querem falar com os católicos, os
católicos não querem falar com os espíritas, os espíritas não querem
falar com os candomblecistas, os candomblecistas não querem falar com os
evangélicos ou qualquer coisa que o valha... Nós estamos nos separando
ao invés de nos ligar. A Maçonaria apareceu oficialmente em 1714. A
proposta dela é ajudar o ser humano a construir instrumentos que o
ajudem a entender a realidade na qual eles estão inseridos. E a
religião, até que se prove o contrário, não tem feito isso exatamente.
Toda a proposta da Maçonaria é para que o homem entenda que dentro dele
existe uma dimensão que é sagrada e nós fomos iniciados nesta cerda, de
encontrar esse sagrado que reside em nós mesmos, sob pena de nós
ficarmos apenas tendo Deus como se fosse uma tábua de salvação e a
religião também como isso. É pouco para a Maçonaria.
BN – Existem católicos e protestantes maçons?
JT – Afirmativo.
Na verdade, o movimento maçônico advém de quando qualquer planeta
atinge a capacidade de sustentar a vida orgânica. Necessariamente, ele
atrai seres inteligentes, que vêm para esse planeta para que seja dada a
insígnia e a honra às criaturas que estão residindo nesse lugar, para
melhorarem sua condição mental e de inteligência. Quando o povo de um
planeta está pronto, a Maçonaria manifesta-se oficialmente e ajuda que
esse povo construa instrumentos para entender a realidade local. Na
medida em que esse povo vai entendendo a realidade, vai melhorando o
planeta. A humanidade sobre um planeta tem a possibilidade de ajudar o
planeta a descondensar-se de matéria e energia. Até porque o universo
não tem preferência por matéria. Tem preferência por energia
descondensada.
BN
– Mas como uma pessoa religiosa pode aliar o conhecimento da religião
com a Maçonaria? Um católico, por exemplo, pode ser excomungado.
JT – A
Maçonaria é uma sociedade evolucionista. Ela prega um processo
evolutivo. Nós não somos criacionistas. E está claro para todos nós que
nenhum ser humano vai deixar de um dia estar livre. Todos serão libertos
por nós mesmos. Até porque o autoconhecimento nos dá essa clareza. Ora,
toda problemática reside no fato de que nós vamos produzir um movimento
que faz com que a criatura humana saiba libertar-se. Jesus, há 2 mil anos, disse que se soubéssemos
conhecer a verdade, então nos libertaríamos. O que tem acontecido é que
as criaturas estão pensando que a verdade é algo que elas possam medir e
os maçons querem ensinar-nos ao ponto de ir até o desmedido, para
entender o inesperado e o desconhecido de forma cabal. A problemática
reside no fato de que aprendemos tudo decorando fórmulas, datas etc. Nós
sermos criaturas fadadas à libertação e não podemos fazê-la a não ser
através da evolução. O objeto da evolução é a libertação. Como fazer
isso? Só reconhecer a verdade. Então, qual a religião do maçom? O maçom
não tem religião. Quando ele é pretenso maçom, ele passa por um processo
iniciático no qual ele vai saber que daqui por diante a religião dele é
a verdade. Então, qual o processo de libertação? Reconhecer a verdade. A
liberdade não pode ser só pensada, como tem acontecido. Se a humanidade
ainda insiste em só conhecer a verdade através do pensamento, ela está
perdendo uma grande oportunidade. A Maçonaria vem para dizer:
“esqueçamos esse modus operandi de até então. A coisa tem que ser
totalmente diferente”. Porque você não pode ser livre antes de
experimentar a liberdade. Parece filosofia – e a Maçonaria também é um
pouco de filosofia –, mas deve ficar claro de que só a verdade liberta. E
esta é a religião do maçom. O maçom tem por finalidade descobrir a
verdade a partir de si próprio sob pena de ele ser um mero profano, sem
saber o que é o sagrado.
BN
– E a verdade está em outro planeta? Os maçons acreditam em vida fora
da Terra, isso está claro, mas há evidências de locais precisos onde
isso acontece?
JT – A
verdade não está fora. Está dentro da gente. Tem que ficar claro para o
ser humano que, como na semente existe uma árvore, no ser humano há o
projeto de um deus. Tem que ser entendido isso rápido. Assim como você
tem que fazer com que uma semente seja plantada e favorecida para que
possa germinar, o ser humano também precisa de um ambiente propício em
que ele seja plantado, em que ele seja gerenciado, até que ele possa
produzir o maior projeto dele, que é ele próprio como deus maior que o
é. O próprio Jesus já dizia isso: “os milagres que eu faço não sou eu
que os faz, mas sim o Deus que habita em mim” e “o que eu faço vós podeis fazer muito mais, porque sois Deus”.
BN – Sim, mas tem vida em outro planeta e onde é?
JT – Não
precisa ser precisado isso. O maçom tem que estar aberto a qualquer
expressão da verdade como ela seja. Não importa que seja pífia ou que
seja o máximo dela. A verdade está dentro do próprio homem, do próprio
gênero humano. E esse gênero humano, até que se prove o contrário, vai
habitar em qualquer planeta que possa sustentar vida orgânica. Se você
perguntar especificamente sobre a minha pessoa, e isso é uma coisa bem
pessoal, eu diria que nós temos criaturas do gênero humano até
possivelmente Júpiter. Eu diria isso. Mas é uma coisa bem particular, a
Maçonaria não prova isso. É estudo próprio e aprofundamento pessoal.
BN – O senhor disse que, conforme o ser humano evolua, é uma tendência que ele abandone as religiões?
JT – Não sei se ele vai abandonar, o ser humano não precisa abandonar religião nenhuma...
BN – Mas ele teria que deixar as crenças da religião dele, isso não é abandonar?
JT – Não,
não precisa. Ele vai saber, na própria religião dele, aprofundar o
pensamento e encontrar as verdades absolutas que lá possam existir sem
que ele precise abandonar a religião. Agora ele pode demonstrar-se uma
criatura não mais escrava de religião alguma.
BN – Mas para fazer parte de uma religião você precisa se submeter a certos dogmas, não?
JT – Nem
tanto, porque eu não sou hoje um religioso de religião, sou um
religioso de espiritualidade. Entendo que tenho um espírito e quando
falo de espiritualidade falo de atividade do espírito. E é essa
atividade que estou buscando. É essa atividade que o maçom busca. É essa
parte sagrada, sacra dele, que o maçom deve buscar. Sob pena de ele
viver uma vida em vão ou uma vida pouco vivida. Porque viver sem buscar
Deus no interior é uma vida pouco vivida.
BN
– A história diz que a Maçonaria esteve presente em vários movimentos
políticos, inclusive de revoluções. Abraham Lincoln, D. Pedro e Voltaire
eram maçons. A Maçonaria não se afasta desse pensamento a partir do
momento em que ela age em movimentos políticos ou uma coisa está
concatenada com a outra e de que forma?
JT – Dizer
que o ser humano precisa se afastar de algo não faz sentido. Eu posso
dizer a vocês que, por exemplo, o amor e o ódio são a mesma coisa. Só
que o ódio é amor em estado relativo, mas na medida em que ele evolui se
torna amor. Eu posso dizer aqui que, quem for casado aqui, já disse à
senhora esposa de vocês que vocês a amam e não vivem sem ela. Mas é
possível que vocês digam que se ela lhe trair vocês matam ela. Não houve
um ser humano que disse que amava alguém e não se chateou em algum
momento. Isso mostra que existem duas partes a serem consideradas. A
mesma coisa é o intelecto e a inteligência, que são coisas idênticas,
mas diametralmente opostas. Você usa o intelecto pra construir essa
mesa, esse prédio, mas vai usar a inteligência para construir virtudes. O
maçom vai elaborar instrumentos para entender essas realidades, porque
tudo está na natureza, mas a natureza não tem linguagem, senão de
símbolo, de sinais. Ela não diz algo a você, como eu estou falando. Você
tem que decodificar. Sim, onde está a beleza no que se refere ao
processo de político e de politicagem, de sociedade e de
individualidade? Não há nada separado. O indivíduo e a sociedade são uma
coisa só. Não existe separação. O maçom tem por finalidade fazer com
que o indivíduo e a sociedade sejam uma coisa só, porque ele sabe que o
caos exterior é produto do caos dele, interior. O ser humano é um ser
político, um ser social, e tem que mostrar-se em qualquer ambiente que
ele esteja. Eu faço política dentro da Maçonaria, dentro da minha casa e
comigo próprio. O homem não pode perder a sua identidade divina. E por
que eu digo que as religiões podem complicar um pouco esse assunto?
Porque ela com seus dogmas evita que o obreiro, ou melhor, o ser humano,
se aprofunde em si mesmo e ele busque Deus no exterior. E é esse o
problema nosso. Buscamos sempre fora. Por isso que o crack tomou conta
da humanidade. Porque estamos educados para procurar fora, e não dentro.
E, por isso, estamos esquecendo que somos Deus em estado relativo. E
isso está complicando, porque nós sempre estamos dependendo de um Deus
particular, externo, que venha nos ajudar. Deus não é particular, é
geral, a inteligência não é particular, é geral. Se você não entender
isso, vai carecer de muito sofrimento, porque o sofrimento leva à dor e a
dor leva à reflexão. A reflexão fará com que nós saibamos distinguir o
verdadeiro caminho que nós devemos seguir.
BN
– Desde o século 19 a gente não tem o registro efetivo de participação
da Maçonaria em movimentos políticos decisivos. O maçom está mais
satisfeito com o mundo hoje ou acha que não há mais necessidade de
participar de revoluções?
JT – A
sociedade maçônica não é mais secreta como já foi no passado. É uma
sociedade discreta. Mas nada, absolutamente nada, nesse planeta foi
feito sem a égide maçônica. Todo e qualquer movimento teve um maçom
encabeçando o trabalho. Hoje nós estamos um tanto quanto arrefecidos,
mas posso dizer-lhes de cátedra: a Maçonaria está por trás de todo e
qualquer movimento sócio-financeiro, sócio-econômico, sócio-político
etc. para ajudar a humanidade. Até porque é papel dela tomar conta da
humanidade na qual está inserida. Hoje eu posso garantir de que o que
está acontecendo é que não estamos sendo ouvidos, mas nós bradamos o
tempo inteiro. As presidentes e o presidentes sabem da nossa
determinação. Nós nos reunimos em sessões específicas para fazer
elaborações de projetos e encaminhamos para o governo, mas o governo nem
sempre ouve. O que está acontecendo hoje é que está havendo um
descaminhamento da criatura humana e, por conseguinte, os governos
políticos estão arrefecidos demais do projeto do que eles devem fazer.
BN
– No começo do ano, houve a eleição do grão-mestre do Grande Oriente do
Brasil. Uma discussão muito levantada foi que a Maçonaria nunca teve
tantos membros, mas ao mesmo tempo nunca foi tão pouco influente. O
senhor concorda com isso? Como a Maçonaria pode reverter a situação?
JT – Não
é uma verdade absoluta isso. A Maçonaria tem atuado muito fortemente,
mas ela tem feito isso em uma discrição maior do que dantes em se
tratando das resistências que têm acontecido hoje. Nós estamos com mil
problemas sociais e perdemos um pouco nossos caminhos. A Maçonaria tem
dado sua colaboração para que haja reflexões plausíveis. Nós tivemos,
por exemplo, na década de 80 a Aids tomando conta da humanidade. E nós
maçons elaboramos mil projetos para ajudar os governos a entenderem o
que é a Aids e tomarem conta do assunto. Mas a gente não logrou tanto
êxito assim. Teve que aparecer a Aids para tomar conta do sexo
desbravado. Hoje estamos com o crack tomando conta da humanidade.
Sugerimos que também deve aparecer outra doença para tomar conta disso,
porque nós não temos mais tempo para resolver. Estamos vendo agora os
tsunamis tomar conta de todo o planeta, limpando, lavando tudo, porque
os governos não têm nos ouvido suficientemente. Nós estamos começando,
no século 21, a realizar modus operandi mais específicos para fazer uma
atuação mais evidente. Contudo, o que está acontecendo conosco é que as
nossas reflexões que estavam sendo feitas nos templos para levar aos
governos não logrou tanto êxito, e o governo não está ouvindo
suficientemente. Então, agora estamos saindo de nossos tempos e indo
para os governos. Isso é questão de tempo. E toda mudança exige tempo.
Já começamos a fazer o que nós precisamos. No caso da Bahia, o estado
vai ver o nosso modus operandi de forma específica. É o século 21 e
estamos começando.
BN – Qual a relação entre o Grande Oriente do Brasil com as Grandes Lojas Maçônicas?
JT – A
Maçonaria nasceu na Escócia e na Inglaterra. Mas como em qualquer grupo
social, não raro as criaturas, quando entendem melhor um processo,
empreendem e melhoram os movimentos. Isso foi feito pela Grande Loja.
Criaturas do Grande Oriente do Brasil realizaram um desejo mundial:
construir as Grandes Lojas. Existem hoje no Brasil dois movimentos
fortes: o do Grande Oriente, que é a origem de tudo, e nós, Grandes
Lojas de todos os estados brasileiros. Cada uma delas anda de mãos dadas
com o Grande Oriente, sabendo que todas elas nasceram dele. Algumas
tratam isso como dissidência, eu apenas trato como movimento muito sine
qua non em termos de verdade. Não existe a possibilidade de um grupo
manter-se com muito cacique e poucos índios. Tem que haver a ampliação
dos horizontes para que possa se alcançar os objetivos com mais
brevidades. Nós, das Grandes Lojas, somos ligados também aos Estados
Unidos, porque lá o movimento de grandes lojas foi muito forte, em
termos de Maçonaria.
BN
– Há um dado que diz que hoje existem hoje há mais ou menos 150 mil
maçons pelo Brasil em 4,7 mil lojas. Não é fraco isso? Dá 31,91 membros
por loja.
JT – Sem
dúvida. Nós hoje empreendemos os esforços para que possamos sinergizar o
planeta para que tenhamos um maçom para cada mil habitantes. E a
Maçonaria baiana começou esse movimento, a partir do ano passado. A ONU
dizia que a América Latina precisava ter um policial para cada mil
habitantes até 2004. De 2004 para cá, a ONU já diz que precisamos ter um
policial para cada 250 habitantes. Sabe o que isso significa? Que nós,
politicamente falando, não cumprimos com o nosso dever. Por conseguinte,
ao invés de diminuirmos os nossos problemas, pelo contrário, eles
ampliaram suas forças. Na Bahia, como um todo, Grande Oriente e Grandes
Lojas, nós temos 30 mil maçons. Só em Salvador temos quase 3 milhões de
habitantes. Precisávamos ter 30 mil maçons só em Salvador. Não tem nem
um terço disso. Então, eu não sinergizo o suficiente. Não dou essênio
suficiente para que eu possa marcar terreno e mostrar uma égide, um
arquétipo diferente para a sociedade. Isso quer dizer que nós precisamos
obrar muito mais brevemente o nosso trabalho. O negócio é que, com a
criação dessas religiões todas, no que se refere ao avanço dos
evangélicos, por exemplo, nós estamos vendo que o nosso povo está
sofrido. Porque, até que se prove o contrário, as religiões ajudam esse
povo de forma que eles pudessem refletir e raciocinar melhor. Por
conseguinte, hoje nós estamos não com igrejas, mas com hospitais. Gente
doente e querendo cura, não buscar a Deus. Estamos com um problema
seriíssimo em relação a isso. Hoje, nós estamos empreendendo forte.
BN
– O senhor disse que os governos não estavam ouvindo a Maçonaria, mas
que ela poderia agora implementar alguma coisa. Eu posso entender isso
como “o governo do PT é contra a Maçonaria e os maçons ajudaram ACM
Neto”?
JT – Não,
eu não diria que eles são contra a Maçonaria... Eu diria que existe,
por parte das religiões, uma resistência sistemática contra a Maçonaria.
Porque a Maçonaria agrega, junta, une todos os seres humanos livres de
bons costumes que creiam em Deus dentro de seus templos. Nós temos um
processo iniciático no qual entendemos que libertamos qualquer ser
humano que queira adequar-se aos nossos trabalhos iniciáticos.
Libertamos de qualquer dogma, de qualquer seita, que prive hoje sua
liberdade de consciência. Mas os políticos não são contra a Maçonaria,
pelo contrário. Agora mesmo nós temos com o governo do Estado um projeto
social no qual estamos de mãos dadas, trabalhando juntos. Agora, é
óbvio que quando eu disse que não estávamos sendo ouvidos é porque nós
pensamos muito mais. Não pensamos só na sociedade, como está organizada
hoje, em termos de problemas como o crack, o sexo desbravado e a
gravidez indesejada. Nós pensamos muito mais, em termos de sistema
inclusive, porque nós pensamos que todo sistema um dia tem que ser
modificado, mas depende da nossa inteligência.
BN – ACM era maçom e ACM Neto é maçom?
JT – Eu
não tenho essa informação precisa. Agora às vezes a pessoa tem
arquétipo de maçom, mas não é iniciado. Então se você me perguntar se
Antônio Carlos Magalhães foi maçom, eu digo que sim. Talvez não tenha
tido a iniciação que eu tivera, mas eu tenho certeza de que ele foi
maçom, porque a ação que ele fizera aqui na Bahia, ele foi um grande
gestor. E acho que a maioria das pessoas deve sentir saudade.
BN – Aqui no estado da Bahia, quais os membros da Grande Loja que estão no Executivo e Legislativo?
JT – Nós
temos hoje o deputado estadual Deraldo Damasceno (PSL). É um
obreirozinho determinado, é um obreirozinho que tem ajudado muito esse
grão-mestre. Tem ajudado muito a Maçonaria baiana. Não tenho outro nome,
me foge à memória. Mas a Maçonaria não tem por finalidade construir
políticos. Ela deve fazer e faz política sem ser política. O papel dela é
tomar a frente da humanidade, a partir do aperfeiçoamento dos costumes,
da tolerância, da igualdade e do respeito à autoridade e também à
crença de cada um.
BN
– O senhor está no primeiro mandato de grão-mestre e pode se reeleger
para mais três anos a partir de 2015. O que pretende fazer à frente da
Grande Loja da Bahia?
JT – Nós
temos um projeto chamado “Iniciar”, que tem o bojo do fato de que
queremos iniciar 1% da população baiana em nossos templos. Temos um
projeto chamado Núcleo Maçônico de Cidadania, no qual as lojas vão
discutir acerca da realidade local, principalmente no sistema de
educação, infraestrutura e saúde, para que possamos, nas lojas,
detectarmos nos municípios baianos qual a realidade local, qual a
realidade ideal e possamos propor ao governo investir. A partir de 15
mil habitantes de cada município ou localidade queremos abrir uma loja
maçônica. Temos um projeto ainda que é o “Internacionalizar” para que
nós possamos fazer com que a Bahia seja bem relacionada com o mundo como
um todo, para que nossa experiência em termos de Maçonaria possa ser
expandida para o mundo como um todo. Em suma, temos 12 projetos
específicos, lembrando os 12 trabalhos de Hércules, que são trabalhos
hercúleos cujos fins são muito difíceis de serem resolvidos. Mas o maçom
gosta disso, porque o maçom é sensível, e o que é difícil é para os
sensíveis.
BN – Há uma interseção entre o trabalho das Grandes Lojas e do Grande Oriente?
JT – Afirmativo. Trabalhamos de mãos dadas como filhos que somos do Grande Oriente e andamos de mãos dadas.
BN
– Qual o entendimento da Maçonaria em relação ao casamento gay e à
polêmica em relação ao deputado Marco Feliciano (PSC-SP) que defende a
“cura gay”?
JT – A
Maçonaria não tem preconceito algum. Ela entende todo ser humano como
filho da criação e como projeto da divindade. Como já disse, dentro de
todo ser humano existe um deus e a Maçonaria prega trabalhar para que o
ser humano possa despertar esse deus interior. Nada mais do que isso.
Essas outras coisas só são polemizadas por aquelas criaturas que por
terem pouca inteligência ficam com seus egos elaborando esses processos
que só fazem nos separarmos. Não existe na Maçonaria preconceito.
Tratamos das coisas como gênero humano e, como tal, queremos dizer que
esse gênero humano é um deus que temos o dever de despertá-lo em toda a
sua expressão. Não importa se como gay, como lésbica ou qualquer coisa. O
que importa é que esse deus tem que sair de dentro.
BN
– Para finalizar, muita gente tem impressão de que a Maçonaria é
satanismo, por causa do símbolo do bode. O que é o bode afinal?
JT – Olha,
o maçom não é um bode, como se tem imaginado. O maçom é uma ovelha, um
cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Isso é o que a Maçonaria é.
É verdade que houve diversas lendas e parlendas que diziam que quando
nos reuníamos, como havia muita resistência contra nós, amarrávamos um
bode em frente a um poste da casa em que nos reuníamos para refletirmos
sobre a política local, sobre a realidade, como poderíamos colaborar
para melhorar etc. Deu-se esse símbolo. Tem outras mil lendas sobre
isso. Tem a de que o maçom, por usar preto, e o bode como cheira daquele
jeito, o paletó do maçom guardado também cheirava. Especificamente, nós
somos advindos da essênia e o esseanismo sempre criou um homem santo e
se não foi um homem santo é o homem que vivia de maneira santa, como
Jesus e tantos outros, para tirar o pecado da humanidade.
Por: Evilásio Júnior e José Marques
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