Três minutos antes de o ex-presidente do PT José Genoino entrar na
sala da Presidência da Câmara dos Deputados para tomar posse, o delegado
da Polícia Civil alagoana Francisco Tenório passou pelo mesmo corredor
sem ser notado pelo batalhão de jornalistas e curiosos que esperavam o
petista condenado no processo do mensalão. Chico Tenório, como é
conhecido, voltou à Casa após ter passado um ano na prisão e outros sete
meses com um tornozeleira eletrônica para monitorar os passos dele, por
causa de dois processos em que é acusado de encomendar assassinatos. No
caminho e durante a solenidade de posse nenhuma pergunta foi lhe
dirigida.
Tenório assumiu a cadeira deixada por Célia Rocha (PTB), que se
elegeu em outubro prefeita de Arapiraca (AL). Filiado ao minúsculo PMN,
agora com três representantes na Câmara, ele terá como colega de bancada
Jaqueline Roriz (DF), que escapou no ano passado da cassação em
plenário após ter sido flagrada em um vídeo recebendo propina de Durval
Barbosa, delator do mensalão do DEM na capital federal.
O deputado recém-empossado já havia cumprido mandato de deputado
federal na legislatura passada. Assim que deixou a Câmara, em fevereiro
de 2011, teve sua prisão preventiva decretada por ordem da Justiça
estadual. Segundo a acusação do Ministério Público, ele teria, na
"posição de líder de uma organização criminosa atuante em Alagoas",
ordenado a ação que resultou na execução de duas pessoas em 2005. Ainda
responde ação por ser supostamente autor intelectual do assassinato de
um ex-policial militar na década de 90.
Tenório passou o Natal de 2011 na cadeia, tendo recebido familiares e
ganhado até uma ceia de Natal. Em fevereiro do ano passado, a Justiça
alagoana revogou a prisão, mas a substituiu por um monitoramento
eletrônico: Tenório ganhou uma tornozeleira para evitar que deixasse a
capital do Estado e verificar se ele estava cumprindo a ordem de voltar
para sua casa antes das 8 da noite. Só conseguiu retirar o equipamento
em setembro, por ordem do Tribunal de Justiça do Estado.
Abordado pelo Grupo Estado na saída da solenidade, Tenório estava
rodeado de dez pessoas, entre apoiadores e familiares. Ele conduziu a
reportagem para um lugar vazio ao lado do plenário da Câmara e, sozinho,
se disse inocente dos processos a que responde. "Eu sou inocente, estou
provando a minha inocência e estou trabalhando nesse sentido e a
Justiça está acompanhando todo o processo. Tenho certeza que vamos
chegar ao final mostrando a realidade dos fatos e reconhecendo a vítima
que tenho sido nessas acusações", afirmou.
Falando na terceira pessoa, o parlamentar afirmou que "a gente se
sente na obrigação de cumprir o dever para o qual fomos eleitos, pelo
voto popular". Ele teve 51.864 votos nas eleições de 2010. Questionado
se estava incomodado em assumir o mandato com o peso de acusações de
homicídio, ele respondeu: "Não, porque nós vivemos num regime
democrático onde existe acusações de tudo quanto é natureza contra
alguém, principalmente quem exerce as funções públicas, cargos
políticos, e a gente é sujeito a esse tipo de acusações, às vezes até
levianas, mas nós temos que responder nossos processos e provar a nossa
inocência".
Tenório não quis opinar se considerava correta a posse do colega José
Genoino (PT-SP), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a seis
anos e 11 meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa.
Ele esquivou-se de falar sobre detalhes dos processos, indicando seu
advogado. Por telefone, o defensor dele, Flávio Gomes, afirmou que não
tem dúvida de que a Justiça alagoana "foi induzida a erro" nas ações que
levaram o cliente à prisão e à colocação da tornozeleira eletrônica.
Segundo Gomes, o TJ alagoano está derrubando todas as condenações e
acusações feitas pelo ex-coronel Manoel Cavalcante, que, sustenta,
lastrearam os processos contra Tenório. Cavalcante, afirma o advogado,
fez um acordo de delação premiada implicando seu cliente. "O que há no
País é uma sensação de impunidade que, por vezes é saciada, ao punir e
prender um agente político", comentou.
Com a posse de Tenório, as ações contra ele serão remetidas para o
Supremo, Corte por onde os casos já haviam tramitado. A defesa espera
que, lá, seja feito um "julgamento isento". "A expectativa com relação
ao processo no Supremo é muito positiva", disse Gomes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário