EU VI E OUVI o velho Neco Ourives, com aquela voz mansa, inerente aos sábios, falar da Cachoeira do seu tempo;
Eu vi o Vapor Paraguaçu despontar por trás do farol da Pedra da Baleia, aplacando a ansiedade dos que estavam para os que chegavam;
Eu vi os frutos maduros dos oitizeiros caindo aos borbotões no Jardim Grande;
Eu vi a alegria desesperançada das charuteiras da Leitalves nos Ternos de Santa Cecília e da Ajuda;
Eu vi no tamarindeiro do adro do Monte, um trio de cigarras vocalizando freneticamente o fim do verão;
Eu vi numa maré de “malço”, cheiro de maresia, águas beirando o cais apinhado de gente, ”baronesas” descendo em enorme velocidade, e o jovem Nini (irmão do meu amigo Heraldo Cachoeira), tal qual o Príncipe Submarino conseguindo ultrapassá-las, nadando;
Eu vi Zé da Peida cantando a música “Solidão” de Núbia Lafayette, (“não, não quero mais o seu amor/chega de amar, chega de dor/e de esperar em vão...”) no show de Cauby Peixoto, no Cine Glória, Santaninha subindo ao palco pra dançar com Cauby;
Eu vi a forte sexualidade e o jeitinho de sapatear das baianas do Samba de Roda da Suerdieck, onde a minha amiga Dalva Damiana desfilava com aquele altivo porte de uma majestade;
Eu vi meninos, eu vi a putaria poética do brega cachoeirano, onde Gildásio do saxofone e o ritmista Felinho, no pandeiro, animavam o “Baile da Agulha”, aos sábados, no velho sobradão dos Vacarezza;
Finalmente, meninos, tenho de reconhecer o óbvio: não há como voltar o relógio do tempo, afinal, a gente só dimensiona o valor real do que seja saudade depois de idoso. Afirmo a vocês, meninos, que não é porque vocês não viram que o que descrevo nesta crônica de fato não aconteceu.
Tudo isso que Erivaldo Brito conta nesta crônica memorial, aconteceu! Aconteceu mesmo! Eu vi e ouvi tudo isso e tenho muitas saudades.
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