segunda-feira, 19 de julho de 2010

PARAÍSO DO NORTE/PARANÁ: HOMEM MAIS VELHO DA CIDADE COMPLETA 106 ANOS

Seu Adão: 106 anos de idade muito bem vividos


  • Luiz de Carvalho
  • Douglas Marçal

    Seu Adão, ao lado da filha Graça; os 106 anos não o impedem de frequentar bailes e rodas de violeiro



    Centenas de pessoas de Paraíso do Norte (a 90 km de Maringá) compareceram, no fim de semana, à festa em homenagem ao homem mais velho da cidade, seu Adão, que completou 106 anos e surpreendeu aos presentes dançando animadamente até tarde da noite.

    Trajando "calça de boy" e tênis, o aniversariante, que tem seis filhos, 19 netos, 24 bisnetos e uma tataraneta, se sentiu à vontade. Afinal, dançar foi uma atividade que ele pratica durante toda sua longa vida.

    Seu Adão, na verdade, chama-se João Pereira dos Santos e nem se lembra desde quando e nem o porquê ganhou o apelido de Adão. O que se lembra bem é que já tinha quase 50 anos e cinco filhos quando chegou onde hoje é Paraíso do Norte.

    Em boa pronúncia e muitos gestos de mão, ele conta que nasceu em julho de 1904, filho de uma família que misturava portugueses, negros e índios e viveu "até homem feito" em um lugar chamado Divino de Carangola (MG). "Vê bem que sou escuro, mas tenho o cabelo liso, sou um misturado".

    Trabalhou na roça, em construção e na abertura de estradas. Teve seu primeiro registro em carteira na década de 40, quando trabalhou nas obras da rodovia Rio-Bahia.


    Pau de arara

    "Meu pai, minha mãe, eu e os 14 irmãos, cada um com sua família, viemos para cá trazidos pelo fazendeiro Décio Canabrava, que saiu de Minas para abrir uma fazenda aqui", conta, detalhando como era o pau de arara em que viajaram onze famílias até o lugar onde anos depois nasceria a cidade de Paraíso do Norte.

    Na nova terra, Adão e os demais mineiros sofreram com o frio, por viverem no meio da mata. Mas ele não perdeu os costumes que trouxe de sua terra natal, como fumar cachimbo e cigarro de fumo de rolo, beber cachaça de alambique e, principalmente, dançar.

    Homem realizado
    "Não tenho do que reclamar.
    Vivi minha vida da melhor
    maneira, tenho uma boa família."
    João Pereira dos Santos
    Seu Adão

    Todos os dias, quando parava de trabalhar, andava cerca de quatro quilômetros até um boteco, onde hoje é a cidade, para beber, bater papo com os amigos e se divertir com mulheres descompromissadas. Gostava tanto da vida boêmia que tingiu o cabelo de preto até os 100 anos.

    Quando parou de pintar os cabelos, parou também de trabalhar (os filhos não deixaram mais) e ele limitou seus passeios às cercanias da casa em que vive com a filha Graça, o genro e netos.

    Mas, não perde as rodas de violeiro que acontecem nos fins de semana em um bosque no centro da cidade, bailes da terceira idade e festas nas casas dos amigos. "Não tenho do que reclamar. Vivi minha vida da melhor maneira, tenho uma boa família. O que lamento é que todas as pessoas que conheci na minha mocidade já morreram."

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