quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CACHOEIRA/BA: MEMÓRIA

Missão Adventista na Cachoeira
Por Erivaldo Brito

Encontrei-me por acaso com o professor e ex-vereador Antonio Pereira de Souza, carinhosamente alcunhado como Tonho Moleza (segundo Caymmi, uma característica de todos os baianos), na residência do saudoso amigo e memorialista Chiquinho Melo. Fomos adquirir o livro “Crônicas Memoriais” do referido escritor e poeta cachoeirano.


Na sala de visitas da casa de Chiquinho, começamos a divagar quando Tonho disse o seguinte:
- Sabe Erivaldo, estive no IAENE durante a comemoração de sua fundação. Fiquei chateado porque em nenhum momento se falou em seu nome. Pedi a palavra, e, na qualidade de testemunha ocular, falei da sua atuação para que a Instituição fosse ali instalada.


Agradeci ao amigo pela lembrança. Na realidade, completam-se 34 anos da assinatura da Escritura de Compra e Venda do imóvel onde a Instituição de Ensino se encontra, no Capoeiruçu. Sem qualquer pretensão de obter dividendos políticos, apenas para registrar a memória, como alias venho fazendo com outros fatos do passado, relatarei aqui os acontecimentos dos quais fui um dos protagonistas.

Não sei precisar de memória o dia certo. Acredito que foi nos primeiros dias de janeiro do ano de 1978, pela manhã. Encontrava-me desde cedo na secretaria da prefeitura da qual eu era o titular, cuidando da parte burocrática. De repente, seu Cícero entrou acompanhado dos pastores Walcy, Isidro, Zilton Krüger, Alfredo Holtz (então presidente da instituição) o simpaticíssimo seu Raimundo Santana, empresário do ramo da indústria de artefatos de couro, irmão do dono da rede de Farmácias Santana.

Foi o seu Santana quem havia sugerido a instalação do projeto Escola de Profetas da Missão da Bahia - IAENE - da Igreja Adventista do Sétimo Dia para Cachoeira, cidade em que ele se hospedava no Hotel Colombo quando era viajante. Ele guardava boas memórias e começou a me inquirir sobre algumas pessoas que ele conheceu, grande parte já no Andar de Cima. O prefeito Ariston Mascarenhas não havia chegado, ainda, e eu dei graças a Deus. Trabalhar com Ari era muito complicado, por qualquer foi não foi, ele metia os pés pelas mãos, exibindo o vasto repertório de baixaria e palavrões. Tudo dependia do humor do dia.

Na conversa com os pastores, eles deixaram bem claro que a propriedade deveria ser na zona rural, alegaram que algumas cidades como Recife e Feira de Santana disponibilizaram gratuitamente alguns terrenos urbanos e eles recusaram. Na viatura em que eles vieram eu embarquei. Visitamos Belém, Murutuba e o Capoeiruçu onde eles se encantaram com a fazenda de propriedade de Clóvis Chastinet de Vasconcelos que, coincidentemente, me havia sido apresentado por Alexandre na Gruta Azul. Eu não perdi tempo: comecei a “vender” o Capoeiruçu como um lugar promissor. Ali já passava a BR 101, a linha férrea passava na propriedade desejada, em breve teríamos o lago da barragem de Pedra do Cavalo, só faltando mesmo um aeroporto, além da proximidade com a Cachoeira e outras cidades importantes do interior baiano. Demos as mãos e oramos no local. A aprovação do local foi unânime entre os membros da comitiva. Retornamos então. Quando chegamos na Prefeitura Ari havia chegado e estava bem humorado. Deus ouviu as minhas preces no Capoeiruçu. Eu mesmo me encarreguei em apresentar o prefeito a cada um dos visitantes, demorando-me em seu Santana, na esperança de que ele o conhecesse. Não o conhecia, infelizmente, mas o cumprimentou efusivamente.

Quando o pessoal retornou para Salvador, deixando para mim o encargo de manter contato com o proprietário do imóvel, Ari me perguntou: - Eri, você acha mesmo que vai ser legal pra Cachoeira? A gente não já tem profeta, pastores e crentes de dar com o pau por aqui? Respondi-lhe com firmeza: - Cabo (ele tinha um irmão que era oficial da Marinha e gostava de ser chamado de “cabo” que foi o posto máximo que ele galgou no Exército), eu vi o Projeto, o Plano Piloto, eles pretendem implantar cursos de nível superior, virão dezenas de alunos de várias partes do Brasil, e o que ele mais queria ouvir: a prefeitura não iria gastar nada!

Na semana seguinte, o pessoal do IAENE retornou para nova visita ao Capoeiruçu trazendo o autor do Plano Piloto. O prefeito já estava entusiasmado com o projeto. Combinamos sigilo absoluto, por sugestão minha, tendo em face outros projetos antigos que não deram certo, que foram boicotados pela especulação imobiliária, por inveja e, sobretudo, por causa da política rasteira que era a tônica da cidade desde que me entendo como gente.

No dia seguinte, segui para Salvador. Alexandre havia me dado o endereço comercial de Clovis. Encontrei-o no seu açougue. Fiz uma longa explanação sobre o que significava para a Cachoeira o projeto que os Adventistas queriam implantar, que aquela era uma oportunidade ímpar, etecétera e tal. Chastinet pegou o copo de cerveja que estava tomando, deu a última golada, pegou a garrafa, voltou a encher o seu copo, suspirou e disse:
- Brito meu amigo, infelizmente eu não posso fazer nada para ajudar vocês!
A minha pressão deve ter ido pra casa do cacete porque senti as mãos ficarem geladas. E ele explicou, finalmente: - Estou em processo de separação com a minha mulher, a fazenda do Capoeiruçu ficou pra ela, na partilha. Gentilmente ele deu-me o endereço e como encontrar a ex-mulher. Resolvi ficar então em Salvador. No dia seguinte, fui até ao local do apartamento da ex-mulher, indicado por Clovis. A dona Cleodite (era este o nome dela) recebeu-me friamente. Após aquele beijo nas bochechas com a frieza protocolar exigida, a dona Cleodite meteu o pau no ex-marido por mais de uma hora. Fiquei pacientemente escutando e, por vezes, balançava a cabeça acordando com ela, claro. Fazer o quê? Achando que já havia ganhado a confiança dela, fui direto ao assunto com o coração na mão, mas, ele encheu-me de esperança: - Não pretendo de jeito nenhum voltar para aquele local de recordações amargas para mim. Não quero nada em minha vida que me lembre aquele sujeito. Tirei tudo o que tinha direito e até o que não tinha daquele desgraçado pinguça, só deixei pra ele a amargura da separação pra ele chorar a vida toda.
Direito de Família, gente, é uma baixaria! Tive de fazer um esforço danado pra não dar uma gargalhada. Respirei fundo e perguntei pra ela:
- Dona Cleodite, a senhora já tem idéia do quanto está pretendendo pela propriedade? Já existe algum pretendente? E ela me tranqüilizou: - Não, não tem ninguém, o senhor é o primeiro! Vou combinar com o meu “adevogado” o Dr. Mario Marques e falarei depois com o senhor, amanhã.

Quando chegou o “amanhã” depois de haver passado a noite em claro sem conseguir me ver livre do assunto, retornei ao apartamento da dona Cleodite. Lá estava o seu “adevogado” o Dr. Mario Marques. Bateram o martelo: três milhões de cruzeiros! Era uma grana preta, cara!
Pra não perder tempo, dirigi-me até a sede da Missão Adventista da Bahia. Fui recebido pelo presidente Alfredo Holtz e o pastor Zilton que era o Secretário da Missão. Marcaram uma reunião com o Dr. Milton Afonso, presidente da Golden Cross. Fomos então ao seu encontro. Havia a necessidade da aprovação de qualquer doação por parte da Diretoria de empresa. Nada mais restava se não aguardar em casa. Em Cachoeira, foram dias de suspense até que o pessoal da Missão ligou,dizendo que a Golden havia doado os três milhões para aquisição da fazenda. Combinei com o pessoal da Missão e com o advogado de dona Cleodite, expedi convites para uma reunião na Câmara de Vereadores para a tarde de 23 de fevereiro de 1978, quando foi assinada a Escritura de Compra e Venda do imóvel. Como tudo o que acontece na Bahia, vários oradores se fizeram ouvir. A maioria tomou conhecimento na hora. A filarmônica Minerva Cachoeirana foi convidada e fez-se presente. Foi, também, elaborada um ata.

No dia 14 de outubro de 1979, era lançada a pedra fundamental, por isso é que o dia é considerado com o da fundação do colégio. O grande destaque que fazemos questão de ressaltar é para o pastor Walcy Walfredo Santos, que administrou com enorme competência todo os empreendimentos da construção em sua fase inicial.

Morando na Vila Residencial da Desenvale, em Muritiba, fui levar o meu filho caçula e xará, Brito Filho, Tinho, para o curso de alfabetização no IAENE. Não mais existia nenhum dos pastores da fase inicial, nem o velho Raimundo Santana, no entanto, ao rever o marco piramidal que foi levantado, (foto abaixo) lembrei-me do pastor Alfredo Holtz que no ato da sua inauguração, disse o seguinte: “o marco piramidal estava apontando para o alto, testificando em suas três faces, as dimensões da educação cristã; intelectual, física e espiritual”. Mente corpo e alma.



2 comentários:

  1. esposa, Luiza, congratulando-me com Lêda, minha ex-esposa e mãe dos meus filhos baianos e minha própria mãe, Ester, mulher semelhante à homônima bíblica que é símbolo de luta e perseverança e que, mercê de Deus, estará completando noventa aninhos no próximo mês de junho.”

    Diante de todo o desrespeito, leviandades, calúnias e injúrias que o Sr. Erivaldo escreveu a respeito de nossa mãe, ficamos a imaginar qual seria a sua reação se assim o fizessem com as mães que ele se referiu na sua crônica.

    O Sr. Erivaldo, ao relatar a sua intermediação na compra da Fazenda Capoeirucú, faz afirmações inverídicas – não sabemos com que propósitos – atribuindo a nossa mãe frases chulas e ofensivas, que tendo em vista a sua educação – e quem a conhece sabe disso – jamais ofenderia a seu ex-marido, a quem sempre devotou um grande amor.

    Nos causa ainda estranheza as afirmações do Sr. Erivaldo no sentido de que o produto da venda da Fazenda de Capoeiruçú, adquirida pelo Município de Cachoeira, com recursos doados pela Golden Gross, tenham sido integralmente pagos a nossa mãe. Ele como intermediário de uma operação que envolveu doação de uma entidade filantrópica e o poder público, deve ter plena consciência de que suas afirmações são inverídicas.

    Como “guardião da memória” de Cachoeira, que no seu relato citou os nomes das pessoas e dos políticos envolvidos na operação de aquisição da Fazenda Capoeiruçú, o Sr. Erivaldo deve nos informar como foi “distribuído” a “grana preta” a que ele se referiu, pois, temos inteira convicção de que a mesma não chegou a nossa mãe.

    O Sr. Erivaldo Brito, que é também “advogado” ou “adevogado”, deve saber que ao denegrir publicamente a imagem da nossa mãe cometeu um crime de difamação e calúnia, devendo arcar com as consequências. Nesse sentido, estamos dando-lhe a oportunidade de retratação das suas ofensas pelos mesmos veículos de comunicação que as mesmas foram veiculadas.

    Salvador, 09 de maio de 2013

    Telma Pinto de Vasconcelos
    Marcia Pinto de Vasconcelos
    Maria Vitória Pinto de Vasconcelos Abreu
    Cleomenes Pinto de Vasconcelos
    Ana Pinto de Vasconcelos Andrade

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  2. Carta aberta ao Sr. Erivaldo Brito


    - Em defesa da nossa mãe Cleodith Pinto de Carvalho Vasconcelos


    Recentemente fomos informados por nossos familiares que o Sr. Erivaldo Brito, relatando a história do IAENE em Cachoeira, publicou no seu blog http://jornaldeontemhojeesempre.blogspot.com.ar/2013/04/memoria-brito-secretario-historico-do.html e também no jornal O Guarany de Cachoeira http://jornaloguarany.blogspot.com.ar/2012/02/cachoeiraba-memoria.html informações levianas, mentirosas e irresponsáveis a respeito da nossa mãe, Cleodith Pinto de Carvalho Vasconcelos, antiga proprietária da Fazenda Capoeiruçú, onde foi instalado o IAENE.

    Conta o Sr. Erivaldo nas suas publicações, de forma jocosa e desrespeitosa, que intermediou a compra da Fazenda Capoeiruçú, e no relato, atribuiu a nossa mãe a seguinte frase:

    "Por mim eu não piso os pés mais naquela merda (Fazenda Capoeirucú) onde eu só tive aborrecimentos. Vou falar com o meu adivogado pra estabelecer o preço."

    Tratando do mesmo assunto no Jornal O Guarany, o Sr. Erivaldo foi mais além com suas atitudes desrespeitosas, relatando mentiras sobre o processo de separação dos nossos pais, atribuindo novamente a nossa mãe a seguinte afirmação:

    “Não pretendo de jeito nenhum voltar para aquele local de recordações amargas para mim. Não quero nada em minha vida que me lembre daquele sujeito (ex marido, Clóvis Chastinet). Tirei tudo o que tinha direito e até o que não tinha daquele desgraçado pinguça, só deixei pra ele a amargura da separação pra ele chorar a vida toda.”

    Complementa o Sr. Erivaldo no seu famigerado texto:

    “Direito de Família, gente, é uma baixaria! Tive de fazer um esforço danado pra não dar uma gargalhada. Respirei fundo e perguntei pra ela:
    - Dona Cleodite, a senhora já tem idéia do quanto está pretendendo pela propriedade? Já existe algum pretendente? E ela me tranqüilizou: - Não, não tem ninguém, o senhor é o primeiro! Vou combinar com o meu “adevogado” o Dr. Mario Marques e falarei depois com o senhor, amanhã. Quando chegou o “amanhã” depois de haver passado a noite em claro sem conseguir me ver livre do assunto, retornei ao apartamento da dona Cleodite. Lá estava o seu “adevogado” o Dr. Mario Marques. Bateram o martelo: três milhões de cruzeiros! Era uma grana preta, cara!”

    Em uma crônica publicada há um ano, no site juracirebouca.com, o Sr. Erivaldo, ao homenagear todas as mães, escreveu no final:

    “Abraço virtualmente todas as Mães que eu conheço, sobretudo as novas mamães, Marianne e Rose, volvendo o meu pensamento para a mãe que foi a minha saudosa

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