quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ACONTECEU EM CACHOEIRA/BAHIA

MEMÓRIA ESPORTIVA
É penta! É penta! É penta!

Por Erivaldo Brito

A Cachoeira e os cachoeiranos têm a mania de antecipar aos fatos. Assim o foi em junho de 1822, quando desafiaram o poderio econômico e bélico de Portugal, na exaltação cívica em prol da nacionalidade brasileira, enfrentando-o em luta armada, e, dez anos depois, no dia 19 de fevereiro de 1832, na mesma histórica Câmara de Vereadores, através do denodado capitão Bernardo Miguel Guanais Mineiro, proclamar o Regime Republicano, 56 anos antes que tal fato fosse consumado no Rio de Janeiro.
Bem, amigos da Rede Globo, enquanto a torcida brasileira gritava “é tetra!”, a patuleia cachoeirana, embalada pela Charanga da Minerva (foto acima) saia às ruas da Heróica gritando “É penta! É penta! É penta!”
O selecionado cachoeirano de futebol conquistou o tri-campeonato no dia 28 de fevereiro de 1971 vencendo os tradicionais adversários sanfelixtas no Estádio 25 de Junho por 3 a 1, gol de Bebeu (sanfelixta de nascimento e que foi, recentemente, prefeito da sua cidade), Telmo e Judinho, enquanto Orelha de Coelho (cachoeirano) fazia o ponto de honra dos perdedores.
A seleção tri-campeão naquele jogo teve a seguinte formação: Iberê, Calazans, Wilson Pavão, Balaio e Deca. Mimiu e Chico (depois Juracy). Naguerete, Judinho, Bebeu e Ainho (Telmo).
A conquista do tetra dependia de um empate apenas, e a seleção jogava em casa, embora o adversário, a seleção de Feira de Santana fosse um adversário de respeito.
A estratégia dos feirenses consistia em bagunçar o coreto, o que levaria à realização de uma nova partida em campo neutro.
Estádio 25 de Junho, domingo, dia 9 de março de 1975. Numa verdadeira afronta à autonomia municipal, mais de 40 policiais lotados em Feira de Santana se apresentaram para “dar segurança e integridade aos jogadores feirenses”. O objetivo, naturalmente, era inibir, intimidar os torcedores locais que eram revistados, apalpados à entrada do estádio como se marginais fossem.
À frente da delegação cachoeirana ao chegar ao estádio estava o Deputado Raimundo Rocha Pires, Pirinho, que era o presidente da Liga. Quando o oficial comandante aproximou-se de Pirinho, este tentou mostrar-lhe as credenciais e foi violentamente empurrado. Pirinho não era de levar desaforo pra casa, mas, felizmente, foi contido por mim, Adolpho Gottschal, Dr.Claudiano e Lourival Melo, dentre outros, advertindo-o sobre a estratégia dos feirenses em tentar interditar o campo por falta de segurança, e, sobretudo o enorme perigo se toda aquela gente soubesse que ele fora agredido na entrada do campo. Seria uma verdadeira carnificina.
Ivone Soares que era secretária da Assembléia Legislativa do Estado também sofreu constrangimento na porta do estádio, sendo levada para a Casa de Saúde Santo Antonio de seu cunhado Dr. Aurelino Serafim dos Anjos, vindo a falecer hora depois, em Salvador, enfartada.
Por sorte o saudoso professor Álvaro Freitas chegou atrasado, pois também não era homem de levar desaforo pra casa e tinha um temperamento explosivo, não obstante ser afetuoso com os seus amigos.
Então, meu amigo, finalmente a partida teve início após o apito do árbitro Nilton Tranquile da Federação Baiana de Futebol, verificando-se, ao final, um empate sem abertura do placar sagrando-se a Cachoeira mais uma vez vencedora.
A seleção do tetra formou com a seguinte constituição: Lacrau, Putuca, Bermuda, Deca e Roque M inha Rola. Binha e Mimiu, Humberto (Balainho), Dila, Naguerete e Toinho.
A conquista do penta, amigo, de novo no Estádio 25 de Junho, foi a partida mais emocionante e inacreditável que eu presenciei em toda a minha vida de torcedor. Se você foi testemunha ocular vai concordar comigo.
Era o domingo, dia 4 de janeiro de 1976. Havia no ar aquele clima de suspense. O jogo começou tenso até que Bebeu, aos 39 minutos, abriu o placar para os cachoeiranos e o atleta Renan da seleção de Ibicarai foi expulso.
Ao contrário do que seria lógico com um jogador a menos, Ibicarai reagiu empatou e logo passou à frente do placar com dois gols marcados por Melquíades no 2° tempo, o primeiro aos 35 minutos e o segundo, - acreditem-, aos 45 minutos. Restava apenas o quê? Dar a saída e ponto final! Pude observar que grande parte da torcida já havia saído. Gente de pouca fé! Dada a saída, Almeida tentou fazer aquele gol de fora da rua, aquele gol que nem Pelé conseguiu fazer. E Almeida conseguiu! Gol! Gol da seleção da Cachoeira! Incrível! Fantástico! Extraordinário!
A partida teve de ser resolvida em uma prorrogação. Logo no seu início, Pedrão, vigoroso zagueiro de Ibicarai desviou uma bola com a mão. Dentro da área é pênalti sem contestação. Quando Tião partiu para fazer a cobrança da infração, a torcida deu as mãos na chamada corrente pra frente. Partiu com confiança e... Gol!
Dois minutos depois, o mesmo herói da rodada, aquele do gol salvador, Almeida, voltou a marcar e o selecionado cachoeirano conquistou o penta campeonato naquela partida memorável para os privilegiados que a assistiram.
Naquele jogo, o selecionado cachoeirano jogou com: Acácio, Calazans, Bermuda, Deca e Putuca, Bruno (Almeida) e Binha, Tião, Bebeu, Dila e Toinho (depois Balainho).


Uma das melhores formações da seleção cachoeirana, da esquerda para a direita, em pé: Deca, Iberê, Calazans, Balaio, Bruno, Roque Minha Rola e Carlyles (técnico)
Agachados: Tião, Dila, Bebeu, Chico e Ainho.

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