SUPERINTENDENTE DO
IPHAN É DENUNCIADO PF POR PERMITIR CONSTRUÇÕES NA ORLA
A discussão sobre o uso de transcons
na orla de Salvador pode não ser apenas um problema municipal. A Polícia
Federal investiga denúncia contra o superintendente do escritório regional do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Carlos Amorim,
acusado por entidades civis de negligência na função de proteger os bens
históricos do Estado e permitir obras em área tombada por lei federal.
Atualmente, pelo menos 18
empreendimentos imobiliários têm licença para construção no trecho de 10
quilômetros entre a Praia de Chega Nego, em Armação, e o coqueiral de Piatã,
correspondente ao Processo de Tombamento 464-T-52 e área de proteção rigorosa
do município de Salvador (Lei nº 3.289/83). Nesse mesmo local e com a
justificativa de tombamento, a Prefeitura Municipal de Salvador tem
impedido a colocação de barracas e toldos.
“Carlos Amorim libera obras com
base nas poligonais que o Iphan da Bahia propôs, mas que não foram ratificadas
pelo Conselho Federal e nem homologadas pela presidência do Iphan nacional”,
afirma o arquiteto Carl Hauenschild, do Instituto dos Arquitetos da Bahia
(IAB), entidade-membro do Fórum A Cidade também é Nossa, que assina ação civil
pública que questiona na Justiça Federal 48 artigos do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU). “As barracas, ao contrário dos
espigões, não obstruem a paisagem, que é, de fato, o bem tombado pela União.
Não tem sentido proibir barracas e liberar espigões no entorno”, diz Carl, ressaltando
que os questionamentos acerca de transcons não são recentes. “A ação civil
pública, desde 2007, fala do uso de transcons. Mas, em relação à área tombada
da borda marítima de Salvador, é preciso discutir as construções, que não
deveriam estar ali”, completa o arquiteto.
“Enquanto se discutem os trâmites
legais para construções na orla, elas acontecem, num processo irreversível. A
estratégia já deu certo na Paralela, na demolição da Fonte Nova e tem tudo para
dar certo nas praias tombadas”, diz o arquiteto, que considera os empresários
da construção civil os grandes beneficiados nesse processo.
Custos - “A orla de Salvador é o mais cobiçado ‘filão’ do setor imobiliário. A vista para o mar vale ouro para os empresários”, disse Carl, que responsabiliza o Iphan e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente (Sedham) pelos supostos danos causados ao patrimônio cultural.
O superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim, não respondeu às perguntas da reportagem, enviadas por e-mail por sugestão da sua assessoria, mas documentos comprovam que a justificativa para a não-definição das poligonais da área são a complexidade e os custos dos estudos que demanda.
O limite proposto pelo Iphan para o tombamento vai da faixa contínua da Avenida Octávio Mangabeira até 500 metros mar adentro. “Para o entorno, o Iphan adota regras do PDDU que a Justiça Federal suspendeu por entender necessária a definição desses limites pelo próprio Iphan”, diz o arquiteto.
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