TEGUCIGALPA, Honduras (AFP) - O ex-presidente deposto de Honduras Manuel Zelaya chegou quarta-feira à República Dominicana, um país que aceitou acolhê-lo sete meses após o golpe de Estado que o derrubou, e no mesmo dia da posse do novo chefe de Estado hondurenho, Porfirio Lobo.
Assim que desembarcou na base de San Isidro, perto de Santo Domingo, Zelaya saudou o "gesto de solidariedade" do presidente dominicano, Leonel Fernandez.
"Nossa posição é pacífica, é uma posição de democratas", afirmou ele, sem dar pistas sobre seu futuro político.
O exílio de Zelaya abre o caminho para a normalização do pequeno país da América Central. O golpe de Estado de 28 de junho que levou Roberto Micheletti ao poder deflagrou uma grave crise política e colocou o país à beira do colapso econômico.
"O presidente Zelaya é um símbolo da democracia latino-americana", enalteceu Fernandez, que assistiu à posse de Lobo em Tegucigalpa antes de voltar para a República Dominicana com o presidente deposto, que seguiu imediatamente para o complexo turístico de La Romana, 110 km a leste de Santo Domingo, onde permanecerá por um tempo indeterminado.
Poucas horas antes, Zelaya havia deixado a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde passou "129 dias como um prisioneiro" após voltar clandestinamente a Honduras, no dia 21 de setembro.
Cercado por um imponente esquema de segurança, ele viajou com sua esposa, Xiomara Castro, e dois de seus filhos.
Lobo prometera na semana passada fornecer a Zelaya um salvo-conduto, para que o ex-presidente possa viajar à República Dominicana.
Zelaya acabou aceitando esta opção depois de uma batalha infrutífera de longos meses para recuperar a presidência de Honduras.
"Voltaremos!", clamou ele ao subir no avião no aeroporto de Tegucigalpa, onde 10 mil de seus partidários tinham se reunido.
Eleito em 29 de novembro, Lobo, 62 anos, oriundo da oligarquia que domina Honduras, deverá reconquistar o reconhecimento internacional do país depois da condenação do golpe de Estado pela comunidade internacional, que levou ao congelamento de milhões de dólares de ajuda.
Ele anunciou a intenção de formar um governo de união e exaltou em seu discurso de posse a anistia "política" aprovada terça-feira pelo Congresso para as pessoas envolvidas no golpe de Estado, entre elas Zelaya, acusado até então de traição pela Suprema Corte.
"O novo presidente de Honduras está levando o país para a direção certa", declarou quarta-feira Arturo Valenzuela, adjunto para a América Latina da secretária de Estado americana, Hillary Clinton.
No entanto, os Estados Unidos, que apoiaram Lobo, ainda não "tomaram uma decisão" sobre o restabelecimento da ajuda, destacou Valenzuela em Tegucigalpa, onde assitiu à posse de Lobo ao lado de apenas três presidentes: os de República Dominicana, Panamá e Taiwan.
O novo chefe de Estado deverá reconquistar a União Europeia (UE) mas também os países latino-americanos que consideram sua ação ilegítima e qualificaram o golpe de Estado de "precedente perigoso" na região.
Contudo, o retorno de Honduras ao cenário internacional é apenas uma questão de tempo, segundo os especialistas.
"A comunidade internacional não está muito entusiasmada com a situação atual em Honduras, mas não há outra opção a não ser restabelecer aos poucos as relações com o novo governo", declarou à AFP em Washington o vice-presidente do centro de análises Diálogo Interamericano, Michel Shifter.
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