O desempenho dos integrantes da Comissão Nacional da Verdade durante o
depoimento do coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, na
sexta-feira, 10, está provocando críticas de ex-presos políticos,
familiares de desaparecidos e organizações de direitos humanos. Na
avaliação desses grupos, a comissão teria deixado o ex-comandante do
DOI-Codi transformar o depoimento público numa espécie de palanque
político, em defesa do período autoritário.“Estou indignado. A comissão
deveria ter se preparado melhor, organizado as regras, para impedir que
um facínora transformasse aquilo num palanque, agredindo a presidente da
República da forma como fez”, diz o ex-deputado Aldo Arantes, da
direção nacional do PC do B.
Preso em 1976, durante operação da ditadura que culminou com o
desmantelamento da direção nacional do partido, Aldo diz que foi
torturado no DOI-Codi, cuja estrutura foi montada e dirigida durante
quatro anos por Ustra. “Ele foi convocado na condição de algoz e tentou
se transformar em herói. A comissão deveria ter evitado.”
O presidente da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, de São
Paulo, deputado Adriano Diogo (PT), também criticou a Comissão Nacional:
“As pessoas selecionadas não estavam preparadas. Ele chamou a
presidente de terrorista e eles não reagiram, não defenderam a
legalidade”.
Luiz Moreira, professor de direito constitucional da Faculdade de
Direito de Contagem e assessor de grupos de direitos humanos, qualificou
como “desastre” o depoimento. “O erro foi deixar a oitiva de Ustra, um
quadro ideológico profundamente ligado às estruturas da ditadura, pender
para o lado de um tribunal de júri.” Para o professor, o papel da
comissão é garantir às vítimas da ditadura e a seus familiares o
esclarecimento dos episódios de que foram vítimas: “Não adianta
jurisdicizar o debate, porque as ações da comissão não têm consequências
jurídicas. O que está em questão é o direito à verdade. O depoimento
deveria ter tido um tratamento mais técnico e político”.
Dezenas de ex-presos políticos afirmam ter sido torturados no
DOI-Codi do 2.º Exército, em São Paulo, quando Ustra comandava a
instituição. Ele é hoje uma das figuras mais visadas por ações no
Judiciário que envolvem o período ditatorial. Está enfrentando três
ações penais, movidas pelo Ministério Público Federal, que buscam sua
responsabilização em caso de desaparecidos políticos. Em São Paulo, já
foi reconhecido na Justiça como torturador.
Positivo
O cientista político Manoel Moraes, membro da Comissão da Verdade de
Pernambuco, considera positiva a presença do coronel perante a Comissão
Nacional: “Os inquiridores estavam bem preparados. A melhor indicação
disso foi o fato de que Ustra começou a falar e a ficar nervoso, quando
tinha o direito de silenciar. Percebeu que a comissão tinha munição”.
Quanto aos argumentos de Ustra, observa: “A busca da verdade não pode
anular o direito do inquirido de se manifestar. O que ouvimos foram
manifestações de alguém preso a uma visão totalitária e superada. Seus
argumentos eram tão frágeis que começou a gritar”. As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
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