domingo, 2 de dezembro de 2012

NÃO TENHO MEDO DO IPHAN

Por Dimitri Ganzelevitch

Faço parte dos cento e tantos milhões de contribuintes que, sofrendo com carência generalizada, gostariam de saber onde desaparece este Iguaçu econômico.  Gozando de dose mediana de raciocínio, fico incomodado com obras faraônicas e obviamente inúteis.



Em vez de mantê-los, destroem-se estádios para construir outros, de suspeita necessidade, enquanto temos escolas e hospitais ruindo. 
Brasília investiu mais de 8 bilhões desde julho 2007 para transpor o rio São Francisco, mas nunca, como em 2012, a seca castigou tanto os nordestinos. 
Dois anos após os quase mil mortos nas avalanches da região serrana do Rio de Janeiro, as famílias ainda moram ao relento, prefeitos enfiando alguns milhões nos respectivos bolsos. Vivemos de promessas sempre postergadas para o trânsito, o transporte público e a segurança. As parcas áreas verdes urbanas acabam entregues a imobiliárias predatórias. 
Nos campos, partidos de ideologias opostas se unem para depredar matas ciliares e reservas ambientais.
 Em Salvador, somos obrigados a assistir à acelerada destruição da memória material e imaterial e agoranão vamos poder protestar? Imagine, leitor eventual, que, irritado com minhas freqüentes críticas, sempre justificadas e objetivas, o Iphan da Bahia, através do Ministério Público Federal, me mandou em novembro passado interpelação judicial pelo texto “Quem tem medo do Iphan?” publicado em 2011.  Voltamos à velha censura?
Pois eu não tenho medo do Iphan, não.
Em nada  prejudiquei ninguém que fosse digno do salário que nós, os cento e tantos milhões de contribuintes, pagamos com desmedido sacrifício. Quando afirmo que o bairro de Santo Antônio, como, aliás, todo o dito centro antigo de Salvador, está totalmente abandonado, não vejo como retirar uma só palavra. Digo e provarei se for preciso.
Quem desejar, pode me acompanhar pelo centro da capital com gravador e filmadora.  Terei o maior prazer em detalhar confusões e omissões. E não me venham com ameaças.  








         


Esta casa está fechada desde 1992. Não demorou em ruir.

Comentários de leitores:
 

Prezado articulista Ganzelevitch,

Gostei muito de seu artigo na  A TARDE de hoje, segunda-feira,  01/12/2012.


Sinto-me devedor das pessoas que escrevem coisas interessantes e/ou importantes.
Assim sinto-me devedor seu e,  por isso, estou incluindo um anexo onde apresento alguns comentários sobre a transposição do rio São Francisco, um dos temas abordados em seu artigo de hoje, referido acima. Retribuo oferecendo-lhe  um artigo meu, publicado na revista do Instituto Politécnico da Bahia, acessível também emwww.ipolitecnicobahia.com.br .

Sugiro um rápido olhar na pagina 6, item 6 do Anexo. A transposição resulta do que chamo “força da tradição”, isto é algo incorporado ao conhecimento público como resultado de repetição de ditos ou fatos antigos. A transposição do São Francisco foi uma ideia de 1877 quando tivemos um seca durante a qual morreu uma proporção significativa da população do Nordeste. Nos anos 1940-60, ao se propor solução para superar o problema da seca, os autores sequer citaram a transposição, pois para os autores, era assunto superado tendo em vista o conhecimento acumulado até então sobre a região: a topografia (desconhecida em 1877) desaconselhava esse tipo de obra e o conhecimento acumulado sobre água subterrânea no Nordeste já indicava uma solução de custo substancialmente menor e efetividade mito maior.

A obra concluída não contribuirá para coisa alguma e seu custo superará qualquer eventual benefício fortemente localizado que se possa obter dela, além de problemas novos que criará, como redução da vazão do rio para a produção de energia elétrica, perturbação da fauna marinha na região da foz do rio São Francisco e redução (ou eliminação) do volume de água, ainda disponível, para a irrigação de vastas regiões das margens do rio dentro dos estados de Mas Gerais e Bahia.

Continue a brindar-nos com seus artigos inteligentes.

Atenciosamente

Sylvio de Queirós Mattoso
Engenheiro de minas e metalurgista, DSc Geociências







Dimitri:
Parabéns, mais uma vez pelo maravilhoso artigo de hoje.
Quem lhe escreve é uma admiradora do seu trabalho porque reflete, com sinceridade, os problemas que somos obrigados a suportar.
Um abraço,
Rizoleta Lacerda Sampaio (Lola)






Caro Dimitri Ganzelevitch,

Li artigo de sua autoria, na edição de sábado, 01/12/2012, do Jornal A Tarde: "Não tenho medo do Iphan". Excelente produção textual, raciocínio crítico muito bem exposto,construção vernacular perlocutória reconhecidamente perfeita. Parabéns!
Para seu conhecimento, aqui em Cachoeira, já há algum tempo, o Iphan opera com a mesma (im) postura com que  vem desfigurando o conjunto tombado da Cidade Heróica e Monumento Nacional.
 No arquivo anexo, informações que reputo úteis, para seu conhecimento.

Atenciosamente,
Pedro Borges dos Anjos
Editor-Chefe  do Jornal O Guarany
Cachoeira/BA

Fonte: blog do DIMITRI

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