NÃO TENHO MEDO DO IPHAN
Por Dimitri Ganzelevitch
Faço parte dos cento e tantos milhões de contribuintes que, sofrendo com carência generalizada, gostariam de saber onde desaparece este Iguaçu econômico. Gozando de dose mediana de raciocínio, fico incomodado com obras faraônicas e obviamente inúteis.
Em vez de mantê-los, destroem-se estádios para construir
outros, de suspeita necessidade, enquanto temos escolas e hospitais ruindo.
Brasília investiu mais de 8 bilhões desde julho 2007 para transpor o rio São
Francisco, mas nunca, como em 2012, a seca castigou tanto os nordestinos.
Dois
anos após os quase mil mortos nas avalanches da região serrana do Rio de
Janeiro, as famílias ainda moram ao relento, prefeitos enfiando alguns milhões
nos respectivos bolsos. Vivemos de promessas sempre postergadas para o trânsito,
o transporte público e a segurança. As parcas áreas verdes urbanas acabam
entregues a imobiliárias predatórias.
Nos campos, partidos de ideologias
opostas se unem para depredar matas ciliares e reservas ambientais.
Em Salvador, somos
obrigados a assistir à acelerada destruição da memória material e imaterial e agoranão vamos poder protestar? Imagine, leitor eventual, que, irritado com minhas
freqüentes críticas, sempre justificadas e objetivas, o Iphan da Bahia, através
do Ministério Público Federal, me mandou em novembro passado interpelação
judicial pelo texto “Quem tem medo do Iphan?” publicado em 2011. Voltamos à velha censura?
Pois eu não tenho medo do Iphan, não.
Pois eu não tenho medo do Iphan, não.
Em nada prejudiquei ninguém que fosse digno do
salário que nós, os cento e tantos milhões de contribuintes, pagamos com
desmedido sacrifício. Quando
afirmo que o bairro de Santo Antônio, como, aliás, todo o dito centro antigo de
Salvador, está totalmente abandonado, não vejo como retirar uma só palavra. Digo
e provarei se for preciso.
Quem desejar, pode me acompanhar pelo centro da
capital com gravador e filmadora. Terei o maior prazer em detalhar confusões e
omissões. E não me venham com ameaças.
Esta casa está fechada desde 1992. Não demorou em ruir.
Comentários de leitores:
Prezado
articulista Ganzelevitch,
Gostei
muito de seu artigo na A TARDE de hoje, segunda-feira, 01/12/2012.
Sinto-me devedor das pessoas que escrevem coisas interessantes e/ou importantes.
Assim sinto-me devedor seu e, por isso, estou incluindo um anexo
onde apresento alguns comentários sobre a transposição do rio São
Francisco, um dos temas abordados em seu artigo de hoje, referido acima.
Retribuo oferecendo-lhe um artigo meu, publicado na revista do
Instituto Politécnico da Bahia, acessível também emwww.ipolitecnicobahia.com.br .
Sugiro um rápido olhar na pagina 6, item 6 do Anexo. A transposição
resulta do que chamo “força da tradição”, isto é algo incorporado ao
conhecimento público como resultado de repetição de ditos ou fatos
antigos. A transposição do São Francisco foi uma ideia de 1877 quando
tivemos um seca durante a qual morreu uma proporção significativa da
população do Nordeste. Nos anos 1940-60, ao se propor solução para
superar o problema da seca, os autores sequer citaram a transposição,
pois para os autores, era assunto superado tendo em vista o conhecimento
acumulado até então sobre a região: a topografia (desconhecida em 1877)
desaconselhava esse tipo de obra e o conhecimento acumulado sobre água
subterrânea no Nordeste já indicava uma solução de custo
substancialmente menor e efetividade mito maior.
A obra concluída não contribuirá para coisa alguma e seu custo
superará qualquer eventual benefício fortemente localizado que se possa
obter dela, além de problemas novos que criará, como redução da vazão do
rio para a produção de energia elétrica, perturbação da fauna marinha
na região da foz do rio São Francisco e redução (ou eliminação) do
volume de água, ainda disponível, para a irrigação de vastas regiões das
margens do rio dentro dos estados de Mas Gerais e Bahia.
Continue a brindar-nos com seus artigos inteligentes.
Atenciosamente
Sylvio de Queirós Mattoso
Engenheiro de minas e metalurgista, DSc Geociências
Caro Dimitri Ganzelevitch,
Li artigo de sua autoria, na edição de sábado, 01/12/2012, do Jornal A Tarde: "Não tenho medo do Iphan". Excelente produção textual, raciocínio crítico muito bem exposto,construção vernacular perlocutória reconhecidamente perfeita. Parabéns!
Para seu conhecimento, aqui em Cachoeira, já há algum tempo, o Iphan opera com a mesma (im) postura com que vem desfigurando o conjunto tombado da Cidade Heróica e Monumento Nacional.
No arquivo anexo,
informações que reputo úteis, para seu conhecimento.
Atenciosamente,
Pedro Borges dos Anjos
Editor-Chefe do Jornal O Guarany
Cachoeira/BA
Fonte: blog do DIMITRI
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