quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CACHOEIRA/BAHIA: ENTREVISTA COM RITA SANTANA SOBRE A CAMAPANHA "ADOTE UMA CABEÇORRA"











Tendo em vista a reconhecida importância da manifestação festiva com Cabeçorras no cenário cultural da Cachoeira, tradição preservada na cidade pela ONG Raízes do Recôncavo, dirigida pela agente cultural Rita Santana, a Redação do Jornal O Guarany a entrevistou, buscando saber com que estrutura o segmento participará da tradicional Festa da Ajuda este ano e nos anos sucessivos, destacando a campanha Adote uma Cabeçorra, iniciada pela referida ONG, considerada peça-chave para instruir e ampliar a participação do comunidade no mencionado costume cultural.



Entrevista com Rita Santana
Diretora da ONG Centro de Estudos Raízes do Recôncavo da cidade de Cachoeira
Assunto: Campanha Adote uma Cabeçorra!


Repórter - Rita, em março de 2010, o Centro de Estudos Raízes do Recôncavo lançou uma campanha: Adote uma Cabeçorra! Você pode explicar por que foi lançada essa campanha?
Entrevistada - Temos observado que a cada ano a Festa D’Ajuda vem sofrendo um processo de descaracterização altamente perigoso e só a população pode barrar esse processo. Se nada for feito nesse sentido em muito pouco tempo não teremos mais nada das figuras simbólicas dessa que é a verdadeira festa do povo cachoeirano. Precisamos passar para os jovens a importância de manter nossas raízes através de nossas festas, sejam elas religiosas católicas e/ou afro descendentes, cívicas e profanas e isso se faz através do exemplo.



Repórter - O que são consideradas “figuras simbólicas” da Festa D’Ajuda?
Entrevistada - As Cabeçorras, os Mandus, os Diabos, os Mascarados, os Travestidos, etc.


Repórter - Para o Centro de Estudos Raízes do Recôncavo, quem tem que manter a tradição é o povo?
Entrevistada - Também. Afinal a cultura é do povo, cabendo aos poderes públicos fazer um trabalho de articulação e suporte financeiro, quando for necessário. É imprescindível que o Poder público faça um trabalho de conscientização com a comunidade, mostrando que quem tem de preservar as tradições do local é ela. Se esse trabalho for feito de forma sistemática, principalmente nas escolas, daqui a alguns anos teremos uma comunidade que reconhece e preserva suas tradições, uma comunidade que “fiscaliza” se suas tradições são mantidas.



Repórter - Então fale um pouco da campanha" Adote uma Cabeçorra"!
Entrevistada - Quando idealizamos a campanha tínhamos 2 objetivos: um era garantir a presença de mais cabeçorras nos embalos e o segundo oportunizar para a comunidade o aprendizado da confecção das mesmas e o conhecimento mais aprofundado da história da festa. Com isso estaria garantida a continuidade dessa tradição. Infelizmente não conseguimos sensibilizar a parcela da comunidade que convocamos. Mesmo assim eu e Rosa Alves, uma produtora cultural cachoeirana ligada ao Centro de Estudos Raízes do Recôncavo, trabalhamos de março até agora e conseguimos produzir 50 cabeçorras.


Repórter - E todos as cabeçorras já foram apadrinhados?
Entrevistado - Aí é que está o x da questão. Infelizmente não conseguimos atingir nem 50%. Com isso não sabemos se todos estarão nas ruas esse ano. Como acreditávamos que as pessoas iriam apoiar essa campanha, investimos recursos pessoais a fim de comprar os materiais para produção dos cabeçorras. Só que temos que comprar cetim, aviamentos, luvas, meiões, sapatilhas, leques e ainda dispor de dinheiro vivo para pagar as pessoas que vão sair vestidas e pagar a pessoa que vai costurar as roupas.



Repórter - E como vocês pretendem resolver esse problema?
Entrevistada - Na verdade estamos contando que as pessoas que gostam da festa nos ajudem e também com aqueles que sabem valorizar a cultura popular.



Repórter - Vocês já recorreram ao poder público e a comissão da festa?
Entrevistada - Estive pessoalmente com o secretário da Cultura e com a comissão. Externei a nossa preocupação quanto ao valor para pagar as pessoas que vão sair. Imagino as dificuldades que a comissão enfrenta para realizar essa festa que é a mais cara do calendário cultural da cidade. Por isso estou apelando para a comunidade e o Poder público.



Repórter - Quanto custa apadrinhar uma cabeçorra? Explique também como é esse processo.
Entrevistado - Qualquer pessoa pode apadrinhar. O valor é R$ 105,00 que também pode ser dividido por 2 pessoas. Quem estiver interessado pode enviar um e-mail para raizesreconcavo@hotmail.com ou nos procurar pelo telefone (75) 34251568. Como esses dias estamos numa casa onde funciona a oficina não estaremos na sede. Outro detalhe é que o “padrinho” ou “madrinha” poderá escolher o seu “afilhado” e os que autorizarem terão suas fotos e seus nomes divulgados em nosso blog (http://festadajuda2009.blogspot.com/) para que todos tomem conhecimento de quem são os nossos parceiros e admiradores da festa. Só a título de esclarecimento esse valor cobre tudo: a confecção da cabeçorra, a roupa, luvas, leque, meião, sapatilha, tudo.



Repórter - Depois da festa o “padrinho” ou a “madrinha” pode levar seu afilhado para casa?
Entrevistado - Não. As cabeçorras, as vestimentas e adereços ficarão sob a guarda do Centro de Estudos Raízes do Recôncavo para que sejam, sempre que possível, exibidos em exposições ou mesmo participarem de eventos culturais.



Repórter - No último dia 23 vocês fizeram uma exposição com todos os cabeçorras no adro da Ordem 3ª do Carmo, na noite em que aconteceu o 1º Baile de Máscaras do Carmo. Você pode nos falar um pouco dessa exposição?
Entrevistada - Primeiro, eu quero dizer para aqueles que não sabem que a sede do Centro de Estudos Raízes do Recôncavo funciona nas dependências da Ordem 3ª do Carmo. Quando no final do ano de 2007 estávamos sem sede o Prior da época, Jomar Lima, pessoa ligada a preservação de nossos patrimônios e amigo pessoal da minha família, propôs que solicitássemos a Mesa Diretora da Irmandade a sala onde hoje funcionamos, o que foi acatado e lá estamos até a presente data. Com isso estabeleceu-se uma parceria bastante saudável entre a Irmandade mais antiga da Cachoeira e uma ONG jovem (7 anos) que tem como objetivo a divulgação e preservação dos bens culturais da nossa cidade. Sempre estamos apoiando os eventos da Irmandade e o 1º Baile de Máscaras foi mais um evento que estivemos junto apoiando. Foi ai que surgiu a idéia de aproveitar para apresentar à comunidade cachoeirana as cabeçorras, mesmo aquelas que ainda não estavam totalmente prontas. Foi uma maneira de “provar” que as 50 cabeçorras existem. (risos)


Repórter - E qual foi a reação das pessoas?
Entrevistado - Gostaram muito. Inclusive naquela mesma noite tivemos a promessa de mais 4 apadrinhamentos. Muitos aproveitaram para tirar fotos junto às cabeçorras ou mesmo usando-as.

Repórter - Nós sabemos que em 4 de novembro do ano passado o Centro de Estudos Raízes do Recôncavo deu entrada, no IPAC, no pedido de Registro da Festa D’Ajuda como Patrimônio Imaterial, como está esse processo?
Entrevistada - No último dia 26, estive pessoalmente com a pessoa responsável pelo setor a qual me informou que a equipe existente não é suficiente para atender a demanda. Existem mais 4 pedidos de registro que deram entrada antes da Festa D’Ajuda. No meu entender falta interesse político para que os órgãos de preservação do patrimônio, tanto estadual como federal, possam fazer seu trabalho como deve ser. As pessoas que trabalham nesses órgãos se sentem impotentes por conta da estrutura dos mesmos. Temos o caso do IPHAN que está sem um técnico para atender à comunidade. Os pedidos de autorização de obras e reformas aguardaram o término das eleições e prosseguem aguardando. Quem sabe quanto tempo mais a comunidade tenha que esperar que seja designado um técnico para o escritório da Cachoeira. Enquanto isso a população fica sem orientação e sujeita que quando o técnico chegue ser punida pelas obras que serão taxadas de “irregulares”. Isso não é justo.



Repórter - Você gostaria de falar mais alguma coisa?
Entrevistada - Sim. Gostaria de agradecer a oportunidade que vocês estão nos dando e dizer que o Terno das Cabeçorras do Raízes do Recôncavo para sair às ruas esse ano com 50 componentes, depende apenas da colaboração dos “apaixonados” pela cidade e pela Festa D’Ajuda. Quero finalizar com uma frase: “Quem ama faz! E você ama Cachoeira?”. Obrigada.




2 comentários:

  1. Acho muito importante a participação de Cabeçorras nos embalos da Ajuda e outas festas da cultura popular da cidade de Cachoeira. Assiti e até participei de movimentadas festas de carnaval nesta cidade. E desde esse período, desde esses carnavais, cabeçorras estavam presentes. Carnaval em Cachoeira não tem mais. Agora parece que o embalo da Ajuda incorporou alguns dos costumes daquele período. Já tenho 80 anos. Vi tudo isso mais do que muitos que aí estão e fazem a festa. Vou todos os anos à festa da Ajuda.Agora com muito maior razão. Vou também me comunicar para colaborar com a campanha. Sou cachoeirano, vivendo em Aracaju, Sergipe.

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  2. Morei 15 anos em Cachoeira. Era ainda adolescente. Conheço o bloco das Cabeçorras desde a época dos carnavais em Cachoeira. Nesta cidade a folia momesca era muito movimentada, muitas fantasias, blocos, etc. Eu saía fantasiado de oficial da Marinha. Era uma folia muito divertida. Já havia cabeçorras, lembro-me bem. Está de parabéns, esta Ong em preservar este valor cultural.

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