sábado, 10 de dezembro de 2011

Divisão do Pará cortará sete terras indígenas; entidade vê ameaça a povos

Guilherme Balza
Do UOL Notícias, em Marabá (PA)

A possível divisão do Estado do Pará em três novas unidades cortaria pelo menos sete terras indígenas situadas na porção central do Estado. Tomando por base o mapa da Funai (Fundação Nacional do Índio), as divisas dos novos Estados passariam por cima das terras Kayapó, Menkragnoti, Apyterewa, Araweté, Trincheira Bacajá, Koatinemo e Ituna-Itatá.

Segundo Marcos Antonio Reis, 35, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Pará e Amapá, na região de Carajás todos os povos indígenas são favoráveis à divisão, exceto os Akarãtika-Tejê, conhecidos como Gavião da Montanha. A etnia divide a reserva Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, com outros dois povos, o Gavião Kyikatejê e o Gavião Paraketejê.

Foto 98 de 108 - Belém - Ponto de embarque e desembarque de pescadores na baía de Guajará; local está tomado por lixo e urubus Mais Carlos Madeiro/UOL

“Os Akarãtika-Tejê perderam todas as suas terras por conta da Hidrelétrica de Tucuruí na década de 70. Atualmente, travam uma luta política contra a Eletronorte para que não seja construída a hidrelétrica de Marabá e são contra a duplicação da ferrovia da Vale (Estrada de Ferro Carajás), que corta a reserva delas. Eles acham que a divisão obecede a interesses de mineradoras e políticos aliados delas e, por isso, são contra”, diz Reis.

Você é a favor da divisão do Pará?
  • Sim, sou a favor da criação dos dois Estados
  • Sou a favor da criação apenas de Carajás
  • Sou a favor da criação apenas de Tapajós
  • Não, sou contra qualquer divisão
  • Não sei/indiferente
Ver resultado

Caso a divisão ocorra, o Estado do Carajás terá 36,4% do território ocupado por terras indígenas e áreas de proteção ambiental. Em Tapajós, o percentual sobe para 73,5%. Na avaliação do Cimi, a divisão do Pará incentivaria os produtores rurais e mineradoras a avançar sobre estas áreas, além de dificultar a demarcação de novas terras. Há, na região de Carajás, pelo menos 15 processos envolvendo a demarcação de reservas.

Confira a cobertura em vídeo sobre o plebiscíto do Pará - 9 vídeos


Grão-Pará pode virar Parazinho com plebiscito sobre divisão

A videorreportagem do UOL mostra as opiniões dos eleitores das três regiões envolvidas na votação pela criação dos Estados de Carajás e Tapajós.

“Essas duas regiões concentram a maior riqueza mineral do país. A nossa leitura é que haverá pressão sobre essas terras protegidas, o que aumentaria o desmatamento nessas regiões”, afirma o missionário.

Reis diz que o Cimi está tentando convencer os indígenas da sua avaliação, mas estes estariam mais inclinados a se seduzirem pelas “promessas de políticos”. “Por mais que a gente tente levar as informações, eles são facilmente ludibriados por políticos locais, que fazem promessas de investimento e dizem que a divisão é a única alternativa.”

Segundo o Cimi, há cerca de 5.000 indígenas em Carajás e 30 mil no Tapajós. O coordenador afirma que a posição dos indígenas na região tapajoara é, em geral, diferente da verificada em Carajás. “Ali, os povos indígenas são ressurgidos, ou seja, passaram anos negando seu passado e depois de um tempo resolveram reviver sua identidade e buscar o direito à terra. A maioria é contrária à divisão”, afirma.

Sabia que em 1709 o Brasil era dividido em apenas sete Estados?

Nenhum comentário:

Postar um comentário