Por Paiva Netto
Este mês é
marcado por datas que nos fazem recordar a genialidade de dois dos mais famosos
compositores de nosso país: o carioca Heitor Villa-Lobos, — falecido em 17 de
novembro de 1959, ao qual prestei, na edição 220 da revista Boa Vontade,
tributo à memória — e Claudio Santoro, ilustre manauara, nascido em 23/11/1919,
cuja “Sinfonia da Paz”, gravada sob sua regência, pela Orquestra Estadual e
Coro Stepanov de Moscou, Rússia, abre a minha pregação do Evangelho de Jesus na
Super Rede Boa Vontade de Comunicação.
Como
admirador dos gênios da cultura planetária e reconhecendo na música um papel
transcendente de elevação do ser humano, sempre que posso utilizo-me do tesouro
melódico para estabelecer analogia entre ele e os augúrios divinos, de modo a
facilitar o entendimento do povo a respeito do código aparentemente
indecifrável do Apocalipse de Jesus. O escritor e crítico literário José
Geraldo Nogueira Moutinho, em “Musicália”, esclarece que “a música absorve o
caos e o ordena”.
Em
“Apocalipse sem Medo” (1999), no capítulo Apocalipse e universalismo, comento
que Arturo Toscanini ensinava, mutatis mutandis, que ouvir música não é
escutar notas. De fato, porquanto se deliciar com a grande arte de Verdi,
Tchaikovisky, Wagner, Borodin, Schumann, Debussy, Ravel, Grieg, Sibelius,
Irving Berlin, Gershwin, Grofé, Chiquinha Gonzaga, Noel, Cartola, Caymmi,
Jobim, João Gilberto, Caetano, Gil, Chico Buarque, Toquinho, Guerra Peixe,
Carlos Gomes, Padre José Maurício, Francisco Braga, Lorenzo Fernandez, Augusto
e Alberto Nepomuceno, Guerra Vicente, e tantos mais, é integrar-se no
sentimento da mensagem melódica que o compositor quis transmitir ao ouvinte.
Assim é com
o Apocalipse, seu recado não está na letra, “que mata”, mas no espírito de salvação
que, por meio do amor de Quem fraternalmente adverte, desce do Criador à
criatura.
Para que existe a Mensagem Divina
O que
procuro destacar, na pregação ecumênica do Evangelho-Apocalipse, é a parcela de
Deus que habita todo ser humano, seja ele religioso ou ateu; amarelo, branco,
negro ou mestiço; civil ou militar; analfabeto ou letrado; da direita, esquerda
ou centro ideológicos, ou mesmo apartidário.
Se o homem
não for ao encontro da solidariedade, na vivência particular ou coletiva, onde
iremos parar?
O cosmos é
música, que, na definição de Paul Claudel (1868-1955), “é a alma da geometria”.
Logo, temos de achar os sons que com abrangência universal nos confraternizem.
Para isto é que existe a Mensagem de Deus, que frontalmente se contrapõe à
intolerância indesculpável.
Trombetas e compositores
Ainda na
citada obra, no capítulo “Trombetas e compositores”, aponto que até hoje há
quem exclame: “O Apocalipse é o desamor de Deus para com a Humanidade!”.
Estarão certos? Veremos que não.
Vamos por
partes: o que diz a sabedoria antiga? “O pensamento é o alfaiate do destino”.
Com as
nossas ideias e atos, acabamos por desvendar a nossa intimidade. Jesus, o
Cristo Ecumênico, declara isto no Evangelho, segundo Lucas, 6:45: “O homem bom
do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau, do mau tesouro tira o mal;
porque fala a boca do que está cheio o coração”.
Diante
disso, os Anjos das Sete Trombetas, que, em simples análise, significam fatos
políticos e fatos político-guerreiros, quando as tocam, não o fazem aleatoriamente.
Estão externando o que os Sete Selos (Apocalipse, capítulos 6 e 8) revelaram
acerca do nosso sentimento, expresso na partitura musical que, com as nossas
atitudes, compusemos. Nós é que produzimos a trágica, ou bela, melodia que os
Anjos executarão. O Apocalipse é, portanto, traçado por nós, quando respeitamos
ou infringimos as normas do Criador.
Em “A
Divina Comédia” — Paraíso, Canto XXII—, Dante Alighieri (1265-1321)
poeticamente ilustra a justiça de Deus: “Nunca se apressa a espada celestial,/
nem se atrasa, a não ser pela opinião / de quem a invoca ou teme, por sinal”.
Por sua
vez, Alziro Zarur (1914-1979) sentencia: “A Lei Divina, julgando o passado de
homens, povos e nações, determina-lhes o futuro”.
Direitos,
deveres e Apocalipse
Se pensarmos
apenas em direitos e esquecermos os deveres, amanhã seremos cobrados pelos
deveres e esquecidos pelos direitos.
Não
queiramos que o Pai Celestial nos trate como crianças, quando fazemos questão
de ser adultos. Cabe, aqui, feito uma luva, este pensamento do escritor francês
Martin Du Gard (1881-1958): “Não há ordem verdadeira sem a Justiça”.
Evidentemente,
no tocante aos dignificadores atos que realizarmos, o Apocalipse apresentará
composições maravilhosas para aqueles que merecerem um mundo melhor nos milênios
que conheceremos adiante. Sempre viveremos, porque a eternidade é real e a lei
das vidas sucessivas é ordenação divina. Zarur conceituava: “A reencarnação é a
chave da profecia”. É preciso, pois, afinar os corações dos povos no diapasão
de Deus.
*José
de Paiva Netto — Jornalista, radialista e escritor.
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