Dilma Rousseff não responde a torturador-chefe do DOI-Codi
Brilhante Ustra foi desmentido quando afirmou que não
havia tortura e assassinatos nas dependências do DOI-Codi,
em São Paulo
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A presidenta Dilma Rousseff informou, neste sábado, que não irá se
pronunciar sobra a acusação feita pelo torturador Carlos Brilhante
Ustra, de que ela teria participado de organizações terroristas durante a
ditadura (1964-1985). A assessoria de imprensa da Presidência da
República comunicou que Dilma não vai emitir nenhuma nota oficial sobre
as declarações de Ustra, que comandou o Destacamento de Operações de
Informações do Centro de Operações de Defesa Interna do 2º Exército em
São Paulo (DOI-Codi-SP), organismo de repressão instalado em São
Paulo. As acusações foram feitas durante um depoimento realizado diante
da Comissão da Verdade, criada pela presidente para investigar os crimes
cometidos durante o regime militar.
O coronel reformado disse, na véspera, em depoimento à Comissão
Nacional da Verdade (CNV), que se não fosse a atuação dos militares, o
comunismo existiria hoje no Brasil.
– Estávamos lutando pela democracia e estávamos lutando contra o
comunismo. Se não fosse a nossa luta, se não tivéssemos lutado, eu não
estaria aqui porque eu já teria ido para o paredón. Os senhores
teriam um regime comunista, um regime como o de Fidel Castro. O Brasil
teria virado um ‘Cubão’ [em referência a Cuba] – afirmou o militar
acusado de tortura e assassinato de presos políticos nos porões do DOI-Codi.
Ustra também citou a presidenta Dilma em seu depoimento sobre os Anos de Chumbo.
– Ela integrou quatro grupos terroristas que teriam como objetivo
final a implantação de uma ditadura do proletariado, o comunismo.
Derrubar os militares e implantar o comunismo. Isso consta de todas as
organizações – disse o coronel que comandou o DOI-Codi, entre 1970 e
1974.
Durante a ditadura, Dilma integrou as organizações clandestinas
Política Operária (Polop), Comando de Libertação Nacional (Colina) e
Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), dedicadas a
combater a ditadura militar. Condenada por “subversão”, ela passou três
anos presa no presídio Tiradentes, em São Paulo, entre 1970 e 1972.
O coronel compareceu à Comissão da Verdade e, apesar de decisão
judicial que lhe garantia o direito de não se pronunciar durante o
depoimento, Ustra falou aos membros da comissão e negou também que tenha
cometido assassinato, tortura e sequestro. O ex-comandante afirmou
ainda que nenhuma tortura foi cometida dentro das instalações do órgão
de repressão do governo militar.
O militar, processado por crimes contra a vida humana, foi desmentido
no ato. O vereador Gilberto Natalini (PV-SP) esteve presente ao
depoimento de Ustra, quando ele foi questionado sobre se o teria
torturado, em 1972, Ustra respondeu que não tinha nada a dizer e negou o
fato. A negativa foi rebatida por Natalini que interrompeu a fala de
Ustra aos gritos:
– Sou um brasileiro de bem. O senhor é que é terrorista. Eu fui torturado pelo coronel Ustra – acusou.
A claque de apoio ao torturador protestou contra a interrupção do depoimento e o tumulto interrompeu a sessão.
Antes do coronel Ustra, Natalini prestou depoimento a CNV e disse que
“Ustra sempre foi muito presente nas sessões de tortura”. Estudante de
medicina e integrante do centro acadêmico à época, Natalini narrou um episódio no qual o foi colocado por Ustra nu em cima de uma poça d’água com fios de choque atados ao corpo.
– Ele chamou a tropa para que eu fizesse uma sessão de poesia.
Durante horas ele ficou me batendo com uma vara. Outros vinham e me
davam telefone (tapa com as mãos nos ouvidos) e muito eletrochoque –
relata Natalini.
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