sábado, 28 de agosto de 2010

CACHOEIRA/BAHIA

















VIDA: A FESTA DA BOA MORTE.

Marcos Cajaíba*

"Eu vi mulheres comuns

Virando rainhas

Eu vi um povo inteiro

Perseguindo a poesia

Eu vi a rua bela

Bela como elas"


Eu vi uma cor que não existe em lugar algum do mundo: um pretoafrobaiano que reluz sob um sol que castigou os ancestrais "puros" da grande mãe África nos canaviais que cobriam de verde e de vermelho-sangue as terras banhadas pelo Paraguassu. O som dos atabaques que dão um toque ímpar ao gregoriano/latino dos altares católicos tomou conta de dias intensos de uma festa que celebra a inexistência da morte diante da própria morte. A Senhora da Boa Morte, ironicamente, não morreu: ela foi raptada e assunta aos céus e é nesta certeza que a mulher branca vem ser venerada pelas mulheres negras e rainhas que, já isentas do sangue que as possibilitam procriar, formam uma irmandade secular, berço da partilha, das rezas, da fé, das curas, das dores e da resistência. Aliás, resistência talvez seja o conceito-chave desta festa que mais parece um grito de repúdio às várias mãos dos algozes que, ainda, insistem em tolher qualquer forma de liberdade. Mãe negras! Aproximar delas é estar diante da realeza; segurar, quando possível, em suas mãos grossas e majestosas é vislumbrar a certeza da proteção e do afago; ser contemplado por seus olhares penetrantes é sentir-se acolhido como único em meio à multidão... Cachoeira e seus encantos, cantos e contos faz da Bahia, mais ainda, um lugar metafísico de realizações poéticas, místicas, reais e provocantes que, particularmente, me desconcertam e me desestabilizam. Deixa-me, esta cidade, com um eterno sentimento de saudade mesmo quando começo a descer a serra e ver as torres da eterna matriz da senhora do Rosário surgindo como um estandarte... Me faz experimentar sensações deliciosas ao lado de pessoas tão lindas como André, Janemeire, Hélio, Dona Sueli, Washington... Enfim! Uma festa que celebra a vida e não se fala em morte... exceto no título..


* Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia. Professor de Filosofia do IFBaiano. Pesquisador e membro do CEDIC.

Um comentário:

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