Videla, que tinha 87 anos, presidiu a Argentina
no período de 1976 a 1981
O ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla morreu nesta sexta-feira,
17, às 6h30, de causas naturais, na Penitenciária Marcos Paz. Ele
cumpria pena de prisão perpétua por crimes de lesa-humanidade.
Videla, que tinha 87 anos, presidiu a Argentina no período de 1976 a
1981. Ele foi o líder do golpe de 24 de março de 1976. Quando a
democracia foi restabelecida no país, em 1983, o ex-ditador e outros
membros das juntas militares que governaram o país foram processados por
crimes contra a humanidade. Videla foi condenado à prisão, mas acabou
sendo anistiado no governo Carlos Menen.
Em 2003, Néstor Kirchner assumiu a Presidência da Argentina e revogou
as leis de anistia em vigor no país. Com isso, Videla foi novamente
processado. Em dezembro de 2010, ele foi condenado à prisão perpétua. A
pena, desta vez, teve de ser cumprida em cela comum e não mais em uma
prisão militar.
O ex-ditador foi acusado de ser o responsável pelo desaparecimento de
pessoas e por roubos de bebês. Essas crianças eram filhos de
desaparecidos, e nasceram em cativeiro ou foram sequestradas enquanto
estavam com os pais e entregues para adoção, muitas vezes a famílias
ligadas ao regime.
Cerca de 30 mil pessoas desapareceram na ditadura argentina, segundo
organizações de direitos humanos. Até os últimos dias de vida, Videla
defendeu a atuação dos militares na ditadura. Para ele, a "guerra suja"
era necessária contra a guerrilha armada. O ex-ditador nunca informou o
paradeiro dos corpos dos desaparecidos nem dos bebês sequestrados.
"Clarín" chama ex-ditador de "ideólogo do terror"
SÃO PAULO, SP, 17 de maio (Folhapress) - O jornal
argentino "Clarín" afirma na manchete de seu site, hoje, que o
ex-ditador Jorge Rafael Videla, morto nesta madrugada, foi o "ideólogo do
terror da pior ditadura da Argentina".
Traz também um texto no qual Nora Cortiñas, do grupo
Mães da Praça de Maio, afirma que não festeja a morte, mas lamenta o fato de
"irem com ele os segredos mais importantes da história".
O "Clarín" ainda relembra que, em março
passado, na prisão Marcos Paz, Videla fez uma última provocação, ao convocar os
ex-colegas das Forças Armadas "com 58 a 68 anos que ainda estejam em
condições de combater" para se armar enfrentar a presidente Cristina
Kirchner.
Essa declaração, como relembra o também argentino
"La Nación", foi feita na última entrevista do ex-ditador, à revista
espanhola "Cambio 16".
Logo após a publicação, Videla negou a autoria. Em sua
homepage, o "La Nación" chama Videla de "símbolo da ditadura
militar" e destaca a fala do Nobel da Paz Pérez Esquivel, segundo quem a
morte do ex-ditador "não deve alegrar ninguém".
O site do jornal "Página 12" não destaca a
morte de Videla, e sim um encontro ocorrido na quarta-feira entre o
ex-presidente Lula e Kirchner.
Em seu texto, a publicação diz que Videla foi o
responsável pela "etapa mais negra da história da Argentina" por ter
"posto em prática um plano genocida sistemático que envolvia sequestros,
saques e desaparecimento de pessoas", além de manter uma "política
econômica neoliberal que foi o pontapé de um dos processos de esvaziamento e entrega
aos capitais estrangeiros mais difíceis para a sociedade argentina".
"A luta dos organismos de direitos humanos que
reclamam a memória, a verdade e a justiça pelos 30 mil desaparecidos e os netos
que ainda não foram recuperados continua", afirma o "Página 12".
O portal "infobae" destaca que o ex-ditador
"cumpria prisão perpétua e 50 anos de condenação em uma prisão comum pelo
sequestro sistemático de bebês nascidos em cativeiro" e que ele
"nunca se arrependeu" dos crimes. Já o "Crónica" considera
Videla "a sinistra imagem de uma época violenta e sangrenta".
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