Bernardo teria recebido um elogio da presidenta
Dilma por colocar o marco regulatório da mídia
na geladeira
Enquanto o Palácio do Planalto esfria o projeto do ex-ministro Franklin Martins, sobre os marcos regulatórios da mídia,
uma outra iniciativa, que visa reduzir o poderio de fogo dos grandes
grupos de comunicação, dorme no Congresso no gabinete do deputado
Antonio Imbassahy, ligado à extrema-direita no país, de onde tende a
sair com uma negativa para o plenário da Comissão de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara. Trata-se de um
projeto de lei do deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), líder da bancada
do PR na Câmara dos Deputados e candidato ao governo do Rio de Janeiro
em 2014.
Perseguido pela Rede Globo de TV, ainda durante seu último
período de governo – o que o levou a promover uma greve de fome –,
Garotinho apresentou o projeto de lei 5061, que acaba com um dos
sustentáculos financeiros da grande imprensa brasileira, ao eliminar a
obrigatoriedade para que empresas publiquem seus balanços em jornais
impressos regionais e de circulação nacional.
– O certo é que as empresas publiquem seus balanços na internet e
comuniquem seus acionistas – disse a jornalistas o parlamentar
fluminense.
Para o deputado, não faz sentido garantir um subsídio à imprensa
brasileira, por meio de uma lei que onera o setor produtivo e também
causa danos ambientais. O projeto de lei prevê que as empresas tenham
apenas que comunicar seus investidores, no prazo de 72 horas, e publicar
seus balanços em suas próprias páginas na internet. Se a lei vier a ser
aprovada, a publicação mais afetada será o jornal Valor Econômico, uma parceria comercial entre os grupos Folha, de Otávio Frias Filho, e Globo, de João Roberto Marinho, onde a publicação de um balanço chega a custar R$ 800 mil.
– Não tenho medo de retaliação. Vão me atacar porque apresentei um
projeto que é bom para o Brasil? – questionou, em recente entrevista ao
sítio 247.
Ele disse, ainda, que seu projeto aumenta o corpo mínimo de leitura,
para que todos possam, efetivamente, ler as demonstrações financeiras.
– O subsídio é tão escandaloso, que as empresas hoje publicam os
balanços com corpo seis, para não serem ainda mais oneradas – repara.
A medida proposta pelo parlamentar do PR segue em linha com a Lei de
Meios proposta pelo Partido dos Trabalhadores (PT), mas ninguém no
Diretório Nacional estava disponível para falar sobre o assunto, ao ser
procurado pelo Correio do Brasil. Ninguém também para comentar sobre a
coluna da jornalista Dora Kramer, do diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo,
que coloca uma pá de cal sobre assunto, após reproduzir um elogio da
presidenta Dilma Rousseff ao seu ministro das Comunicações, Paulo
Bernardo, por colocar a pauta na geladeira.
“Controle social”
Embora o PT seja favorável à regulação da mídia, o assunto é
tratado de forma difusa na agremiação, devido à falta de entendimento
entre o partido no governo e o governo apoiado por este partido. Segundo
Kramer, colunista do Estadão, jornal que estaria prestes a
encerrar sua edição impressa pela absoluta falta de compradores dos
exemplares vendidos nas bancas e de assinantes para a versão em papel,
que chega desatualizada às residências dos leitores, “o PT anunciou o
lançamento de campanhas para recolher assinaturas em apoio a duas
emendas constitucionais: uma para instituir o financiamento público
eleitoral e outra para ver se consegue criar alguma forma de controle
estatal sobre o conteúdo produzido pelos meios de comunicação”. Ela
deixa transparecer, no texto, que o Estado estaria interessado em
controlar o “conteúdo produzido” pela mídia conservadora quando, na
realidade, o objetivo do projeto de lei encaminhado por Franklin Martins
visa o fim do cartel midiático em curso no país. Ou seja, desvia o foco para que seus leitores acreditem em um equívoco.
Ainda segundo Kramer, “o partido (PT) já percebeu que ambos os
debates são perdidos na sociedade e, assim, não pode contar com ajuda do
Planalto nem com apoio dos partidos aliados no Parlamento. Campo onde
há interesses conflitantes não é seara em que governos gostem de
transitar”.
A cronista repisa, ainda, a insistência do PT em “não deixar a
questão do controle da imprensa sair da pauta em contraposição à decisão
do governo deixá-lo dormir em berço esplêndido. No meio disso, há a
necessidade incontestável de se regulamentar artigos da Constituição de
1988 sobre o funcionamento dos veículos comunicação, além da premência
de se organizar legalmente os meios que se disseminaram de lá (quando,
por exemplo, não existia internet) para cá”.
E revela que a presidenta Dilma Rousseff a esse respeito, rasgou um
elogio ao ministro das Comunicações Paulo Bernardo, ao afirmar que o
assistente estava “conduzindo muito bem o assunto” quando recentemente
concordou com a necessidade de se debater o chamado marco regulatório,
mas acrescentou que isso seria feito no “momento adequado”.
“Como o governo não vislumbra essa adequação no horizonte, a
presidente quis dizer ao ministro que a coisa é para ficar assim mesmo,
em banho-maria. Até quando? Sabe-se lá”, concluiu.
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