Operação Gênesis rompe ligação do tráfico na Bahia com PCC
Além da Bahia, a traficante fazia a contabilidade e o fornecimento de entorpecentes para os estados de Pernambuco e Sergipe
Além da Bahia, a traficante fazia a contabilidade e o fornecimento de entorpecentes para os estados de Pernambuco e Sergipe
Bruno Wendel | Redação CORREIO
bruno.cardoso@redebahia.com.br
No jogo de tranca da Secretaria da Segurança Pública, o maior traficante da Bahia, Fagner Souza da Silva, o Fal, é carta fora do baralho. O “Ás de Ouro” da Comissão da Paz (CP) foi preso em São Paulo, durante uma operação da Polícia Civil, que começou na noite de quarta-feira e resultou em 12 prisões, sendo seis na Bahia.
Os demais foram capturados em São Paulo, entre eles Rosângela de Souza Pinto, um dos elos da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) no Nordeste. Rose ou Tinha, como ela é conhecida, era responsável por repassar a droga da organização para Fal, que abastecia as principais regiões do tráfico de Salvador e Região Metropolitana.
Além da Bahia, a traficante fazia a contabilidade e o fornecimento de entorpecentes para os estados de Pernambuco e Sergipe. Ela foi presa na cidade de Americana (SP).
Segundo o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, Fal tinha um lucro de cerca de R$ 2 milhões por mês. “No momento da prisão, ele ofereceu R$ 500 mil aos policiais para não ser preso”, disse o secretário.
Secretário apresentou cartas que ajudarão a polícia
a chegar aos bandidos
Secretário apresentou cartas que ajudarão a polícia a chegar aos bandidos
O traficante despejava cerca de 900 mil quilos de pasta- base de cocaína por mês na Bahia. Fal foi preso quando ia sacar R$ 50 mil de um banco na capital paulista e faria uma farra com a namorada.
Além dele, foi preso Jairo Santos da Silva, o Peu, seu braço-direito. Peu era o gerente da maioria das bocas no complexo do Nordeste de Amaralina. Sua prisão foi realizada na cidade de Cipó, na Bahia.
Organização
Outro integrante do bando preso foi Valter Santos Rodrigues Filho, o Pisca. Ele estava em São Paulo. Com as prisões de Fal, Rose, Peu e Pisca, a polícia caça agora Marcelo Henrique Menezes dos Santos, o Elias. Ele era o segundo homem de confiança do Fal e é cotado para assumir o lugar dele.
Na operação, foram presos também na Bahia José Antônio, o Bereu, Luís Bitencourt do Nascimento, o Sabugo, Teoclisia Batista dos Santos, a Isa, Efigênia de Souza, a Gina, e Luciano Cardoso de Jesus, o Lobão. Eles foram apresentados ontem à imprensa. Já em São Paulo, os demais presos foram: Elisabete Alpedriz de Cerqueira e Monique de Santana Marques.
A ação que resultou nas prisões é continuação da operação Gênesis, realizada há cerca de um ano, que levou a prisão de traficantes no complexo do Nordeste de Amaralina, Calabar e Federação. A comarca de Lauro de Freitas expediu 16 mandados de prisão e de busca e apreensão, dos quais 12 foram cumpridos.
“Quatro não foram cumpridos, mas só vamos sossegar quando prendermos todos”, declarou o secretário. Para ele, esta foi uma das maiores operações já realizadas pela polícia baiana. “Fal estreitava as relações do narcotráfico da Bahia com a maior organização criminosa do país, com a influência de Rosângela. Pegamos não só o maior traficante, como também a distribuidora” , declarou.
Corrupção
O secretário disse ainda que Fal revelou que policiais estavam envolvidos no esquema. “Eles serão investigados e, se comprovado o envolvimento, serão presos”, disse Barbosa, que em seguida relatou que o traficante Pisca tinha deixado Salvador por conta da extorsão que sofria de policiais e ameças de rivais.
Durante a coletiva realizada ontem à tarde na sede da SSP, no CAB, o secretário divulgou um baralho com as fotos dos bandidos mais procurados do estado. Entre as cartas, Fal era o Ás de Ouro.
Bebê
Uma das prisões realizadas na Operação Gênesis trouxe de volta o caso do bebê Rickelmy Pedreira Farias, encontrado em uma Ecosport na avenida Paralela, em maio de 2010. Segundo Barbosa, Rosângela de Souza Pinto, a Rose, foi quem ordenou a execução de José Roberto dos Santos, o Robertinho, apontado como o assassino da mãe de Rickelmy, Camila Pedreira Farias, 20 anos, e seu parceiro, Jean Carlos dos Santos, 37.
De acordo com a polícia, assim como Rose, o casal fazia parte do PCC e faria uma entrega de droga em Salvador quando foi morto. Os dois saíram de Mauá (SP) com dez quilos de cocaína num fundo falso da Ecosport.
Robertinho, que era integrante da Comissão da Paz (CP), foi preso em Aracaju e levado para a Unidade Especial Disciplinar (UED), na Mata Escura. Ele foi encontrado enforcado em uma das celas. Segundo o titular da SSP, Rose mandou que Fal providenciasse a execução. O bebê Rickelmy hoje vive em São Paulo com a avó materna.
Chefão adora vida de barão
por Bruno Villa
Antes de acelerar seu jet ski pela Baía de Todos os Santos e ser sócio da maior quadrilha de tráfico de drogas do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), o chefão do comércio de entorpecentes na Bahia, Fagner Sousa da Silva, 30 anos, começou a carreira de criminoso cometendo pequenos assaltos. Na adolescência, morava na Rua Padre Eloy, no Acupe de Brotas. Em 2000, deu os primeiros passos no crime. Fal trocou o emprego de office boy em um escritório em Brotas pela prática da saidinha bancária.
No início, sempre atacava em dupla. Com a experiência, passou a recrutar e treinar jovens para os assalto. O primeiro registro de Fal na polícia ocorreu em 16 de agosto de 2001. Ele foi detido por assalto. Depois de voltar às ruas, foi preso mais cinco vezes pelo mesmo crime. Em janeiro de 2002, ele chegou a cometer saidinhas bancárias por dois dias seguidos - em 29 e 30 de janeiro. Os inquéritos lhe renderam três processos. Dos assaltos em Salvador, ele começou a se envolver com o tráfico de drogas e entrou para a Comissão da Paz.
A facção, maior grupo de traficantes de drogas da Bahia, foi criada por Éberson Souza Santos, o Pitty, nas cadeias baianas. Em 2009, Fal foi condenado a 13 anos e oito meses de prisão pela 4ª Vara Criminal da Comarca de Campina Grande, na Paraíba, por assalto. Também em Campina Grande, há um mandado de prisão preventiva contra ele, expedido pela Vara de Entorpecentes, por tráfico de drogas, em agosto de 2008.
Após a morte do fundador da Comissão da Paz, em 2007, Cláudio Campanha assumiu o comando. Com a prisão do novo chefe e seus sucessores - Josevaldo Bandeira, o Val Bandeira, e Renildo dos Santos Nascimento, o Aladim -, Fal assume a chefia. Então, se associou ao PCC e acumulou fortuna. O gosto pela boa vida fez do assaltante magro do Acupe um traficante gorducho, cujo passatempo preferido era passear de jet ski.
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