quinta-feira, 7 de julho de 2011

CACHOEIRA/BAHIA

As Poesias com Amor da professora Zenaide

Erivaldo Brito

É sempre um prazer renovado encontrar-me com o mestre, poliglota e grande amigo Pedro Borges. Ano passado, encontramo-nos no passeio do antigo “Bar do Domingão”, exatamente onde se instala dona Matilde, baiana do acarajé, local que obviamente atrai muita gente conhecida, e, dentre essas pessoas amigas, apareceu o comum amigo Mateus, meu substituto do trio vocal Os Tincoãs. Com aquela peculiar maneira educada de falar, Pedrinho contou-nos sobre um episódio quando de uma dissertação sobre assunto cultural inerente aos nossos avós africanos. Quando o culto preletor iniciou a exposição, um dos presentes, um certo “pastor” dessas denominações que proliferam nos dias modernos, ameaçou levantar-se em sinal de protesto, segredando aos ouvidos de Pedrinho: “ vou-me embora, porque este negro imbecil vai deitar falação sobre macumba e bruxaria !” O Professor Pedro Borges, que também tem Anjos na composição do seu nome, que é, na inteira acepção da palavra, um perfeito gentleman,dirigindo-se ao seu intolerante interlocutor disse o seguinte; “ não faça isso ! O palestrante está recitando o Salmo 36 em iorubá, seu idioma natal”. Curiosamente, ao chegar em casa, fui procurar o Salmo 36, e, logo de início dei-me por satisfeito: “ Há no coração do ímpio a voz da transgressão “ Este ano, encontrei-me com o Pedrinho ao término da sessão do 25 de Junho. Ao abraçar-me fez-me uma queixa: “você ainda não escreveu nada para O Guarany ! Diante de tal intimação, mesmo cônscio da minha precariedade vocabular/gramatical, porque quando escrevo não faço revisão alguma, senão mudo tudo. E o que é muito pior, não tenho a menor preocupação em rebuscar palavras, fingir uma erudição que eu não tenho. Aliás eu detesto academicismo fora de hora. Produzo os meus textos, nos livros que escrevi, nos jornais que colaborei ou no blog do Cacau Nascimento usando preferencialmente a linguagem da rua, dos botequins da minha Cachoeira e dos bregas da Bahia. Descendo a ladeira de Muritiba com destino à Cachoeira, cujo percurso é o mesmo, sempre, mas o panorama muda dependendo da posição do sol, pensei que seria do agrado editorial de O Guarany escrever sobre casos surpreendentes ou contos paranormais. Vamos ver se dá certo. Hoje, quero agradecer à autora de “Poesias com Amor”, a ilustrada mestra Zenaide Gomes, a gentil oferta da mencionada obra de sua lavra, declarando, por oportuno, o meu reconhecimento de ser muito pobre a minha lira para tal empresa. Gostaria de acentuar, também, que eu apenas “arranho” o gênero de literatura de cordel. Jornalistas e Cordelistas não fazem apenas uma rima exata. Assemelham-se por fazerem narrativas de fatos que realmente aconteceram. Já para alcançar a cabeça de uma poetisa como Zenaide, é muito difícil, em se considerando a imprevisibilidade da natureza sensitiva dos poetas em geral. Quando Os Tincoãs foram gravar o seu primeiro disco,- em agosto próximo fazem 50 anos ! -, fiz uma escolha pessoal para inclusão de uma música cuja letra havia me tocado. Dadinho preocupava-se tão somente com a beleza melódica, não atinava para o que estava dizendo. O bolero gravado chama-se “Solidão” e diz o seguinte: “Solidão...E isso apenas quer dizer, que o meu ser só, é um só de sem você, que é muito mais só, e bem diferente do só de toda gente quando está só ! “ Foi a faixa menos tocada do elepê “Meu Último Bolero” e não saiu qualquer comentário crítico. Fazer o quê ? (risos) Voltando ao “Poesia com Amor”, - excelente o Prefácio feito por um ex-aluno - ,propositadamente pulei o sumário, a fim de preservar o elemento surpresa. A cada página lida, pude perceber que a autora quis em sua obra prestar homenagens como a que prestou ao rio Paraguaçu, a sua professora; ao Rotary Club; a sua mãe, dona Nita;ao seu pai; ao seu irmão,Zeca: ao filho, Eduardo; a tia Nini e, dentre outros, ao Professor Pedro Borges. Zenaide ficou-me devendo um poema dedicado à nossa Ínclita Padroeira, Nossa Senhora do Rosário, na qualidade de líder católica que é. Por sinal, em uma dessas minhas idas à Cachoeira, ouvi, estupefato, um Coral na Igreja Matriz entoar uma “versão” de conhecido louvor à Virgem Maria. A música do maestro Chico Fróes com letra de Manoel Sapucaia Sobrinho, foi “acrescida” de novos versos de autoria de um tal frei Gilson ! Não pode, gente ! É crime ! A lei não permite qualquer modificação, mesmo que não seja destoante, ou feita pela mais alta autoridade clerical. Ninguém pode intrometer-se na obra intelectual dos outros. A letra e a melodia original, tantas vezes por mim cantada, tendo ao órgão dona Stela, filha do compositor, intitula-se “Jaculatória à Virgem do Rosário”. Jaculatória, segundo o Dicionário Houaiss, “ é uma oração curta e fervorosa que se diz por ocasião de novenas e outras devoções”. Prestaram a atenção? Curta ! Voltando ao “Poemas com Amor”, fiquei imaginando a emoção que deve ter sido a declamação do poema “O Amor”, de Fernando Pessoa, pelo seu esposo, Duarte, português de nascimento e cachoeirano por adoção. Ele exerceu importante cargo no Setor de Medição nas obras de Pedra do Cavalo, sendo responsável pela liberação das faturas após a sua execução. Eu e a minha saudosa esposa, Luiza, gozávamos da sua simpatia e incentivo na publicação do mensário Desenvale Notícias. Ele ria muito com a coluna “Radio Peão” Por ocasião do enchimento do lago, um certo engenheiro da Desenvale que era avesso a tomar banho, em cima de uma lancha, com uma máquina fotográfica em punho, fazia piruetas exibicionistas para as autoridades presentes ao evento. No referido mensário, na coluna citada, narrou-se o ocorrido, citando que “O engenheiro era homônimo de determinado personagem da Bíblia que foi engolido por uma baleia ! “ Para encerrar, espero, apenas, com esta despretensiosa cronica, oferecer de forma espontânea a professora Zenaide Gomes, minha colega do Grupo Escolar Montezuma, colega das mais brilhantes e de uma caligrafia irretocável, um estímulo sincero para que prossiga iluminando os que, como ela, nutrem de poesia o nosso povo.

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