Francisco José de Mello*
Há cerca de 20 anos ou pouco mais, quando eu ainda estava em Salvador, conheci um estudante de Direito, da famosa Academia do Largo de São Francisco, São Paulo.
O estudante visitava Salvador, e em conversa me disse, que segundo ele sabia, o petróleo brasileiro devia sua descoberta, ao escritor Monteiro Lobato.
Então, contei-lhe sua verdadeira história e o preço que seu descobridor teve que pagar, pela sua teimosia de provar que havia petróleo em nossa terra, tornando-se vitima de uma das maiores injustiças, praticadas em nosso amado Brasil, o jovem estudante ouviu-me atentamente, demonstrando perplexidade e revolta, assegurando-me que ao voltar para São Paulo, iria escrever uma matéria para a “Folha de São Paulo”. Não sei se ele chegou a fazer, pois, o fato continuou ignorado.
Tenho certeza de que, maioria absoluta dos brasileiros, ou mesmo os baianos não a conhecem, especialmente aqueles que nasceram nas ultimas décadas do século XX, por tal razão, resolvi contar aos que lêem meus ensaios, pois, acredito que nenhum deles, conhece a história desse grande brasileiro, homem inteligente, determinado, estóico, que se tivesse nascido em outro país (lamentavelmente digo esta verdade), teria recebido a consagração, a respeito, e a eterna gratidão do seu governo e seu povo.
Eis a historia. Na década de 30, ocupava a Presidência da Bolsa de Mercadorias da Bahia, um homem portador de grande intimidade com a mineralogia, capaz de identificar, sem grande dificuldade, qualquer pedra, resíduo de arenosos ou calcários que lhe trouxessem para análise. Seus conhecimentos geológicos eram de uma profundidade extraordinária. Seu nome: Oscar Cordeiro. De estatura abaixo da medida, ele era comunicativo, atuante, e um pesquisador arguto. Em suas andanças pelos subúrbios de Salvador descobriu que alguns moradores das camadas mais pobres do Lobato, por falta de dinheiro para comprar querosene, vinha usando um óleo escuro que ali era encontrado, e o fato chamou-lhe atenção.
Voltou varias vezes ao local para colher amostras do óleo, e começou a fazer, seguidos testes durante muitos dias, e adquiriu a certeza que ali, no Lobato, havia um lençol petrolífero, a que sua descoberta seria à redenção de um país que importava todos os derivados de petróleo. Vivíamos em pleno ESTADO NOVO em 1937, era um regime arquitetado por Francisco Campos, baseado no fascismo italiano, e todas as leis do país, passaram a ser ditadas pelo arbítrio do seu dirigente, o ditador Getúlio Vargas. Tanto o poder Legislativo, como o Judiciário, não possuía poder decisório.
OSCAR CORDEIRO preparou um relatório com todas as minudências, e enviou para Getúlio Vargas. Mas, só depois de muita insistência foi nomeada uma comissão composto por cinco geólogos para que estudassem a área do Lobato e emitissem parecer.
Evidentemente, tal descoberta contrariava os interesses dos cartéis que dominavam o mercado dos produtos derivados de petróleo e por tal razão a comissão dos cinco geólogos (já vendidos aos cartéis) em seu relatório dizia que na área do Lobato, só existia vestígio de xisto betuminoso, e não petróleo, e que Oscar Cordeiro era um visionário.
Para Vargas, valeu a opinião dos geólogos, e o assunto foi encerrado, mas despertaria a revolta de OSCAR CORDEIRO, que decidiu lutar sozinho, contrariando os interesses das empresas distribuidoras dos derivados de petróleo, arriscando tudo.
Sabia das dificuldades que iria encontrar, porém não se aterrorizou diante deles. Os meses se arrastavam na sua luta, sacrificou seus salários, tomou empréstimo a vários amigos para adquirir uma velha sonda de fabricação francesa, em 1938. Para sua montagem contou com o auxílio de um engenheiro Francês, que se prontificou em ajudá-lo, e depois de meses, conseguiu pô-la em funcionamento, e passou a trabalhar incessantemente nos trabalho de prospecção, costeando todas as despesas com enorme sacrifício, acompanhando dia-a-dia, a perfuração do poço.
No dia 21 de janeiro de 1939, o petróleo jorrava no Lobato. Era a vitória do intemerato brasileiro.
OSCAR CORDEIRO, tomado de indescritível emoção não vacilou em perder o terno de linho branco irlandês que usava no momento, e tomou um banho do petróleo do Lobato, o “ouro negro” como era chamado, que poderia trazer a redenção do seu país.
O jornal “A TARDE” do dia seguinte, estampou a foto do histórico banho, que para OSCAR CORDEIRO era o banho mais importante da sua vida.
A sua tenacidade, seu vasto conhecimento, seu estoicismo, havia prevalecido contra o dúbio relatório que o chamara de visionário.
Agora pasmem os meus leitores!
Como ainda estávamos no Estado Novo e ainda era interventor da Bahia, o integralista (fascista brasileiro), em seu primeiro ato, depois da descoberta do petróleo, foi interditar a área do Lobato e impedir a entrada de OSCAR CORDEIRO, na área onde ele havia empregado todas as suas reservas, todo seu esforço e parte da sua vida, como “prêmio” pelo seu extraordinário feito, foi demitido da Presidência da Bolsa de Mercadorias da Bahia, pelo crime de provar a existência do petróleo em nossa terra, apesar de ser considerado um visionário.
Seus conhecimentos geológicos garantiram sua sobrevivência, porque continuava procurado. Sofreu na pele, a ingratidão daqueles que por dever, deveriam render-lhe homenagem, como bem feitor da Nação, e o réprobo que contrariou os interesses das multinacionais. 11 anos depois, caberia ao estadista, e um dos governadores da Bahia, Otávio Mangabeira, amenizar a injustiça, concedendo-lhe um prêmio como reconhecimento da Bahia, uma espécie de prêmio indenizatório no valor de CR$1.000.000,00, infinitamente pequeno para o mérito da descoberta, e que talvez não cobrisse tudo aquilo que ele havia empregado.
Não sei a razão por ver seu nome totalmente esquecido; pois, eu pergunto a você que está lendo o ensaio se já ouviu alguma vez o nome do descobridor do petróleo brasileiro. Acredito que ninguém sabia, nem sabe.
A primeira refinaria construída de Mataripe, por justiça, deveria chamar-se refinaria OSCAR CORDEIRO; mas foi denominada Landufo Alves, como a alegação de que ele defendeu a estatização do petróleo brasileiro, como ocorre em todas as ditaduras, e ele era fascista.
O nome OSCAR CORDEIRO diluiu-se com tempo, e que só agora você que está lendo meu ensaio ficou conhecendo o herói que se tornou esquecido e que por tal razão, escrevi o ensaio para cultuar o herói, que a nação esqueceu.
Cachoeira, janeiro de 2010.
*Francisco José de Mello, escritor, falecido em 2010.
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