Advogados de condenados do mensalão planejam manifesto
Advogados dos réus do mensalão mostraram, em troca de
e-mails, o inconformismo com o resultado do julgamento e com os argumentos de
alguns ministros do Supremo Tribunal Federal para condenar 25 mensaleiros. Nas
mensagens, a banca propõe a divulgação de manifesto contra o que o ex-ministro
da Justiça Márcio Thomaz Bastos, defensor de um dos condenados, classificou
como "degeneração autoritária de nossas práticas penais".
Outro ex-ministro que atuou no processo do mensalão,
José Carlos Dias, propôs que as críticas de Thomaz Bastos à atuação dos
tribunais no julgamento de processos penais, em artigo publicado pelo site
Consultor Jurídico, sejam transformadas em manifesto ou carta aberta assinada
por todos os advogados. "O texto do Márcio é magnífico. Deveria ser
transformado num manifesto, numa carta dos advogados criminais e por nós
assinada", afirmou Dias em mensagem a outros advogados.
Arnaldo Malheiros, que também atuou no caso, afirmou
que as críticas feitas por Thomaz Bastos devem definir os próximos passos dos
advogados. "Não podemos esmorecer, vamos à luta!", escreveu o
advogado.
Provas
Um dos pontos que mais incomodaram a banca foi o que
consideram inversão do ônus da prova. No julgamento, alguns ministros
afirmaram, por exemplo, que a defesa teria de comprovar a veracidade de um
álibi. Caso contrário, a acusação seria levada adiante. Os advogados também
protestaram contra o uso de indícios como provas.
Em seu artigo, sem mencionar o mensalão, Thomaz Bastos
diz que houve "retrocesso de décadas de sedimentação de um Direito
Penal". E critica indiretamente argumentos usados pelos ministros do STF:
"Quando juízes se deixam influenciar pela 'presunção de culpabilidade',
são tentados a aceitar apenas 'indícios', no lugar de prova concreta produzida
sob contraditório. Como se coubesse à defesa provar a inocência do réu!".
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay,
escreveu que a avaliação feita por Thomaz Bastos é um alento para os advogados.
"Dificilmente eu poderia encontrar uma maneira de dizer como ainda é
possível acreditar no homem, na nossa luta, no Direito, enfim, continuar
acreditando que vale a pena."
Encerrado o julgamento do mensalão, os advogados dos
25 condenados aguardam a publicação do acórdão para recorrer da decisão. E
Thomaz Bastos já mostrou que os advogados farão tudo o que for possível para
reverter a decisão do Supremo. "Como ensinava Rui Barbosa, se o réu tiver
uma migalha de direito, o advogado tem o dever profissional de buscá-la.
Independentemente do seu juízo pessoal ou da opinião
publicada, e com abertura e tolerância para quem o consulta. Sobretudo nas
causas impopulares, quando o escritório de advocacia é o último recesso da
presunção de inocência." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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