Uma visita inesperada
POR ERIVALDO BRITO
Muitas das anotações pessoais que fiz se perderam no tempo, nas mudanças de domicílio ou então por mim mesmo jogadas fora por considerá-las já publicadas ou irrelevantes. E, por isso mesmo, não tenho certeza de quando é mesmo que foi a visita de Herry Belafonte ao Brasil. Quando é que foi mesmo ? 1965 ? 1970 ?
Como todo mundo está fazendo ultimamente, acessei a Internet, no entanto, não fui salvo pelo Google. Ali, encontrei, com alusão a visita de Herry Belafonte à Bahia, o que escreveu Zélia, esposa de Jorge Amado, no seu romance “A Casa do Rio Vermelho”. Herry era amigo pessoal do pintor Caribé e Jorge Amado, de cujo romance, “Jubiabá”, despertou-lhe o mais vivo interesse em conhecer a Bahia.
Àquela época, Herry Belafonte era considerado o Rei do Calypso, ritmo dançante calcado nos atabaques, criado pelos escravos africanos. A gravação de “Banana Boat Song” (“Come, mister Tally man, tally me banana/ Daylight come ande me wan'go home”), pela gravadora RCA, no ano de 1956, deu-lhe fama mundial e fortuna, a ponte de ele vir para o Brasil em seu avião particular, “e que não pode descer em Salvador,na ocasião, por falta de estrutura do aeroporto para voos internacionais”, segundo Zélia Gattai em sua obra já citada.
Em Salvador, Belafonte ficou hospedado no Hotel da Bahia, juntamente com a sua esposa e dois filhos do casal. A maioria do seu tempo, contudo, era na casa do casal Amado no Rio Vermelho. E deve ter sido por lá que ele tomou conhecimento da forte influência da cultura africana, em suas variadas tribos, ainda presentes na comunidade cachoeirana.
Estava no alvorecer de mais um expediente bancário, quando fui atender ao chamado do amigo Carlos Menezes, proprietário da Empresa de Transportes Odália. Fez-me, então, um convite a fim de ir até a sua casa, após o expediente, pois ele “ía receber uma visita importantíssima” e, por isso mesmo, fazia questão da presença de Os Tincoãs.
Quando cheguei na casa de Carlito naquela tarde, Dadinho e Heraldo já estavam lá. Odália, esposa de Carlito, era uma pessoa incrível no trato com as pessoas, sempre obsequiosa e elegante ao receber visitas, sobretudo de pessoas amigas.
Já na ampla sala de visitas, Carlito ligou uma moderníssima radiola dotada de um gravador. Apanhou um caderno e começou a declamar poemas de sua autoria, com Dadinho ao violão fazendo fundo musical.
A reprodução parecia ser uma gravação profissional. Animamo-nos e gravamos uma versão feita por mim de “Lua Cheia” e do clássico Le Lac de Come, que fizemos também a letra adaptando-o para o ritmo de bolero.
De repente chegava a “visita importantíssima” aguardada por Carlito; Herry Belafonte !
Soube, depois,que ele veio de helicóptero de Salvador para Belém. Alí, um carro já o aguardava para trazê-lo até Cachoeira.
Cantamos uns dois boleros enquanto o visitante sorria com se estivesse curtindo a vocalização do trio, todavia, pude perceber o seu interesse quando cantamos o baião “Zé de Báia” de Gilvan Chaves, que fazia parte do nosso repertório para show.
Ficou-me, agora, uma dúvida a ser esclarecida: quem ciceroneou o famoso cantor norteamericano na Bahia? Há uma possibilidade enorme de ter sido essa figura serena, íntegra e competente que atende pelo nome de Pedro Borges.
Em assim sendo, esta memória não terá por enquanto ponto final, ficando no aguardo de que Pedrinho, com a leveza e elegância de sempre, escreva algo esclarecedor colocando o ponto final.
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