segunda-feira, 11 de julho de 2011

CASOS SURPREENDENTES

Erivaldo Brito


A TRAGÉDIA NO HAVANA CIRCUS

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Horácio, notável poeta romano, em sua composição sublime intitulada “Odes”, descrente de tudo, escreveu uma frase que se tornou célebre: Carpe diem, minimum credulos postero. “Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã”.

Partindo dessa premissa, não haveria como alguém tomar conhecimento antecipado, prever o que fatalmente iria acontecer ? Seria a negação da premonição ?

Remontando ao tempo dos faraós, os egípcios de um modo geral criam em sonhos reveladores e premonição. Na própria Bíblia, que é um dos mais antigos escritos da humanidade, vários, são, os registros em versículos sobre a premonição. Pôncio Pilatos, então 5º governador romano da Judeia, estava encarregado de julgar o Senhor Jesus. Segundo a tradição, ficou impressionadíssimo com um sonho que a sua esposa tivera, na véspera. Fez de tudo para libertar o Grande Rabi, declarando, inclusive, que “não vejo neste homem crime algum”, segundo Lucas 23.4. Pensava o governante romano que havia tomado a decisão politicamente correta, conforme dizemos hoje em dia. Ledo engano. Pilatos não contava com a astúcia e a determinação dos homens do Sinédrio. O resto da história toda a humanidade tem conhecimento: a crucificação do Mestre Jesus.

Outros casos que podemos classificar como premonição, devidamente registrados na história,dentre outros, temos, por exemplo,o sonho que teve o presidente Abraham Lincoln, prevendo que seria assassinado; o registro antecipado de várias pessoas que disseram ter pesadelos e o naufrágio do Titanic, e, finalmente, uma declaração de um dos integrantes do Mamonas Assassinas, na hora de embarcar no avião fatídico, que tivera um conho esquisito com um desastre aéreo, o que de fato ocorreu e todos morreram.

Os cachoeiranos e cachoeiranas em tempos passados, adoravam os espetáculos circenses. Armados na Praça Maciel ou no Jardim Ubaldino de Assis, vários foram os circos que se apresentaram: Bretanha, Fekete, Bibi, Garcia, e o mais querido de todos, o Circo Nerino, que apresentava alguns dramas que antecederam as atuais novelas televisivas e o povo adorava. Aliás, quando o Nerino se apresentou pela última vez na cidade, quando estavam desarrumando as lonas, o poste central desatracou-se das cordas e veio esmagar a cabeça do empregado apelidado de “Cabuçu”.

Vamos nos ater agora ao Havana Circus. Estamos no longínquo mês de junho de 1935. O Havana estava armado no Jardim Ubaldino de Assis. A trupe fazia enorme sucesso na cidade e circunvizinhança: o malabarista Alberti e Miss Galy, o atleta barrista chamado Vilobaldo, o trapezista Carlito e o palhaço Meloso, que invariavelmente levava o público às gargalhadas.

A grande atração do circo eram as feras amestradas. Tinha um leão, três leoas, um urso, um macaco e um tigre real de Bengala, em cujo material publicitário garantia “já haver assassinado três domadores”.

Dia 13 de junho. Em boa parte dos lares cachoeiranos encerravam-se as trezenas de Santo Antônio. No navio da carreira, chegava à Cachoeira o cidadão Pedro Wilson, tido como “o único domador brasileiro a subjugar um tigre real de Bengala”.

No dia 20 de junho, todos aguardavam a chegada da noite. Naquele dia tão esperado em toda a região, realizar-se-ia o espetáculo beneficente em prol da Guarda Noturna da Cachoeira. A grande atração da noite seria exatamente “o domador de fama internacional, Pedro Wilson !"

Pela manhã, percorrendo as ruas da cidade, o palhaço Meloso, equilibrando-se numa perna-de-pau, arrastava um número grande de “capitãs de areia” conforme se dizia à época, mercava:

- O raio do sol suspende a lua...

- Olha o palhaço no meio da rua !

- Hoje tem espetáculo ?

- Tem, sim, senhor !

- Oito horas da noite ?

- E, sim, senhor !

- Arrocha negrada...

- Ê ê ê ê ê ê !

- Mais um bocadinho...

- Ê ê ê ê ê ê !

Exatamente às 20:30 h. O grande público presente aplaudia freneticamente o domador Pedro Wilson. Ele aparentava estar absolutamente seguro ao entrar na arena instalada no meio do picadeiro, portando um chicote. O tigre ameaçadoramente avançou mostrando suas poderosas presas e garras. O domador fazendo vibrar o chicote no ar, conseguiu a primeira, depois a segunda defesa, mas o animal, furiosa e decisivamente partiu pra cima num inesperado bote. Num golpe fatal, abateu o domador em pleno picadeiro. A assistência entrava em pânico. Gritos, desmaios, corre corre geral, muitos feridos. Ouvem-se dois disparos de um revólver.

Incrivelmente, como se nada houvesse acontecido, o tigre, mansamente, retornava à sua jaula.

Levado ao Hospital da Santa Casa de Misericórdia, o insidioso domador não resistiu aos lacerantes ferimentos.

O palhaço Meloso, de forma especial, estava inconsolável. Sabe lá por que, quando saira pela manhã anunciando o espetáculo, em várias ruas da cidade preconizou:

- Não perca hoje no Havana Circus, o tigre vai comer o domador Pedro Wilson !

Volvidos exatos 75 anos, será que ainda existe alguma testemunha ocular dessa tragédia?

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