A tragédia da Guiana comandada por um líder especialista na aplicação do Programa Monarca
O
Pastor Jim Jones
Os seguidores o adoravam
James Warren "Jim" Jones (Crete, Indiana, 13
de maio de 1931 - Jonestown, 18 de novembro de 1978) foi um líder de seita
estadunidense e fundador da igreja Templo dos Povos (Peoples Temple), e mentor
do suicídio em massa da comunidade de Jonestown, na Guiana, em 18 de novembro
de 1978, com o resultado de 918 mortes, em sua maioria por envenenamento.
Infância e formação
Jim Jones nasceu no interior do estado de Indiana,
filho de um veterano da Primeira Guerra Mundial. A alegação de Jones de que
teria ascendência indígena cherokee, por parte da mãe, nunca foi comprovada.
A infância de Jim se passou no período da Grande
Depressão causada pela crise econômica de 1929, o que obrigou os Jones a se
estabelecerem perto de Lynn, em 1934. Após a separação dos pais, a mãe de Jim
mudou-se com os filhos para Richmond, também em Indiana, onde ele concluiu seus
estudos em 1948. No ano seguinte, Jim casou-se com Marceline Baldwin, uma
enfermeira, e em 1951 finalmente mudou-se para Indianápolis, onde viveu uma
década.
Desde a infância, Jim Jones mostrou inclinações
místicas e na juventude foi um leitor dedicado de obras políticas e sociais.
Também demonstrou simpatia pelo marxismo e pelas reivindicações dos
afro-americanos contra a segregação e a discriminação racial, sintetizadas
então na militância do ator Paul Robeson, e na candidatura progressista de
Henry A. Wallace à presidência dos Estados Unidos, em 1948.
Crítico da ação estadunidense na Guerra da Coreia,
Jones aprovou a invasão do sul da península pelo líder comunista Kim Il-Sung,
em 1950, e no ano seguinte, tornou-se membro do Partido Comunista dos Estados
Unidos (CPUSA). O país então estava em plena era do macartismo, o que lhe valeu
sanções dentro da Universidade de Indiana e a vigilância permanente por parte
do FBI. Jones veio a romper com o CPUSA somente em 1961, quando o partido
(alinhado com a política soviética) fez críticas aos excessos de Stalin.
Nessa época, Jones desenvolveu suas ideias sobre a
ação política e também começou a buscar uma expressão destas dentro da
religião. Em 1952, tornou-se estudante em um seminário metodista, do qual foi
expulso por defender a integração racial, e trabalhou algum tempo junto aos
batistas do Sétimo Dia.
O Templo dos Povos
Em 1954, Jones criou a sua própria igreja em uma área
da cidade racialmente integrada. O culto recebeu vários nomes até adquirir a
denominação definitiva de Peoples Temple Christian Church Full Gospel (Templo
dos Povos), em 1959.
Através do Templo, Jim Jones adquiriu notoriedade e
apoio político e da mídia em Indianópolis, contribuindo para por fim à
segregação racial em departamentos públicos, restaurantes e hospitais. Em 1960,
o prefeito democrata Charles Boswell o nomeou como diretor local da comissão de
direitos humanos. No entanto, Boswell e Jones acabaram entrando em atrito
quando o líder do Templo foi agredido em uma reunião do NAACP.
Família Arco-Íris
Jim e Marceline incentivaram a adoção de crianças de
raças diferentes pelos membros de sua igreja. Em 1954, começaram eles próprios
a sua Rainbow Family (família “arco-íris”) ao adotar Agnes, uma nativa
americana de 11 anos. Nos anos seguintes, os Jones adotaram três órfãos de
guerra coreanos, um afro-americano (o primeiro a ser adotado por um casal
branco no estado de Indiana, em 1961) e um branco. O casal teve apenas um filho
biológico, chamado Stephen Gandhi Jones.
Jim Jones também foi atacado por racistas brancos, que
fizeram sucessivas ameaças à sua vida e aos integrantes do Templo, embora seja
possível que o próprio Jones tenha manipulado algumas dessas reações em favor
de sua pregação político-religiosa.
Expansão da seita
Com seu trabalho estabelecido em Indianápolis, Jim
Jones começou a buscar novas áreas para a expansão de sua seita.
Em 1959, Jim Jones viajou a Cuba após a derrubada do
regime de Batista, mas sua tentativa de trazer afro-cubanos para Indiana
resultou em fracasso. Em 1961, após prever um ataque nuclear iminente, Jim
Jones transferiu-se com sua família para o Brasil, mais precisamente em Belo
Horizonte em uma casa localizada na Rua Marabá nº203, no bairro Santo Antônio,
com a ideia de estabelecer um novo local para o Templo. Sem sucesso,
transferiu-se em 1963 para o Rio de Janeiro, onde estudou a situação social das
favelas cariocas e a mentalidade religiosa local.
Mas a necessidade de resolver conflitos internos na
igreja em Indiana forçou Jones a retornar aos Estados Unidos (1965), passando
no caminho de retorno pela então colônia britânica da Guiana.
O Templo em San Francisco
A perspectiva de guerra nuclear – Jones faria uma nova
previsão para 15 de julho de 1967 – continuou alimentando os objetivos de
expansão de seu culto. Ainda em 1965, Jones começou a transferir a comunidade
do Templo dos Povos para Ukiah, na região do vale das sequoias, no estado da
Califórnia. Em 1970, já existiam sucursais do Templo em San Francisco e Los
Angeles.
O movimento se expandia no país através de caravanas,
distribuição de folhetos (especialmente entre viciados em drogas e sem-teto),
concentrações em grandes cidades (como Houston, Detroit e Cleveland) e reuniões
de testemunho. No entanto, todas as reuniões eram sediadas em San Francisco,
que tornou-se a sede da organização em 1972. Em seu auge, em meados dos anos
70, o Templo dos Povos reuniu cerca de 3 mil membros, dos quais 70 a 80% eram
afro-americanos pobres. Estatísticas exageradas do próprio movimento subiam seu
número para 20 mil pessoas.
As finanças do movimento provinham de doações de seus
membros ou de pessoas influentes. Objetos pessoais de Jones e amuletos eram
também vendidos e o Templo chegou a ter estação de rádio e sua própria
gravadora de discos.
A criação de Jonestown
Após denúncias motivadas pela deserção de oito jovens
membros da igreja em 1973, o grupo dirigente do Templo se fechou em torno de
Jones e sua liderança pessoal. A partir de então, relatos de ex-membros
registram planos e simulações de suicídio coletivo.
Em 1974, o Templo arrendou uma gleba de terra na
Guiana, junto à localidade de Port Kaituma, próximo à fronteira com a
Venezuela. Ali Jones, com sua família, pretendia erguer o “Projeto Agrícola” do
Templo dos Povos, formando a comunidade informalmente denominada de Jonestown.
Os primeiros 50 residentes, transferidos da igreja em San Francisco, chegaram
em 1977. No ano seguinte, já eram mais de 900 (dos quais 68% eram
afro-americanos). Ao mesmo tempo em que o fisco público fechava o cerco contra
a isenção de impostos usufruída pelo Templo, Jones se referia de forma hostil
ao governo dos Estados Unidos como o Anticristo, em rápida marcha em direção ao
fascismo, e ao capitalismo como o regime econômico do Anticristo.
Além disso, pesaram contra Jones acusações de seqüestro
de crianças de ex-integrantes que tinham abandonado o Templo. O próprio Jones
foi acusado de manter sob sua custódia John Victor Stoen, filho biológico de
Timothy Stoen, que deixara o Templo em 1977. Stoen apelou ao congressista
democrata Leo Ryan, para apelar pela custódia do filho junto ao presidente
guianense Forbes Burnham. Em novembro de 1978, o Congresso dos Estados Unidos
autorizou uma viagem de Leo Ryan para a Guiana (com a assistência de repórteres
da NBC, para investigar as acusações de sequestro movidas contra Jones, bem
como informações de que os membros da comunidade em Jonestown viviam
miseravelmente.
Outras denúncias incluíam: 1) ameaças físicas e morais
e mentais diretamente aos membros da seita, separados de qualquer contato com
suas famílias; 2) tortura psicológica, com privação de sono e de alimentos; 3)
exigência de entrega de propriedades e 25% da renda de cada membro da seita; 4)
interferências de Jones na escolha do casamento e na vida sexual dos casais; 5)
isolamento das crianças em relação aos seus pais; 6) campanha constante junto à
mídia para dar uma impressão favorável e boa a Jones e ao Templo.
A tragédia
Ryan e sua comitiva foram recebidos calorosamente em
Jonestown, em 17 de novembro de 1978, o que gerou um comentário positivo do
congressista a respeito das condições de vida na comunidade isolada na
floresta.
Porém, no dia seguinte, a deserção de alguns membros
da comunidade (que quiseram se reunir ao retorno da comitiva) criou um clima de
tensão no local. Jones concordou com a saída, denunciando os desertores como
traidores, e à tarde, Ryan foi atingido por um ataque desferido com faca e teve
que apressar a retirada de Jonestown. Ao chegar à pista de pouso do Port
Kaituma, o avião que deveria levar Leo Ryan e sua comitiva foi alvejado pela
guarda (“Brigada Vermelha”) que fazia a segurança de Jim Jones. Ryan, três
repórteres e uma ex-integrante do culto de Jones foram mortos. Foi a única vez
em que um congressista dos Estados Unidos foi assassinado no cumprimento do
dever.
A última “noite branca”

Assim que chegou a notícia da morte de Ryan, à noite,
Jones pôs em prática o suicídio em massa de toda a comunidade de Jonestown,
para o qual já havia feito treinamento anteriormente (embora tenha dito que o
veneno não era real) em reuniões chamadas de “noites brancas”. Os membros da
comunidade foram induzidos a beber um composto líquido (na forma de suco de
sabor uva), contendo potássio, cloreto de cianeto e substâncias sedativas. Os
que eram pequenos demais receberam na boca ou através de seringas.
A cifra final de mortos chegou a 918, incluindo mais
de 270 crianças e quatro que se suicidaram no escritório da seita em
Georgetown. Mais de 400 corpos não identificados foram sepultados em Oakland
(Califórnia).
Nem todos os integrantes da comunidade morreram na
tragédia. No mínimo cinco membros conseguiram fugir ao cerco da guarda e fugir
para a floresta durante o ritual de suicídio coletivo que durou, segundo essas
testemunhas, cerca de 5 minutos. O corpo de Jones foi encontrado junto ao pavilhão
maior, com um tiro único na cabeça.
Repercussão
Os eventos em Jonestown tiveram grande repercussão nos
Estados Unidos e no restante do mundo. Larry Layton, autor dos disparos contra Ryan, alegou
lavagem cerebral, mas acabou sendo condenado e permaneceu preso até 2002. Vários membros da seita, inclusive a própria viúva de
Jones, escreveram testamentos deixando seu patrimônio ao Partido Comunista da
União Soviética. Jones enviou instruções para que o ativo de 7,3 milhões de
dólares fosse levado à URSS através da embaixada soviética na Guiana. No
Congresso, a oposição republicana conseguiu endurecer as relações dos Estados
Unidos contra a Guiana, acusando o presidente Burnham de corresponsabilidade na
tragédia. No entanto, ele permaneceu no poder até sua morte, em 1985, e seu
corpo foi mumificado pela equipe do Mausoléu de Lenin, em Moscou.
Antes da tragédia, o Templo já tentara negociar o
êxodo da comunidade para a URSS ou outro país do bloco soviético, mas a
iniciativa foi recusada por estes países. No início da década de 80, o local
onde existia Jonestown foi reocupado por refugiados laocianos.
Nos Estados Unidos, o restante da seita se dispersou.
O Templo em Los Angeles foi fechado por falta de verbas e os demais locais da
seita passaram a ter outras utilidades. Vários ex-membros relataram o medo de
serem eliminados por agentes de Jones que sobreviveram. Michael Prokes,
designado para transferir o dinheiro ao PCUS, cometeu suicídio em um março de
1979. Algumas teorias conspiratórias apontam a participação da CIA, mas sem
nenhuma evidência real.
Simpatia da mídia e dos políticos
Ao contrário de outros grupos classificados como novos
movimentos religiosos, o Templo dos Povos não sofreu uma crítica incisiva da
mídia como algo que pudesse se tornar nocivo à sociedade.
As informações que a mídia veiculava sobre Jonestown
sempre foram expostas no sentido de enaltecer o projeto como uma alternativa
socialista e auto-suficiente, vetando informações sobre abusos e sequestros,
bem como o vício de Jones em drogas. Até a tragédia de Jonestown, Jones contou
com a simpatia da mídia liberal e de lideranças políticas de San Francisco.
Jones apoiou decisivamente a eleição do prefeito George Moscone em 1975 e tinha
relações próximas com Harvey Milk. Também teve contados por Walter Mondale,
Rosalynn Carter, Willie Brown e a radical Angela Davis.
Idéias religiosas de Jones
As concepções religiosas de Jim Jones não se enquadram
na visão ortodoxa da fé cristã. Jones compreendia o Evangelho como uma ação
política radical, sem esperança no além, e sua liderança pessoal como um
elemento acima de qualquer crítica dentro de sua igreja.
Apesar de ser chamado “Reverendo”, Jim Jones jamais
foi ministro ordenado. Uma de suas prováveis influências religiosas foi o
pregador M. J. Divine (1876-1965), que também dirigiu um movimento dirigido à
comunidade afro-americana, no Harlem em Nova York. Pregações de Divine eram
distribuídas aos membros do Templo, e as ideias dele sobre a adoção podem ter
influenciado a Rainbow Family de Jones.
Jones era um adepto da cura pela fé, e via a si mesmo
como um profeta, capaz de realizar milagres e com o dom da clarividência. Ao
lado das reuniões de milagres para um grande número de pessoas (semelhantes as
dos pentecostais desta época), Jones mantinha um constante serviço de
assistência social aos mais pobres de sua comunidade. Cerca de metade dos
integrantes do Templo em Indianápolis era de afro-americanos.
No decorrer de sua pregação mística, Jones afastou-se
ainda mais do cristianismo tradicional e tornou aberto o seu “Socialismo
apostólico” (conforme o texto de Atos dos Apóstolos 4:34-35, que Jones
relacionou ao lema “de cada um conforme o seu trabalho, a cada um conforme a
sua necessidade”, constante na Crítica ao Programa de Gotha, de Karl Marx). Jones
afirmou ser a encarnação presente de diversos líderes religiosos ou políticos,
como Jesus Cristo, Buda, Gandhi, Marx, Lenin e o próprio M. J. Divine.
No final dos anos 60, Jones já descrevia o
cristianismo com uma religião fabulosa, e recusava a validade dos seus dogmas.
A Bíblia era rejeitada como um manual escrito por brancos para justificar a
sujeição das mulheres e a escravidão negra. O Paraíso não podia ser mais
encontrado no além-túmulo e sim na existência terrena, através da luta pela
igualdade.
Vale lembrar, porém, que os livros de Marx sobre o
socialismo científico (comunismo) não se referem em nenhum parágrafo a abusos
quaisquer, principalmente no que diz respeito a uma justificativa religiosa. O
marxismo é uma teoria baseada no estudo da história e entende as religiões nos
contextos históricos estudados (e então deduz para os demais) como elementos de
poder em serviço de algum sistema de poder político-econômico (uma classe
dominante), portanto é uma teoria atéia em seus princípios, meios e fins. Além
de que, contrapondo-se à religião, a filosofia de Marx entende o homem como ser
cujo entendimento teórico 1. é submetido ao tempo histórico e 2. que nunca se
antecipará perfeitamente à realidade, admitindo a possibilidade de crítica e a
possibilidade de erro.
Conspirações
Após o caso, várias teorias conspiratórias surgiram.
Os familiares não tiveram acesso aos corpos dos seus entes queridos, que foram
imediatamente cremados. Há relatos de várias drogas que seriam usadas no
acampamento, sugerindo um grande programa de controle mental. Muitos relacionam
esse caso com o projeto ULTRA-MK da CIA. Este projeto realmente existiu, mas
até hoje não se pode comprovar a ligação dos fatos.
Na cultura
Jim Jones inspirou o humorista brasileiro Chico Anysio
a criar o personagem Tim Tones, interpretado pelo próprio no seu programa Chico
Anysio Show na Rede Globo.
O grupo Titãs
cita Jim Jones na canção "Nome aos Bois", do álbum Jesus não Tem
Dentes no País dos Banguelas (1987).
O grupo
estadunidense Concrete Blonde cita "Jonestown" em uma música de mesmo
nome do álbum "Mexican Moon" (1993). Os Estados
Unidos são berço desses tipos de seitas apocalípticas. Como Jim Jones, lá
surgiram figuras carismáticas e loucas como David Koresh, John Withcapple, do
Heaven's Gate, e o mais famoso de todos, o assassino psicopata Charles Manson. Em uma sátira ao líder, surgiu o nome da banda
americana de rock psicodélico The Brian Jonestown Massacre, unindo o primeiro
nome à Brian Jones, primeiro guitarrista dos Rolling Stones, e Jonestown ao
incidente ocorrido em 1978. Jim Jones também é citado e músicas como Ballad Of
Jim Jones e Arkansas Revisited, assim como Charles Manson.
A banda de heavy metal Manowar compôs uma música
baseada nos fatos ocorridos na Guiana,o nome da música é Guyana (Cult of the
Damned).
A banda de heavy metal Francesa "Trust" em
"Les sectes" compôs uma música a Jim Jones.
Guyana Tragedy: The Story of Jim Jones e Jonestown:
Paradise Lost, telefilmes sobre a vida de Jim Jones (páginas no IMDB).
A banda
estadunidense Deicide, no seu primeiro album, compôs a música "Carnage in
the Temple of the Damned", sobre os fatos do dia 18/11/1978.
A banda de thrash metal estadunidense Heathen, compôs
a música "Hypnotized" que resumidamente fala sobre manipulação em
massa, fé cega e traz em sua introdução uma parte de um discurso de Jim Jones.
A banda de Thrash Metal estadunidense Lamb of God compôs a musica "Requiem" do album "Sacrament" que contem
uma parte da gravação em que estão administrando cianeto nas crianças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário