Noêmia Alves da Silva Linhares
Por *Erivaldo Brito
ACESSO AOS BLOGS relacionados à minha terra uma, duas, três vezes ao dia, invariavelmente, à cata de notícias. É o apego telúrico que não me larga. Ao falar ao telefone com o meu irmão, Erione, fui comunicado do infausto falecimento, em Salvador, de Noêmia, uma cachoeirana possuidora de uma resiliência notável na superação de obstáculos e resistência às pressões de uma sociedade hipócrita, no tempo da chamada repressão vitoriana contras as mulheres. Temos de confessar que, embora menino, tal comportamento rebelde simplesmente me fascinava. Mulher nenhuma tinha coragem de usar blusa decotada e vestidos acima dos joelhos, menos ela.
Eu a conheci na casa do advogado Luiz Soares, em São Felix, na qualidade de vendedora autônoma de joias. Já era amiga da minha madrinha, Laura, que sofria velada discriminação por ser “filha natural” do renomado causídico, e, sobretudo, por namorar Julião, um afrodescendente que ainda por cima era pai de dois filhos.
O mais interessante é que Noêmia tomou parte ativa da campanha para eleger Julião prefeito da Cachoeira, sobretudo porque ele era amigo do seu esposo, seu Linhares, no entanto, depois de eleito, Laura transformada em Primeira Dama do município, ela simplesmente se encolheu, jamais participou de qualquer banquete, apesar de insistentemente convidada. Ela era uma mulher de “cair no trampo” como diz a patuléia, não era do seu caráter ficar mamando nas tetas da Viúva.
Quando jovem, Noêmia antecedeu em muitos anos a musa Leila Diniz, por ser uma pessoa inimiga de todas as convenções impostas pela sociedade daquela época, criando, por isso mesmo, raízes no imaginário dos seus contemporâneos, até porque era uma morena lindíssima, olhos insinuantes, cabelos longos e negros como o negrume do mar, - conforme definiu o poeta -, e um corpo escultural.
Se a Leila Diniz contou com o pessoal de “O Pasquim” (Sérgio Porto, Henfil, Jaguar, Millor, Ziraldo e Sérgio Cabral, pai), Noêmia encontrava no Doutor Lemos, promotor da Comarca da Cachoeira, um fã incondicional que, através das páginas do semanário “Correio de São Felix”, declarava a sua incontrolada paixão por ela. Ela, todavia, amava Linhares, chefe da Receita Federal em São Felix, com quem viria contrair núpcias e de cuja união nasceu seu único filho, Linharinho, a quem ela, após ficar viúva, dedicava todo a sua atenção e amor.
Da última vez que estive na Cachoeira, no ano passado, senti a sua ausência. Alguém me informou que ela continuava morando em Salvador (não recordo, também, se era com o seu irmão caçula, Bibita ou com o seu filho) e que não demonstrava qualquer vontade de retornar à terra natal. Eu a compreendo. A Cachoeira que ela amava de fato não existe mais, os tempos mudaram, mas, a Cachoeira que existia dentro dela estava viva em sua memória e ela não desejava enfrentar a dura realidade.
Ao fazermos esta singela homenagem à sua memória, aproveitamos o ensejo para abraçar virtualmente aos seus familiares, a Linharinho, seu filho adorado, Bibita (que foi centroavante do Bahia cachoeirano quando eu estava presidente do clube) e meu particular amigo e colega Heraldo Cachoeira.
Por *Erivaldo Brito
ACESSO AOS BLOGS relacionados à minha terra uma, duas, três vezes ao dia, invariavelmente, à cata de notícias. É o apego telúrico que não me larga. Ao falar ao telefone com o meu irmão, Erione, fui comunicado do infausto falecimento, em Salvador, de Noêmia, uma cachoeirana possuidora de uma resiliência notável na superação de obstáculos e resistência às pressões de uma sociedade hipócrita, no tempo da chamada repressão vitoriana contras as mulheres. Temos de confessar que, embora menino, tal comportamento rebelde simplesmente me fascinava. Mulher nenhuma tinha coragem de usar blusa decotada e vestidos acima dos joelhos, menos ela.
Eu a conheci na casa do advogado Luiz Soares, em São Felix, na qualidade de vendedora autônoma de joias. Já era amiga da minha madrinha, Laura, que sofria velada discriminação por ser “filha natural” do renomado causídico, e, sobretudo, por namorar Julião, um afrodescendente que ainda por cima era pai de dois filhos.
O mais interessante é que Noêmia tomou parte ativa da campanha para eleger Julião prefeito da Cachoeira, sobretudo porque ele era amigo do seu esposo, seu Linhares, no entanto, depois de eleito, Laura transformada em Primeira Dama do município, ela simplesmente se encolheu, jamais participou de qualquer banquete, apesar de insistentemente convidada. Ela era uma mulher de “cair no trampo” como diz a patuléia, não era do seu caráter ficar mamando nas tetas da Viúva.
Quando jovem, Noêmia antecedeu em muitos anos a musa Leila Diniz, por ser uma pessoa inimiga de todas as convenções impostas pela sociedade daquela época, criando, por isso mesmo, raízes no imaginário dos seus contemporâneos, até porque era uma morena lindíssima, olhos insinuantes, cabelos longos e negros como o negrume do mar, - conforme definiu o poeta -, e um corpo escultural.
Se a Leila Diniz contou com o pessoal de “O Pasquim” (Sérgio Porto, Henfil, Jaguar, Millor, Ziraldo e Sérgio Cabral, pai), Noêmia encontrava no Doutor Lemos, promotor da Comarca da Cachoeira, um fã incondicional que, através das páginas do semanário “Correio de São Felix”, declarava a sua incontrolada paixão por ela. Ela, todavia, amava Linhares, chefe da Receita Federal em São Felix, com quem viria contrair núpcias e de cuja união nasceu seu único filho, Linharinho, a quem ela, após ficar viúva, dedicava todo a sua atenção e amor.
Da última vez que estive na Cachoeira, no ano passado, senti a sua ausência. Alguém me informou que ela continuava morando em Salvador (não recordo, também, se era com o seu irmão caçula, Bibita ou com o seu filho) e que não demonstrava qualquer vontade de retornar à terra natal. Eu a compreendo. A Cachoeira que ela amava de fato não existe mais, os tempos mudaram, mas, a Cachoeira que existia dentro dela estava viva em sua memória e ela não desejava enfrentar a dura realidade.
Ao fazermos esta singela homenagem à sua memória, aproveitamos o ensejo para abraçar virtualmente aos seus familiares, a Linharinho, seu filho adorado, Bibita (que foi centroavante do Bahia cachoeirano quando eu estava presidente do clube) e meu particular amigo e colega Heraldo Cachoeira.
*Erivaldo Brito, cachoeirano, advogado, radicado na cidade do Rio de Janeiro/RJ
Querido Prof. Pedro Borges,
ResponderExcluirVenho neste momento agradecer através de O Guarany, as lindas palavras no nosso amigo Erivaldo Brito, falando de minha Mãe.
Falando um pouco sobre ela, até o ultimo momento estava com a plena consciencia. Alma pura não tinha distição de um carroceiro ou de uma primeira dama do municipio, nossa casa era abrigo para quem batesse na porta. Nunca faltou comida a nossa mesa, a casa sempre cheia. Depois que meu pai faleceu, a Noemia mostrou que garra era com ela, se virando como podia para sustentar um casa com mais de 15 pessoas. Foi com sua FE, FORÇA E CORAGEM(seu lema) que conseguiu tudo na vida. Me formei em Administração de Empresas e pude através de seus ensinamentos ter o maior conhecimento que nenhum faculdade pode dar.
Agradeço a Deus por ter-la por 85 anos 9 meses e 15 dias.
Dia 15 de Maio faremos uma missa de 30 dia de partida dela, na igreja da pituba às 17:30 (Nossa senhora da Luz).
Por favor repasse para o Prof. Erivaldo.
Obrigado Antonio Linhares
Antonio Linhareshttp://aplinhares@hotmail.com