O teólogo católico, Andrés Torres Queiruga, deu uma entrevista polêmica na qual afirma, entre outras coisas, que Deus não condenará ninguém ao inferno, nem mesmo Hitler. Queiruga é acusado pelo clero conservador de heresia por defender a teologia da libertação e o universalismo, ou seja, a salvação final de todas as pessoas, indistintamente.
O teólogo começa a entrevista dada ao jornalista José Manuel Vidal, publicada no site Religion Digital, reconhecendo “que até agora as pessoas se arranjaram bastante bem, com a antiga lógica com que se pensava o mal”. Segundo ele “hoje nos damos conta de que dizer que Deus é onipotente, bom, que nos quer infinitamente e que poderia acabar com o mal no mundo, torná-lo perfeito… mas que não quer, é uma contradição”.
Queiruga diz acreditar que Deus não acaba com mal presente no mundo por não ser capaz de fazer tal coisa: “Se eu pensasse que Deus eliminaria todo o mal do mundo sem que custasse trabalho nenhum, e não o fizesse não poderia afirmá-lo.”
O teólogo fala também sobre o inferno, ele diz acreditar que o inferno não é uma forma de condenação, mas a vida humana sendo arruinada pelo mal usa da liberdade pelo próprio homem: “O inferno, o transfundo do inferno, nos fala de que a vida humana pode se arruinar. Não porque Deus a castigue, mas porque nós, usando mal a nossa liberdade, não acolhendo o amor salvador de Deus, podemos estragar a nossa vida”.
O entrevistador perguntou a Queiruga se Deus condena alguém, e ele foi categórico ao afirmar que não, e que segundo suas teorias Deus não condena nem mesmo a Hitler: “Deus não sabe, nem pode, nem quer fazer outra coisa que não seja amar. Nele não há mais que amor e salvação. De Deus só nos chega salvação: Deus não castiga. Nós podemos nos negar a acolher seu amor, mas pensar que Deus nos castiga, apesar das frases da Bíblia, que devem ser entendidas como formas de se expressar, é um erro”.
Quando indagado sobre sua teoria de que o inferno não existe como lugar de condenação ele responde: “Para mim o inferno é a perda eterna de possibilidades, plenitude e felicidade”.
Para explicar seus conceitos sobre salvação, o teólogo espanhol usa Hitler como exemplo: “Pensemos em uma pessoa que morre. Em um Hitler, mesmo que não goste de falar em nomes próprios porque não temos o direito de julgar… está claro que tem toda uma parte, alguns aspectos, algumas capacidades em seu ser que o fecharam para Deus, por egoísmo, por agarrar-se ao mal. Nessa medida, Deus não pode salvá-lo. Mas, na medida em que esta pessoa mantém bondade, desejo de felicidade, luz… nessa medida, como Deus não quer outra coisa, o salvará.
Sobre os textos bíblicos que apontam para a existência do inferno e possiblidade de condenação, o teólogo compara Deus a uma mãe educando seu filho: “Um exemplo que gosto de dar é a situação de estar caminhando pela rua e ver uma mãe que diz ao seu filho: “Se fizeres isso te mato!”. Não tomemos a frase ao pé da letra, porque a preocupação da mãe não é matar o filho, mas evitar um dano” e completa: “Quanto tempo a Teologia necessitará para compreender que as ameaças divinas que aparecem na Bíblia não são mais que a preocupação do amor de Deus?”
Queiruga encerra a entrevista dizendo: “Eu quero ser um bom teólogo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário