Ao pedir cautela quando novas declarações atribuídas a Marcos Valério
começaram a surgir na imprensa durante o julgamento do mensalão, o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, classificou o empresário
mineiro como "um jogador". Reservadamente, ministros do Supremo
concordam com Gurgel e compartilham a opinião de quem acompanha de perto
o escândalo desde o seu início: Valério não dá um passo sem consultar
seu advogado, o respeitado criminalista Marcelo Leonardo.
Desde
que assumiu como defensor do "operador" em 2005, no auge do caso,
Leonardo impôs seu estilo, sempre sóbrio e direto, às vezes sisudo.
A primeira ordem que impôs para abraçar a causa vigora oficialmente até hoje: Valério não deveria dar entrevistas.
Mas
nos anos que se seguiram e mesmo durante o julgamento, várias
declarações em tom de ameaças publicadas na imprensa são atribuídas ao
empresário mineiro. O alvo é geralmente o PT, mas, mais recentemente, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou na mira.
Em
setembro do ano passado, o nome de Lula foi incluído nas alegações
finais da defesa de Valério encaminhadas ao Supremo. O advogado, que
assina o documento, sustentou que a acusação da Procuradoria-Geral da
República é um "raríssimo caso de versão acusatória de crime em que o
operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da
narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns,
inclusive, de fora da imputação, como o próprio presidente Lula".
Nota
Na
época, Leonardo divulgou nota negando ter cobrado a inclusão do
ex-presidente na denúncia do mensalão. Essa parte das alegações finais,
porém, foi mantida nos memoriais - relatórios derradeiros da defesa -
encaminhados aos ministros do STF.
Valério já havia
sofrido condenações - corrupção, peculato e lavagem de dinheiro - no
julgamento da ação penal no Supremo quando a revista Veja publicou
reportagem afirmando que o empresário havia dito a pessoas próximas que o
ex-presidente só não virou réu porque ele, o ex-ministro José Dirceu e o
ex-tesoureiro Delúbio Soares mantiveram silêncio. "Lula era o chefe",
disse Valério, segundo a revista.
O advogado vinha
sustentando publicamente que considerava não ser mais possível propor
delação premiada na fase de julgamento da ação. Mas também em setembro,
dias após Valério procurar espontaneamente o Ministério Público Federal
para prestar novas informações, sua defesa subscreveu um fax encaminhado
ao STF com pedido de inclusão do empresário no programa de proteção a
testemunhas em troca da delação.
Entre advogados que atuam
no mensalão, a suspeita é que o objetivo de Valério - que já recebeu
penas de 40 anos - seja garantir sua segurança na prisão. As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
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