Sonho de Eike Batista:
Iphan aprova projeto de prédio na Marina da Glória
O plano é que o
edifício tenha 15 metros de altura
Próximo passo é avaliação do projeto
executivo, que consiste na definição de todos os detalhes construtivos e deve
passar pelo conselho consultivo do órgão
Polêmica. Vista aérea
da Marina da Glória, que fica em área tombada pelo governo federal: novo
projeto da EBX divide opiniões Foto: Custódio Coimbra / O Globo
Polêmica. Vista aérea
da Marina da Glória, que fica em área tombada pelo governo federal: novo
projeto da EBX divide opiniões Custódio Coimbra/O Globo.
RIO - Sem qualquer
divulgação ou audiência pública prévia, está mais perto de se tornar realidade
o sonho de Eike Batista de construir lojas e um centro de convenções na Marina
da Glória, que integra o Parque do Flamengo, tombado desde 1965 e cenário que
ajudou o Rio a conquistar o título de Patrimônio Mundial como paisagem cultural
urbana da Unesco. A Comissão de Análise de Recursos do Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan) informou na sexta-feira, por meio de sua
assessoria, que aprovou o anteprojeto de modernização da marina, que inclui a
construção de um prédio de 15 metros de altura e mudanças numa área de 20 mil
metros quadrados.
O próximo passo é a
avaliação do projeto executivo, que consiste na definição de todos os detalhes
construtivos e deve passar pelo conselho consultivo do órgão. O GLOBO pediu à
EBX detalhes do projeto, mas não obteve retorno. Ainda de acordo com a
assessoria do Iphan, as intervenções não ferem a paisagem cultural do Rio. O
escopo do projeto é alvo de críticas de arquitetos e urbanistas, que ressaltam,
por exemplo, a falta de transparência. Vice-presidente do Instituto de
Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), Pedro da Luz Moreira lamenta a falta de
publicidade do processo, discutido nos órgãos públicos há pelo menos três
meses:
- A gente não pode
sequer emitir um juízo de valor sem conhecer detalhes do projeto. A cidade
acabou de receber reconhecimento internacional por sua paisagem, e a ampla
divulgação é um cuidado que sempre devemos ter. Não sou preservacionista, a
mudança pode ser positiva, mas a discussão tem que acontecer. O que há para se
esconder?
Ex-presidente do
Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural, a arquiteta Andréa
Redondo diz que a notícia pegou todos de surpresa. Para ela, o Iphan “perde a
credibilidade” ao avalizar uma intervenção que fere os parâmetros urbanísticos
do parque histórico, projeto de Affonso Eduardo Reidy, Burle Marx e equipe.
- Alguém, em sã
consciência, colocaria um centro de convenções nas areias de Copacabana, na
Quinta da Boa Vista ou no Campo de Santana? Então qual o sentido de se alterar
a ocupação do Parque do Flamengo? São áreas públicas que não fazem parte do
tecido edificável da cidade — pondera.
Em reportagem publicada
no GLOBO em 14 de janeiro, o arquiteto Luiz Eduardo Índio da Costa informou que
a proposta agora aprovada pelo Iphan é um resumo do projeto engavetado em
dezembro de 2011 — na ocasião, Eike Batista chegou a chamar a proposta de
“devaneio”. A ideia é que tudo fique pronto até os Jogos de 2016, quando a
marina receberá competições de vela. Entre proprietários de embarcações, há o
temor de que o empreendimento comercial acabe com as 250 vagas secas, aquelas
reservadas em áreas terrestres.
- São direitos
adquiridos que não podem ser cerceados. Se isso acontecer, vamos questionar
judicialmente — diz José Fernandes, presidente do Tribunal de Justiça
Desportiva do Rio e dono de lancha.
Secretário do Conselho
Comunitário da Glória, Jorge Mendes disse que soube pelo GLOBO da
pré-aprovação:
- Não somos favoráveis
à descaracterização do Aterro. É lamentável que o Iphan não tenha ouvido a
sociedade.
Do outro lado da
trincheira, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
(ABIH-RJ), Alfredo Lopes, sustenta que um centro de convenções será de extrema
importância para o turismo do Rio:
- Foi aprovado? Que
maravilha! O centro de convenções do Riocentro é distante. É necessário um
equipamento deste tipo na Zona Sul. Com a ampliação do Porto, a modernização da
marina se faz necessária.
Ontem, em nota, o grupo
de Eike Batista divulgou o seguinte comunicado: “A REX, empresa que detém a
concessão da Marina da Glória, esclarece que irá falar sobre o projeto de
revitalização do espaço em breve, logo após finalização dos trâmites em
andamento junto aos órgãos públicos”.
Até 1995, a Marina da
Glória era administrada pela Riotur. Com 65,5 mil metros quadrados, o espaço
foi licitado um ano depois: venceu a Empresa Brasileira de Terraplanagem e
Engenharia S/A (EBTE). O prazo da concessão era de dez anos, contados a partir
de 1º de novembro de 1996. O contrato diz que caberia à empresa “acolher as
embarcações de esporte e lazer, bem como a prestação dos serviços aos usuários
e à comunidade em geral, sustentada com atividades comerciais”.
Antes do Pan 2007,
pareceres do Iphan suspenderam a construção de uma garagem para barcos pela
concessionária. No mesmo ano, a prefeitura ampliou para 30 anos o prazo de
concessão, passando para 2036. Em dezembro de 2009, a EBTE repassou o controle
ao Grupo EBX (ou empresa MGRio), por meio de um termo aditivo de contrato. Após
a alteração de comando, as polêmicas continuaram: em dezembro de 2011, a EBX
anunciou que pretendia construir uma garagem subterrânea para 1.500 veículos,
num empreendimento com estimados 44,9 mil metros quadrados de área construída e
altura que poderia chegar a 15 metros. Bombardeado de críticas, o projeto
acabou sendo abandonado.
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